terça-feira, 31 de agosto de 2010

Saudade...

O amor que eu te tenho é um afeto tão novo
Que não deveria se chamar amor
De tão irreconhecível, tão desconhecido
Que não deveria se chamar amor

Poderia se chamar nuvem
Pois muda de formato a cada instante
Poderia se chamar tempo
Porque parece um filme que nunca assisti antes

Poderia se chamar labirinto
Pois sinto que não conseguirei escapulir
Poderia se chamar aurora
Pois vejo um novo dia que está por vir

Poderia se chamar abismo
Pois é certo que ele não tem fim
Poderia se chamar horizonte
Que parece linha reta, mas sei que não é assim

Poderia se chamar primeiro beijo
Porque não lembro mais do meu passado
Poderia se chamar último adeus
Que meu antigo futuro foi abandonado

Poderia se chamar universo
Porque nunca o entenderei por inteiro
Poderia se chamar palavra louca
Que na verdade quer dizer aventureiro

Poderia se chamar silêncio
Porque minha dor é calada e meu desejo é mudo
E poderia simplesmente não se chamar
Para não significar nada e dar sentido a tudo

(Moska, Que não deveria se chamar amor)

Oxi!

Coisas estranhas acontecem...

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

A visita de um velho conhecido...

Não é um amigo. É alguém que eu preferiria não ver mais... visita indesejada, daquelas que chega contando piadas de mau gosto, ocupando o telefone, sujando as coisas, mudando tudo de lugar... Ocupa espaço, ocupa o tempo, meu tempo, me deixa por conta de seus caprichos...

Velho conhecido, desde sempre não é bem vindo, mas continua aparecendo por aqui.

Ele vem, e eu não sou livre... freedom is just another word for "nothing left to lose", como disse Janis Joplin.

E eu tenho a perder. Eu amo. Eu temo.

No "tudo lindo" surge uma pequena sombra, e eu sei: é ele vindo, o MEDO.
Chega me apertando o coração e me trazendo mil cenas de filmes tristes e feios.

Sussurra em meu ouvido que quanto maior a altura, maior a queda (e eu não consigo retrucar).
Sussurra que eu não posso ter certezas (e ele está certo).
Sussurra que estou desprotegida, e que ele pode me proteger (e eu fico confusa...). Sussurra que eu ainda não estou pronta, e que eu ainda vou reviver aquilo que jurei que não aconteceria mais, que ainda tropeçarei nas mesmas pedras, levarei os mesmos tombos, machucarei-me em cima da mesma cicatriz, que ainda sou a mesmíssima criança... boba, ingênua, sonhadora, frágil, carente, sensível.
Me desespera, e eu já não sei mais de nada.

Não tenho argumentos que superem os dele, não consigo colocá-lo pra fora de mim. Ele tem o lote do "é possível", de onde não será nunca desapropriado. Como um vilão que, derrotado no final do desenho, grita "eu voltareeeeeeeeeeeiiiiii!", ele vai pro seu lote e de lá fica bolando planos infalíveis, procurando oportunidades, mapeando pontos fracos...

A ele, velho conhecido, visita indesejada, uma poesia como pedido de trégua:

"Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos,
a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca
e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta:
eles respiravam de antemão o ar que estava à frente,
e ter esta sede era a própria água deles.

Andavam por ruas e ruas falando e rindo,
falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles.
Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam,
e ao toque – a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras –
e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.

Como eles admiravam estarem juntos!

Até que tudo se transformou em não.

Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles.
Então a grande dança dos erros.
O cerimonial das palavras desacertadas.
Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto.
No entanto ele que estava ali.

Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas,
e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam,
sem um sorriso.

Tudo só porque tinham prestado atenção,
só porque não estavam bastante distraídos.
Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram.

Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca,
e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios.

Tudo, tudo por não estarem mais distraídos." Clarice Lispector

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Ao pé da letra - vol. 1

Sobre a palavra "cordância", do verbo "cordar".

Houaiss me disse que não existe...
Google conhece, mas não me explicou o que quer dizer.

Dou então a minha definição, construída pela lógica.
"Cordar" é pensar, no sentido de ter opinião num determinado sentido sobre algum assunto específico.
"Cordância" é o substantivo relacionado a esse pensar, a esse 'ter opinião sobre'.

Aí vem o famoso "o outro", aquele que ao se distinguir de "eu" me mostra que "eu" existe e que somos duas coisas e não uma coisa só, vem esse "outro" que pode ter uma cordândia igual a minha (sua) ou diferente da minha (sua).

Se for igual, ele corda com você, ele concorda. Estão em comunhão, em concordância.

Se diferente, ele não corda com você, ele discorda. Estão em direções opostas, em discordância.

E sempre se pode mudar de idéia.
Eu cordava com você, agora não mais - eu disconcordo.
Eu não cordava com você, e achei mais gente que não corda com você - nós condiscordamos.
Eu não cordava com você, mas agora cordo - eu disdiscordo.

É assim que eu cordo. E você, concorda ou discorda?

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Aquele velho desespero...

A vida, o mundo, as pessoas... vêm cheios de "tenho que" pra cima de nós.

Tenta, você aí, dividir suas atividades (diárias e semanais) em duas listas:
"coisas que TENHO QUE fazer" e "coisas que faço porque quero".

Indubitavelmente, a primeira vai ficar ENORMEMENTE maior. E isso é a vida.

Ultimamente, minha lista de "tenho que" anda tão grande que me volta aquele velho desespero: EU NÃO VOU DAR CONTA!!!

Sou só uma, só eu, e não sou super.
O dia continua tendo as mesmas 24 horas, das quais várias são utilizadas em coisas que não diminuem a lista, como dormir, comer, dirigir...
Eu continuo tendo duas mãos, das quais apenas uma é direita, dois olhos, dois ouvidos, um cérebro e uma boca.

Quando penso em tudo isso, o "mundo" e a vida desse jeito, simplesmente não acho que faça algum sentido...

Aniversário da pandemia!

  Brasil. Pandemia. Vai fazer um ano... um ano de isolamento. Um ano de crianças sem escola, um ano de homeoffice . Um ano agradecendo que n...