segunda-feira, 26 de março de 2012

Músicas! Top 10!

Queria ter preparado antes, mas por absoluta e irrestrita falta de tempo começá-lo-ei meio aos tropeços.

Projeto Letras de Música Top 10,
Categoria "Pé na bunda",
Quesitos "genialidade" e "elegância",
and the Oscar goes to:

"Leve" - Chico Buarque

Não me leve a mal
Me leve à toa pela última vez
A um quiosque, ao planetário
Ao cais do porto, ao paço
O meu coração, meu coração
Meu coração parece que perde um pedaço, mas não
Me leve a sério
Passou este verão
Outros passarão
Eu passo

Não se atire do terraço, não arranque minha cabeça
Da sua cortiça
Não beba muita cachaça, não se esqueça depressa de mim, sim?
Pense que eu cheguei de leve
Machuquei você de leve
E me retirei com pés de lã
Sei que o seu caminho amanhã
Será um caminho bom
Mas não me leve


Não me leve a mal
Me leve apenas para andar por aí
Na lagoa, no cemitério
Na areia, no mormaço
O meu coração, meu coração
Meu coração parece que perde um pedaço, mas não
Me leve a sério
Passou este verão
Outros passarão
Eu passo

Não se atire do terraço, não arranque minha cabeça
Da sua cortiça
Não beba muita cachaça, não se esqueça depressa de mim, sim?
Pense que eu cheguei de leve
Machuquei você de leve
E me retirei com pés de lã
Sei que o seu caminho amanhã
Será tudo de bom
Mas não me leve


O meu coração parece que perde um pedaço, mas não
Me leve a sério
Passou este verão
Outros passarão
Eu passo

sexta-feira, 16 de março de 2012

quarta-feira, 14 de março de 2012

"Salvação"?

Avançando na discussão de ontem, recebi um texto muito bom que ajuda a entender de onde vem o poder da igreja evangélica e do neopentecostalismo.

Seguem trechos do texto, com minhas considerações logo após.

"...
O crescimento dos evangélicos não é um milagre, é resultado de um trabalho incansável de aproximação do povo que tem sido negligenciado por décadas pelas classes mais progressistas brasileiras. Enquanto a esquerda, ainda na oposição política, entre a abertura democrática pós-ditadura e a vitória do primeiro governo popular no Brasil, apenas esbravejava, pastores e missionários evangélicos percorreram cada canto do país, instalaram-se nas regiões periféricas dos grandes centros urbanos, abriram suas portas para os rejeitados e ofereceram, em muitos momentos, não apenas o conforto espiritual, mas soluções materiais para as agruras do presente, por meio de uma rede comunitária de colaboração e apoio. O que teve fome e dificuldade, o desempregado, o doente, o sem-teto: todos eles, de alguma forma, encontraram conforto e solução por meio dos irmãos na fé. Enquanto isso, a esquerda tinha uma linda (e legítima) obsessão: “Fora ALCA!”.

O mapa da religiosidade no Brasil revela nossa incompetência social: os evangélicos e pentecostais são mais numerosos entre mulheres (22,11% delas; homens, 18,25%), pretos, pardos e indígenas (24,86%, 20,85% e 23,84%, respectivamente), entre os menos instruídos (sem instrução ou até três anos de escolaridade: 19,80%; entre quatro e sete anos de instrução: 20,89% e de oito a onze anos: 21,71%) e na região norte do país, onde 26,13% da população declara-se evangélica ou pentecostal. O Acre, esse Estado que muitos acham que não existe, blague infantilmente repetida até mesmo por esclarecidos militantes de esquerda, tem 36,64% de evangélicos e pentecostais. É o Estado mais evangélico do país. Simples: a igreja falou aos corações e mentes daqueles com os quais a esquerda nunca verdadeiramente se importou, a não ser em suas dialéticas discussões revolucionárias de gabinete, universidade e assembleia.

O projeto de poder evangélico não é fortuito. (...) Ele é fruto de uma condição evangélica do país e de uma sistemática ação pela conquista do poder por vias democráticas, capitalizada por uma rede de colaboração financeira de ofertas e dízimos. Só não parece legítimo a quem está do lado de fora da igreja, porque, para cada um dos evangélicos e pentecostais, estar no poder é um direito. Eles não chegaram ao Congresso Nacional e, mais recentemente, ao Poder Executivo nacional por meio de um golpe. Se, por um lado, é lamentável que o uso da máquina governamental pode produzir intolerância e mistificação, por outro, acostumemo-nos, a presença deles ali faz parte da democracia.

[...]

A esquerda nunca dialogou com os evangélicos, nunca lhes apresentou seus planos, nunca lhes explicou sequer o valor que o Estado Laico tem, inclusive como garantia que poderão continuar assim, evangélicos ou como queiram, até o fim dos tempos."
(http://sensho.posterous.com/o-que-a-esquerda-deveria-aprender-com-os-evan)


Nem sei se é um contraponto a tudo que escrevi e li ontem, parece-me mais um olhar complementar. Não é caso de colocarmos "eles" contra "nós", mesmo que, em questões ideológicas, as posições possam ser diametralmente opostas e ferozmente debatidas.

Eu não consigo mais dissociar sociologia e psicologia: o sucesso crescente da Igreja Evangélica existe porque ela abraça os indivíduos, porque ela oferece algo pra sossegar a angústia e a falta que todos trazem na alma (e que alguns de nós conseguem apaziguar com estudos, discussões políticas, esportes radicais, álcool e outras drogas).

Além disso, a religião mais diretiva tem regras (limites) que muitas vezes faltam às pessoas (muitas vezes a socialização na infância é bastante negligente), e que são confortáveis porque tiram parte do incomodo que a liberdade traz: ter de tomar decisões o tempo todo, pensando por si só, é extremamente cansativo e angustiante. A liberdade requer grande responsabilidade, e é muito confortável, pra muita gente, ter alguém que lhe diga o que pode e o que não pode, o que deve e o que não deve (muitas vezes eu gostaria de ter quem decidisse por mim...). Além disso, quem não acha maravilhoso ter o apoio de toda uma comunidade e ter um Deus que esteja concretamente presente (pois a fé faz essa sensação de presença ser real) a seu lado em momentos complicados?

Talvez mais insolúvel que o problema do ovo e da galinha seja "descobrir" se Deus criou o homem ou se o homem criou Deus, ou ainda qual dos dois precisa mais da existência do outro...

As elites pensantes falham ao excluir os menos instruídos dos debates políticos. Eles sempre foram excluídos, usados como "massa de manobra" por direitas e esquerdas, mesmo que bem intencionadas, mas agora existe quem os ouça, e quem tem voz tem poder.

Só não sei como o Estado laico, ou partidos laicos, podem "salvar" essas almas (se é que elas estão "perdidas").

Na verdade não me incomoda nem um pouco todo o conforto e senso de pertencimento que a Igreja traz a essas pessoas convertidas.

O que incomoda e traz indignação, por seu potencial causador de dor e sofrimento, é a intolerância à diferença, é o se ver como mais certo e mais especial, o que sabe como "salvar" os outros, e se achar no direito de impor suas ideias ao resto do mundo. O que é intolerável é o convite ao ódio, à rejeição do diferente, a luta explícita contra a liberdade de pensamento e crença que sejam diferentes dos próprios pensamentos e crenças.

terça-feira, 13 de março de 2012

É tão bizarro que parece mentira.

2012.
Calendário gregoriano, promulgado por um Papa e utilizado por praticamente todo mundo (o que facilita bastante a comunicação).
Além disso a contagem do tempo que utilizamos o divide em duas eras: antes de Cristo e depois de Cristo. Cristo, Jesus, que como nos contam tentou insistentemente trazer ao mundo uma mensagem de tolerância, amor ao próximo, bondade.

A Igreja, poderosa, se dizendo cristã, fez um monte de coisa errada e má. Ninguém nega. Se colocou como intermediária entre nós, os humanos, e Deus, se dizendo mais próxima Dele do que de nós, e saiu pregando um monte de preconceitos e intolerâncias.

Os anos passaram, a igreja católica perdeu parte de seu poder e seu status, o ocidente conheceu outras religiões, a ciência evoluiu, o capitalismo evoluiu, o mundo mudou e tal, e hoje uma religião está conquistando a cada dia mais espaço: a igreja evangélica.

Procurei no google, a busca por "igreja evangélica" traz 4.150.000 resultados. Não sei se alguém saberia dizer quantas igrejas desse tipo existem hoje só no Brasil, mas são milhares, com certeza. Não são todas iguais, e eu não sou uma conhecedora de religião, então o que me faz hoje parar pra escrever é um fato particular.

O espaço que os evangélicos estão conquistando extrapola o espaço da igreja (igreja como local onde os fiéis se encontram para orar ou outras atividades relacionadas à religião). Os evangélicos têm canais de TV, e um deles é de grande ibope. Os evangélicos têm muito dinheiro, oriundo da fé de milhões de fiéis seguidores. Muito dinheiro = muito poder, e os evangélicos têm uma bancada no Congresso. É aqui que a jiripoca pia...

A bancada evangélica do Congresso, munida de seu poder e de seus preconceitos e intolerâncias,
"apresentou duas proposições legislativas cujo objetivo é legitimar o procedimento intitulado de “cura gay”. Trata-se, em resumo, de permitir que psicólogos possam oferecer aos seus pacientes a possibilidade de transformação de personalidade que os faça heterossexuais. A prática, obviamente, é vedada pelo Conselho Federal de Psicologia (http://institutoalvorada.org/a-cura-gay-no-congresso)".

Cura gay. Como se algum relacionamento consentido e saudável entre dois indivíduos adultos pudesse ser considerado doença. Pois é, não pode. Há anos o homossexualismo deixou de ser considerado uma parafilia (perversão sexual, tal como pedofilia, sadomasoquismo, fetichismo). Não é doença, e não precisa ser curado. Não é doença, não é anormalidade (mesmo que seja incomum, uma não-normalidade estatística), não significa inferioridade em relação aos heterossexuais. Mas preconteito significa inferioridade moral.

Colo abaixo trechos de um post do site focandoanoticia.com.br sobre o assunto:

"...
Cumprindo as suas atribuições, o Conselho Federal de Psicologia, por meio da resolução 01/99, regulamenta a atuação dos psicólogos com relação à questão da orientação sexual.

Considerando que as homossexualidades não constituem doença, distúrbio ou perversão (compreensão similar à da Organização Mundial da Saúde, da Associação Americana de Psiquiatria e do Conselho Federal de Medicina), a resolução proíbe que o psicólogo proponha seu tratamento e cura.

[...]

Vale ressaltar que, a partir da resolução brasileira, a Associação Americana de Psicologia formou um grupo específico para elaborar documentos de referência para norte-americanos e canadenses, reafirmando posteriormente a inexistência de evidências a respeito da possibilidade de se alterar orientações sexuais por meio de psicoterapia.

A discussão sobre a patologização da homossexualidade é comumente atravessada por questões religiosas, já que certas práticas sexuais são vistas também como imorais e contrárias a determinadas crenças.

Entretanto, há que se reafirmar a laicidade da psicologia, bem como de nosso Estado. Isso significa que crenças religiosas – que dizem respeito à esfera privada das pessoas – não podem interferir no exercício profissional dos psicólogos, nem na política brasileira.

Nesse sentido, ao associar o atendimento à pretensa cura de algo que não é doença, entende-se que o psicólogo contribui para o fomento de preconceitos e para a exclusão de uma parcela significativa de nossa população.

Considerando que a experiência homossexual pode causar algum sofrimento psíquico, o psicólogo deve reconhecer que ele é decorrente, sobretudo, do preconceito e da discriminação com aqueles cujas práticas sexuais diferem da norma estabelecida socioculturalmente.

O atendimento psicológico, portanto, deve, em vez de propor a “cura”, explorar possibilidades que permitam ao usuário acessar a realidade da sua orientação sexual, a fim de refletir sobre os efeitos de sua condição e de suas escolhas, para que possa viver sua sexualidade de maneira satisfatória e digna.

* Carla Biancha Angelucci é presidente do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo

* Humberto Verona é presidente do Conselho Federal de Psicologia
(http://www.focandoanoticia.com.br/2012/03/05/conselho-de-psicologia-rebate-bancada-evangelica-sobre-homossexuais-e-diz-que-nao-cabe-cura-para-quem-nao-esta-doente/)"


Como estudante de psicologia eu fico indignada com esse retrocesso moral sendo proposto em nosso centro político. Muito mais bem faríamos à nossa sociedade se pudéssemos tratar as pessoas preconceituosas, mas infelizmente acho que ainda estamos longe disso. As pessoas buscam tratamento quando estão em sofrimento psíquico, quando suas emoções estão em conflito com sua visão de mundo, e os preconceituosos hoje ainda são numerosos demais pra que esse modo absurdo de pensar traga sofrimento a eles mesmos. Vão ainda por um bom tempo causar sofrimento a outros, a pessoas que têm de, dia após dia, lutar pelo direito de simplesmente poderem ser quem são.

Se uma crença ou modo de pensar é bom pra você e não faz mal a ninguém, continue com ele. Mas por favor, não pense que Deus te escolheu pra julgar os outros. Somos todos igualmente especiais e insignificantes, tendo de viver e conviver no mesmo barco...

segunda-feira, 12 de março de 2012

Neuras.

Anos de terapia, vários progressos visíveis, uma "eu" bem mais feliz e confortável na própria pele e na própria vida, mas algumas neuroses continuam tal e qual.

Uma delas é que fico incomodada quando alguém fala mal de algo que gosto.

Pra começar, eu gosto de muita coisa, e costumo desenvolver um laço meio afetivo com qualquer coisa que me cerca (na verdade, com as coisas que me cercam e que eu gosto). Costumo ainda tentar gostar de tudo que me cerca, e consigo me empolgar com coisas mínimas. Assim, se eu estou em algum lugar, ou tenho alguma coisa específica, provavelmente eu gosto del@. Por exemplo, eu tenho um Ka. Gosto de carro pequeno e acho ele lindo e fofo. Aí vem alguém que eu acho legal e fala que o Ka é horrível e que não presta.

É suficiente pra me dar um trem ruim. Difícil descrever o que é. Eu logo começo a achar que a pessoa não é tão legal quanto eu imaginava. Também fico com raiva dela. E também fico insegura de pensar que talvez ela esteja certa e eu tenha mal gosto. E aí falo pra mim mesma que não tem certo e errado, gosto é gosto, e fulan@ tem todo direito de não concordar comigo. Mas o sentimento ruim continua me roendo por mais um bom tempo...

Essa sensação desagradável é ainda mais forte quando o "objeto" em questão (que eu gosto e do qual se fala mal) é uma pessoa ou um grupo de pessoas por quem tenho amizade ou admiração. As pessoas que estão a falar mal imediatamente despencam em meu conceito. Aconteceu hoje... Duas colegas que hoje trabalham onde eu trabalhava disseram que não suportam trabalhar ali. Penso no "ali" - fiquei 5 anos lá, entre tapas e beijos desenvolvi uma relação excelente com 90% das pessoas do setor e do departamento, e fiquei com raiva delas. Pensei que estar no serviço público não é presente de mãe, e sim um privilégio, e quem te "contrata" te coloca onde precisa de gente, e que me incomoda alguns servidores públicos que se acham especiais demais pra trabalharem em algo que não lhes é divertido. Fiquei meio indignada. Acho que aumentou a minha indignação o sarcasmo delas. Senti como se presenciasse uma traição àquele lugar e àquelas pessoas que me acolheram tão bem.

Se elas não têm direito de estarem insatisfeitas e quererem sair de lá? Claro que têm. Racionalmente sou capaz de isolar as coisas e compreender que estão em seu direito (pelo menos em grande parte), mas o que derramo com essas centenas de letrinhas é a minha sensação ruim, oriunda da minha neura, que é minha. E é ambíguo, já sei, todo esse nó que me dá. Parte grande do meu incomodo, reconheço, é por me sentir imediatamente associada (uma vez que gosto) a coisas que as pessoas (algumas) desgostam, e é como se isso diminuísse meu valor.

Se você não tem esse tipo de neura com certeza não vai encontrar nenhuma lógica em tudo isso. Bom pra você.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Pra quem se fez mulher.

"Não se nasce mulher, torna-se mulher" – Simone de Beauvoir

Então hoje é o Dia Internacional das Mulheres. Mulheres essas que, como dizia John Lennon, são "the Nigger of the World".

Nosso dia, um dia para nos parabenizarem por sermos mulheres, com todos os ônus e bônus que tal modo de existência tem. Dia de comemorações, reivindicações, exposições, debates. Mulheres em foco. E o que é uma mulher, afinal?

Concordo com Simone de Beauvoir, mulher não é quem nasce com órgão genital do sexo feminino.
Mulher é muito mais.
Mulher é aquele pacote de expectativas e qualidades (e defeitos) que cada sociedade coloca associada à palavra mulher. É o olhar carinhoso que nos incentivaram a ter, a fala meiga que nos elogiavam, o cuidado, a delicadeza que não foi reforçada nos homens, mas em nós sim.
Mulher é alguém de quem se espera que faça tudo ao mesmo tempo, agora e depois, com um sorriso colorido de batom nos lábios. Que não extravasa sua raiva de forma agressiva (ou melhor ainda, que nem devia sentir raiva...). Mulher é pra estar cheirosa, bonita, cabelo esteticamente preparado (muda cor, tamanho, formato, textura, volume, cheiro...), roupas que enfeitem, que mostrem ou insinuem ou escondam o corpo que deve ser macio, cheiroso, bonito, com poucos pelos, unhas pintadas, de preferência um sapato de salto alto, que "melhora a postura".
Mulher é objeto de desejo, querendo ou não (será que são mais felizes as que se sentem bem no papel de OBJETO de desejo? Porque mesmo quem não se sente bem não tem muito por onde escapar, tá no pacote de ser mulher na nossa sociedade hoje).
Mulher é pra ser força suave, brabeza meiga, organização e limpeza, colo e abraço e balé.

E dá um trabalho danado se fazer mulher assim. E dá um trabalho danado querer ser uma mulher diferente disso. E é lindo quando um ser humano que nasce com órgão genital masculino percebe que tem alma de mulher e encara a batalha de se fazer mulher também, nesse mundo que fica perplexo em alguém desistir "voluntariamente" de ser homem pra se tornar 'the nigger of the world' assim. São mulheres tão mulheres como nós. Como são mulheres as mulheres que gostam de mulheres, e qualquer pessoa que encare o desafio diário de sofrer na pele a parte de falta da igualdade pela qual lutamos, luta comemorada no dia 8 de março, hoje.

Essa é uma das minhas lutas, eu mulher.

Quiçá um dia alcancemos a real igualdade. Salários iguais para cargos iguais, fim do medo de andar sozinha a noite e ser devorada por um lobo mau como um indefeso cordeirinho, fim das agressões físicas e verbais de homens que se sentem donos desses objetos de desejo, fim do "você não pode porque é mulher" e dos "isso você deve fazer, porque você é mulher". Fim das mutilações genitais, da poligamia unilateral, do jogar pedra na Geni, do puxão de cabelo nas micarês da vida, dos braços quebrados nas boates da vida, fim das mãos indesejadas na bunda, fim das cantadas grosseiras e humilhantes.

Quem sabe, né, se um dia o mundo se ajeita assim talvez até Deus se empolgue e resolva nos livrar das cólicas, TPMs e enxaquecas...

Feliz dia das mulheres para todas as mulheres do mundo, as que são, as que deviam ser, as que se tornaram, as que querem ser e as que ainda serão!

quarta-feira, 7 de março de 2012

Observações (com um outro olhar) num sábado de sol (*)

Este sábado de manhã fui levar minhas gatinhas balofas para tomar vacina. Enquanto tomava o chá de cadeira normal das salas de espera de médicos (que abarca também os veterinários) fiquei observando as pessoas e seus cãezinhos.

Havia um Golden Retriever (aquele sósia peludo do labrador) enorme e medroso. Ele entrou em pânico quando o dono (que também era grande e tinha cara de medroso) levantou pra pegar água, a dois passos de onde estavam. O gigante tremia e chorava como se o houvessem abandonado numa tempestade, sem pai nem mãe nem teto. Foi só o moço voltar os dois passos e sentar que o fofão se acalmou e cochilou.

Havia uma mulher super impaciente, porque tinha compromisso e a cadelinha dela só precisava tomar uma injeção, não era pra ficar quase 1 hora esperando...

Havia um casal bem jovenzinho, os dois muito bonitos, com uma filhote de dachshund (se fala dãxiraund) muito serelepe, todos felizes e saltitantes.

E havia uma família. A família era a mãe, com cara de chicleteira (chiiiicleeeeteeeeee, oba, oba!), o pai, com cara de chato, e um menino com uns 5 ou 6 anos. E o cachorro, um da "marca" iG, com o pelo podado, parecia o cãozinho da Doroty (Mágico de Oz). Assim que chegaram já senti um incomodo. O cão, ainda uma criança, estava sem coleira. Acho um absurdo dos mais ignorantes e descabidos deixar um cachorro sem coleira, ainda mais um filhote. Toda criança tem a mania de sair correndo desgovernada e sempre vem um carro... Mas ok, nada aconteceu com o cão. Fiquei observando a família. A mãe foi pra petshop comprar badulaques, o pai ficava brincando e adulando o cão e o menino, esquecido, foi olhar os filhotinhos de gato que estavam pra doação. A mãe voltou, o pai foi tirar dinheiro, o filho chamou a mãe pra ver os gatos e levou uma bronca: "Você quer que eu cuide do cachorro ou que eu vá ver os gatos? Não posso fazer as duas coisas!". Não entendi o argumento dela, pois o cachorro não pesava nem 3 kg, ela poderia levá-lo no colo. O menininho então pegou um dos filhotinhos de gato e ficou com ele no colo. O pai voltou, ele mostrou o gato, disse que queria levá-lo, e o pai disse que o gato era a coisa mais feia que ele já tinha visto (nem preciso dizer que minha vontade foi falar "feio é você! Não sabe que não existe gato feio?", mas me controlei e fiquei quieta)... O menino me parecia tão abandonado... Meu coração ficou partido. Os pais só prestavam atenção no cachorro. O menino trocou o gatim, que era todo preto, por outro filhotinho cinza... ele fez o gatinho dormir no colo dele e a cena partiu ainda mais meu coração... o menino olhava pro gatinho e fazia carinho nele como se os dois não tivessem mais ninguém no mundo. O garotinho queria proteger o gato de toda a solidão que ele, menino, sentia, e ao mesmo tempo queria alguém pra compartilhar aquele vazio com ele. E os pais nem enxergavam os dois. Os pais só prestavam atenção no cão...

Fui embora antes de atenderem o cachorro deles, mas tenho certeza de que os pais não quiseram adotar o gatinho. Antes de ir embora ouvi o moço da clínica dizendo pro menino que pra levar o gato tinha que deixar o cachorro (provavelmente repetindo algo que os pais falaram enquanto eu estava no consultório acalmando minhas meninas). Senti ainda mais raiva dos pais, da cegueira e insensibilidade deles, fazendo esse tipo de chantagem. A carinha do menino era de quem prefiria o gato, porque o cachorro era seu inimigo, era o filho preferido dos pais. Talvez o cão tenha sido comprado pra ele, mas logo subiu de importância e não era mais amigo dele, era um competidor por atenção e carinho. Mas o menino, tão fofo, não poderia nunca decepcionar os pais assim, escancarando seu ciúme e a incompetência paterna dos dois, e ele parecia num beco sem saída. Fui embora logo, com o coração partido, sentindo em mim a dor do garotinho, sem querer presenciar o momento em que ele teria de pôr o gatinho de volta dentro da gaiola e voltar pra sua vida de solidão e invisibilidade...

(*) Sei que entre os fatos e minha descrição deles há toda uma interpretação, que é minha, com meu olhar de hoje, cada vez mais infectado pela psicologia que me entra pelos olhos e ouvidos. O momento (como todo momento) era um recorte, e não posso afirmar que o menino realmente não recebe atenção e amor suficiente dos pais (mesmo que o olhar triste dele me tenha feito sentir isso). Não posso afirmar que o que vi é a realidade, mas é o que eu vi... nem todo mundo tem capacidade de ser pai e mãe...

Aniversário da pandemia!

  Brasil. Pandemia. Vai fazer um ano... um ano de isolamento. Um ano de crianças sem escola, um ano de homeoffice . Um ano agradecendo que n...