quarta-feira, 7 de março de 2012

Observações (com um outro olhar) num sábado de sol (*)

Este sábado de manhã fui levar minhas gatinhas balofas para tomar vacina. Enquanto tomava o chá de cadeira normal das salas de espera de médicos (que abarca também os veterinários) fiquei observando as pessoas e seus cãezinhos.

Havia um Golden Retriever (aquele sósia peludo do labrador) enorme e medroso. Ele entrou em pânico quando o dono (que também era grande e tinha cara de medroso) levantou pra pegar água, a dois passos de onde estavam. O gigante tremia e chorava como se o houvessem abandonado numa tempestade, sem pai nem mãe nem teto. Foi só o moço voltar os dois passos e sentar que o fofão se acalmou e cochilou.

Havia uma mulher super impaciente, porque tinha compromisso e a cadelinha dela só precisava tomar uma injeção, não era pra ficar quase 1 hora esperando...

Havia um casal bem jovenzinho, os dois muito bonitos, com uma filhote de dachshund (se fala dãxiraund) muito serelepe, todos felizes e saltitantes.

E havia uma família. A família era a mãe, com cara de chicleteira (chiiiicleeeeteeeeee, oba, oba!), o pai, com cara de chato, e um menino com uns 5 ou 6 anos. E o cachorro, um da "marca" iG, com o pelo podado, parecia o cãozinho da Doroty (Mágico de Oz). Assim que chegaram já senti um incomodo. O cão, ainda uma criança, estava sem coleira. Acho um absurdo dos mais ignorantes e descabidos deixar um cachorro sem coleira, ainda mais um filhote. Toda criança tem a mania de sair correndo desgovernada e sempre vem um carro... Mas ok, nada aconteceu com o cão. Fiquei observando a família. A mãe foi pra petshop comprar badulaques, o pai ficava brincando e adulando o cão e o menino, esquecido, foi olhar os filhotinhos de gato que estavam pra doação. A mãe voltou, o pai foi tirar dinheiro, o filho chamou a mãe pra ver os gatos e levou uma bronca: "Você quer que eu cuide do cachorro ou que eu vá ver os gatos? Não posso fazer as duas coisas!". Não entendi o argumento dela, pois o cachorro não pesava nem 3 kg, ela poderia levá-lo no colo. O menininho então pegou um dos filhotinhos de gato e ficou com ele no colo. O pai voltou, ele mostrou o gato, disse que queria levá-lo, e o pai disse que o gato era a coisa mais feia que ele já tinha visto (nem preciso dizer que minha vontade foi falar "feio é você! Não sabe que não existe gato feio?", mas me controlei e fiquei quieta)... O menino me parecia tão abandonado... Meu coração ficou partido. Os pais só prestavam atenção no cachorro. O menino trocou o gatim, que era todo preto, por outro filhotinho cinza... ele fez o gatinho dormir no colo dele e a cena partiu ainda mais meu coração... o menino olhava pro gatinho e fazia carinho nele como se os dois não tivessem mais ninguém no mundo. O garotinho queria proteger o gato de toda a solidão que ele, menino, sentia, e ao mesmo tempo queria alguém pra compartilhar aquele vazio com ele. E os pais nem enxergavam os dois. Os pais só prestavam atenção no cão...

Fui embora antes de atenderem o cachorro deles, mas tenho certeza de que os pais não quiseram adotar o gatinho. Antes de ir embora ouvi o moço da clínica dizendo pro menino que pra levar o gato tinha que deixar o cachorro (provavelmente repetindo algo que os pais falaram enquanto eu estava no consultório acalmando minhas meninas). Senti ainda mais raiva dos pais, da cegueira e insensibilidade deles, fazendo esse tipo de chantagem. A carinha do menino era de quem prefiria o gato, porque o cachorro era seu inimigo, era o filho preferido dos pais. Talvez o cão tenha sido comprado pra ele, mas logo subiu de importância e não era mais amigo dele, era um competidor por atenção e carinho. Mas o menino, tão fofo, não poderia nunca decepcionar os pais assim, escancarando seu ciúme e a incompetência paterna dos dois, e ele parecia num beco sem saída. Fui embora logo, com o coração partido, sentindo em mim a dor do garotinho, sem querer presenciar o momento em que ele teria de pôr o gatinho de volta dentro da gaiola e voltar pra sua vida de solidão e invisibilidade...

(*) Sei que entre os fatos e minha descrição deles há toda uma interpretação, que é minha, com meu olhar de hoje, cada vez mais infectado pela psicologia que me entra pelos olhos e ouvidos. O momento (como todo momento) era um recorte, e não posso afirmar que o menino realmente não recebe atenção e amor suficiente dos pais (mesmo que o olhar triste dele me tenha feito sentir isso). Não posso afirmar que o que vi é a realidade, mas é o que eu vi... nem todo mundo tem capacidade de ser pai e mãe...

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