terça-feira, 9 de outubro de 2012

Desconstrução!

Às vezes olho pra vida nossa e consigo claramente perceber um processo um tanto quanto curioso (pra não incluir já no começo um julgamento de valor):

passamos os primeiros anos da nossa vida ouvindo "verdades", aprendendo as regras do mundo, nos conformando, aprendendo a ouvir, a calar, a aceitar, a questionar só um pouquinho, a introjetar a visão de mundo do mundo, o famozérrimo senso comum.

Aí êntramos na adolescência e uma descarga extratosférica de hormônios nos bagunça as ideias, os quereres e os pensares, e para não sucumbirmos enquanto indivíduos únicos nós mandamos todo o sistema às cucuias. Não conseguimos pôr nada no lugar, mas a vontade é de implodir tudo, só por raiva, só pra descarregar a energia, só pra gritar ao mundo que ele está todo errado. Nem sabemos bem o que está errado, mas está errado e que vá pras cucuias!

Aí os hormônios dão uma trégua e viramos adultos. Muitos voltam ao sossego e ao enquadramento, à corrente confortável do senso comum, repetindo discursos gastos como se fossem suas próprias ideias, e muitos desses são bem felizes.

Mas tem quem em si mantenha um pouco daquela rebeldia, e queira sair dos opostos "concordo com tudoo" x "discordo de tudo". E então essas pessoas olham o mundo de uma outra forma. Querem entender o que fez do mundo o mundo que o mundo é hoje, entender mesmo.

É começa um processo lindo de desconstrução... Se entrar nesse caminho você sentirá o prazer e o medo de ver suas certezas se esfarelando, indo ralo abaixo, e sentirá emoções que variam de um encantamento, um apaixonamento por este mundo, a uma desesperança, um ódio da humanidade que desde que "caiu" do paraíso vem tornando a vida dos outros (que também são humanidade) um inferno.

É bom! E é ruim! Neste caminho várias vezes sentimos uma saudade genuína de nossa ingenuidade, de nossa antiga ignorância, de quando os olhos estavam acostumados à penumbar das certezas do senso comum. Outras vezes sentimos o sangue limpo correr nas veias, a luz entrar, a mente expandir, e flashes quase orgásmicos de compreensão! Quanto mais se sabe, mais se percebe o tanto que ainda não se sabe... e o não saber, às vezes angustiante, muitas vezes é libertador e delicioso.

Eu gosto. É estranho olhar pra um pensamento e ver claramente que ele é um preconceito, e que não deveria estar ali. É estranho olhar pra ciência e ver uma senhorinha já caducando, arrotando certezas rotas e falsas, tentando ainda desesperadamente convencer, manter sua autoridade. É bizarro pensar que antes a certeza vinha dos que se diziam representantes de Deus, depois veio dos "dominadores" da natureza, e o que começa a aparecer agora é a não-certeza. Sim, nada está sendo oferecido pra tampar o buraco. Estamos trocando um certo (que não é certo) por um duvidoso, queda livre sem paraquedas, e é bom. E é ruim.

É ruim, mas eu gosto. Talvez o prazer de ver ruir uma velha certeza seja parecido com o de massagear um hematoma. Dói, mas faz se sentir vivo. Ou talvez seja puro masoquismo mesmo... rs

By the way, viva Judith Butler!
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/70972-genero-e-silencio.shtml

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