quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Ana Maria Braga e abobrinhas

Em minha defesa informo que assisti Ana Maria Braga (Mais Você) hoje porque acordei cedinho e fui pra academia CORRER! Sim, estava na esteira, suando, ouvindo Lenine, e a TV passava a loira com aquelas legendas em baixo (que são bem interessantes, a pessoa que escreve consegue colocar ali uns trem super estapafúrdios que com certeza nunca foram ditos).

Em defesa das abobrinhas, que eu ADORO, digo que não são elas (vegetais) a razão da minha indignação. Não se tratava de uma receita de um apetitoso prato abobrinhático ou algo do tipo.

Dona Braga hoje danou a falar sobre o absuuuuurdo que é esses estrangeiros safados se aprochegarem à nossa nação soberana e roubarem, sorrateiramente, os empregos que deveriam ser nossos ou de nossos filhos, vizinhos e amigos. Que agora que o Brasil zil zil! está melhor das pernas esses aproveitadores de outras nações e de meia tigela vêm pra cá atrapalhar nossa vida promissora, tomando nossos lugares.

Enfim, dona Ana Maria Braga incitava as donas de casa e demais telespectadores a se indignarem com a vinda de estrangeiros pra trabalhar no Brasil, a olharem com raiva para este outro que se mudou de mala e cuia para um país que não fala sua língua, que não tem os seus costumes, que não é sua pátria mãe... que veio pra cá fugindo do desemprego, da fome, da miséria, que veio esperando encontrar um país-tropical-abençoado-por-Deus e bonito por natureza de braços abertos a um irmão em dificuldades. Resumindo, uma apologia à xenofobia.

E eu fiquei brava com as abrobrinhas que falou a Ana Maria Braga. Porque eu acho bonito morar num país que recebe bem o estrangeiro, porque acho que acima de brasileiros ou espanhóis ou uruguaios, somos todos gente. Gente que sofre, que quer ser feliz, que merece um lugar bom no mundo. Se eles sofrem lá, e temos espaço pra eles aqui, pra que ódio? Se eles estão mais qualificados e tiram alguns dos nossos empregos, vamos usar isso como argumento para melhorar a nossa qualificação. Vamos aprender com eles e vamos nos tornar melhores.

A xenofobia é um passo largo para o fim do mundo. É por ódio ao diferente, ao estranho, ao estrangeiro, é por uma proteção exagerada ao próprio gueto, que quase todas as guerras acontecem. Dele brotou o holocausto, dele surgem incêndios crimosos em bairros habitados por africanos ou argelinos na França ou em outro país europeu, dele vem a proibição de se usar burka, dele vem o racismo... sim, mesmo nossos negros trazem na pele a marca de que não são "daqui".

Eu prefiria que a dona Ana Maria Braga se restringisse a fazer reportagens fofas e a dar receitas culinárias. Esse tipo de abobrinha preconceituosa e pequena da parte dela me decepciona e entristece e enraivece. Tenho ódio do ódio, de sua propagação, da propaganda à não aceitação do outro.

O pior de tudo é que a Rede Globo não autorizaria um pronunciamento tão polêmico se não estivesse de acordo. E isso significa, meus queridos, que a maior formadora de opinião do Brasil, o canal mais assistido, que dita modas e gírias e comportamentos E OPINIÕES e etc está incitando a xenofobia. Está dizendo que não devemos aceitar que esses outros seres humanos venham aqui em nossas terras férteis tentar uma vida melhor (não preciso nem falar de quantos brasileiros saíram e ainda saem do Brasil pra tentar uma vida melhor fora daqui, né?). Que devemos odiá-los e mandá-los de volta.

Eu sou contra. Eu estou triste e eu estou brava.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Bourdieu e a opinião pública.

"As problemáticas que são propostas pelas pesquisas de opinião se subordinam a interesses políticos, e isto dirige de maneira muito acentuada o significado das respostas e, ao mesmo tempo, o significado dado à publicação dos resultados. Em seu estado atual, a pesquisa de opinião é um instrumento de ação política; sua função mais importante consiste talvez em impor a ilusão de que existe uma opinião pública que é a soma puramente aditiva de opiniões individuais; em impor a idéia de que existe algo que seria uma coisa assim como a média das opiniões ou a opinião média. A "opinião pública" que se manifesta nas primeiras páginas dos jornais sob a forma de percentagens (60% dos franceses são favoráveis à...), esta opinião pública é um artefato puro e simples cuja função é dissimular que o estado da opinião em um dado momento do tempo é um sistema de forças, de tensões e que não há nada mais inadequado para representar o estado da opinião do que uma percentagem.

Sabemos que todo exercício da força se acompanha de um discurso visando a legitimar a força de quem o exerce; podemos mesmo dizer que é próprio de toda relação de força só ter toda sua força na medida em que se dissimula como tal. Em suma, falando simplesmente, o homem político é aquele que diz: "Deus está conosco". O equivalente atual de "Deus está conosco" é "a opinião pública está conosco". Tal é o efeito fundamental da pesquisa de opinião: constituir a idéia de que existe uma opinião pública unânime, portanto legitimar uma política e reforçar as relações de força que a fundamentam ou a tornam possível.
(...)
Um dos efeitos mais perniciosos da pesquisa de opinião consiste precisamente em colocar pessoas respondendo perguntas que elas não se perguntaram."

* Retirado do Texto "A OPINIÃO PÚBLICA NÃO EXISTE", de Pierre Bourdieu.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Problema com maçãs

Tenho um problema com maçãs.

Eu até acho elas bonitas, cheirosas, práticas, apetitosas e tal, mas não nos damos bem.

Na minha infância eu já não me dava muito bem com elas. Meus dentinhos pequeninos e separados não protegiam devidamente minha gengiva, e várias vezes eu sangrava comendo maçã.

Na adolescência li que uma maçã por dia era a fórmula da saúde, e várias vezes danifiquei meu aparelho dentário pra não pegar resfriado.

Aí então algo ainda pior passou a acontecer... a maçã começou a me dar fome.

Eu estou bem, sem fome, como uma maçã, acaba a maçã e cinco minutos depois um buraco negro se formou no meu estômago. É uma fome enlouquecedora, daquelas que chega dói!! Desespero! E não adianta mudar da maça vermelha pra verde, a fome louca que me dá é da mesma cor.

Vi em vários lugares que a maçã sacia e ajuda a emagrecer, mas não sei como, não deve funcionar comigo. Preciso comer algo logo depois dela pra tirar a fome que antes dela nem havia.

Pensando que talvez eu seja uma alienígena, vou procurar no google "maçã dá fome", e para meu alívio e sensação de normalidade eu lá encontro um site com uma explicação!!!
Várias pessoas sofrem disso!!!

“Ela possui uma substancia chamada acido málico. Esse ácido é capaz de estimular a fome no nosso cérebro. Então quando a gente come uma maçã é verdade que a gente sente fome imediatamente”.

Então tá explicado.

nightmare night

Pesadelos.

Sonhei que um ladrão invadia minha vasa. Eu estava no quarto, acordava com o barulho. Consegui trancar a porta do quarto, sair pela janela me pendurando na rede de proteção, e de lá debaixo eu procurava a polícia...

Depois sonhei que ia a um restaurante onde o prato mais barato custava mais de mil reais. Eu disse que me recusava a comer ali, mas todos começaram a pedir pratos, e eu saí de lá indignada.

Dormi mal, mas nada foi pior do que a enxaqueca, real, que moia meu cérebro por dentro ao me deitar...

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Hipocrisia cultural

"Quem é obrigado a reagir continuamente segundo preceitos que não são expressão de seus pendores instintuais vive acima de seus meios, psicologicamente falando, e pode objetivamente ser designado como um hipócrita, esteja ele consciente ou não dessa discrepância. É inegável que nossa atual civilização favorece de maneira extraordinária a produção de tal espécie de hipocrisia. Podemos ousar afirmar que ela está edificada sobre essa hipocrisia, e que teria que admitir profundas mudanças, caso as pessoas se propusessem viver conforme a verdade psicológica. Portanto, existem muito mais hipócritas culturais do que homens realmente civilizados, podendo-se mesmo considerar o ponto de vista de que um certo grau de hipocrisia cultural seja indispensável para a manutenção da cultura, porque a aptidão cultural já estabelecida nos homens de hoje talvez não bastasse para essa realização. Por outro lado, a manutenção da cultura, ainda que sobre uma base tão duvidosa, oferece a perspectiva de preparar o caminho, em cada nova geração, para uma transformação instintual mais ampla, portadora de uma cultura melhor" - (p.223-4).

Hoje, visitando um blog dos que sigo, encontrei um post com várias citações do Freud. Adoro Freud. Como todo mundo, ele também falou umas abobrinhas, mas ele foi um gênio que foi capaz de pensar totalmente fora da caixinha, ainda mais para a época em que vivia. A Psicanálise fundada por ele continua crescendo e se transformando, firme e forte, e a análise é uma viagem fantástica pra dentro da própria alma, desafio que pretendo encarar um dia...

Mas voltando à citação acima, ela tem tudo a ver com "O mal estar na civilização", que também foi traduzido como "O mal estar na cultura". Outra citação do mesmo post ajuda a explicar melhor a ideia:

"A civilização foi adquirida pela renúncia à satisfação instintual, e exige de cada "recém-chegado" essa mesma renúncia. Durante a vida individual há uma contínua transformação de coação externa em coação interna. As influências culturais levam a que tendências egoístas cada vez mais se convertam em altruístas, sociais, pela adjunção de elementos eróticos. Enfim, é lícito supor que toda coação interna que se faz notar no desenvolvimento do ser humano era originalmente, ou seja, na história da humanidade, apenas coação externa"

Em resumo, o preço de se viver em sociedade (ou numa dada cultura) é suprimir (ou renunciar) a alguns intintos pessoais. Isso gera sofrimento ao indivíduo, mas favorece a sua sobrevivência, por ser parte de um grupo. A coação aos desejos e instintos se inicia externamente (são os pais e o resto do mundo nos dizendo 'não pode') até que introjetamos (olha o superego aí geeeeente!) e os 'não pode' passam a viver dentro de nossas cabeças.

Alguns indivíduos, "mais civilizados", deixam de ter certos instintos e desejos socialmente proibidos. Esses conseguiram a transformação instintual, estão um pouco mais longe de seu lado "animal". Mas o que Freud afirma na primeira citação deste post, e que acho que ninguém ousaria duvidar, é que a grande maior parte das pessoas que vivem em sociedades ou civilizações são "hipócritas culturais".
Acho que devo escrever na primeira pessoa do plural: nós somos hipócritas culturais. Nós sabemos as regras da nossa sociedade, conhecemos os 'não pode', mas só os seguimos por achar que devemos (e mesmo assim várias vezes nós os burlamos, por baixo dos panos, com a autorização do álcool, ou de outro entorpecente, ou da coletividade, ou da fantasia de carnaval, ou ...). Civilizados de verdade seríamos se nem sequer desejássemos o que não devemos desejar.

Nesse carnaval um irmão quis dar de presente de aniversário a outro uma coisa diferente. Planejou um churrasco, convidou algumas pessoas vizinhas, comprou cordas e lacres e, no meio da festa, os dois irmãos e mais 8 homens, vestidos com máscaras de carnaval, estupraram coletivamente as 5 mulheres presentes na festa. Uma delas os reconheceu, duas delas acabaram mortas.

Faltou hipocrisia? Ou sobrou?

Mesmo sendo "da cabeça pra fora", os valores e regras da sociedade precisam ser respeitados por seus indivíduos, ou não é possível considerar a vida em sociedade...

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Carnaval sem carnaval!

Quarta-feira de cinzas de um carnaval que carnaval não teve.
Sem samba, sem mulata, sem carros alegóricos,
Sem ressacas, sem blocos, sem fantasias. Bom demais!

Essa brasileira brasiliense pegou um boeing e foi pro Chile! Os chilenos não entenderam alguém sair do Brasil no carnaval, e eu não tentei explicar.

No lugar das caipirinhas o pisco sour (pisco sauro!), ou o vinho delicioso (aprendemos que a uva Carmenere só nasce no Chile, porque uma criatura minúscula dizimou suas vinhas na Europa!).
Um bando de comida boa, paisagens de tirar o fôlego, mais vinho e muita diversão!

E aquele tanto de montanha, morro??? É um universo alienígena do ponto de vista de uma brasiliense que tem horizontes horizontais para todos os lados! Um vulcão no horizonte, com neve no topo e soltando fumacinha! Lindo demais! Recomendo Pucón a todos!!!

E no mais, nada mais!

Agora começa o ano... FELIZ 2012!

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Um dia feliz!

Hoje não vou reclamar, hoje é um dia feliz.

Primeiro porque é sexta-feira, e sexta-feira é um dia feliz.
Segundo porque acordei muito bem!
Terceiro porque almocei com várias pessoas queridas, e amigos fazem de um dia qualquer um dia feliz, que dirá de uma sexta!
Quarto porque estou entrando de férias... coisa mundana, né? Mas enfim, é uma coisa feliz.

Estarei, portanto, longe distante far away desse meu espaço de derramar pitangas por uns dias...

Mas I'll be back, então per favore ne me quitte pas!!

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Diferença é diferente de doença.

A ideia do post surgiu de um texto do Calligaris. Gosto muito do que ele escreve, o admiro, e acho legal quando alguém escreve tão bem algo que eu penso. Isso é uma forma de dizer que, sobre o texto (pedaços citados abaixo), eu concordo 100%.

Primeiro comento, depois cito.

O texto fala de um modo que as pessoas, sempre elas, encontraram para lidar com as anormalidades das outras pessoas, para aceitá-las. Na nossa época tão medicalizada, fruto do desenvolvimento vigoroso da ciência positivista e do capitalismo, a doença é aquele acidente de percurso, o indesejado, que devemos previnir, aceitar e curar. Não adianta grandes discussões, ninguém quer ficar doente, não é escolha, e todo doente quer (ou deveria querer) a cura!Todo mundo quer ser normal e "saudável"... certo?

Aí as pessoas que se sentem mais normais do que as outras encontraram essa forma de categorizar o diferente: é doença. Ele é homossexual? É doença! Viciado em drogas? Doente. Pervertido? Doente. Psicopata? Doente. (to indo longe demais?).

Como diz Calligaris, esse modo de pensar tem até um lado aparentemente benéfico, porque os "normais" até aceitam que as pessoas adoeçam, tem pena delas, misericórdia, não se deve punir um doente.

A questão toda é que as doenças devem ser curadas. Independentemente, inclusive, da vontade do doente, porque vai que é contagioso, né?? Não queremos uma epidemia de homossexuais ou de outras "anormalidades" se espalhando por aí... Então os "normais", superiores que são com sua "saúde", se sentem no direito de impor a "cura" aos doentes.

Bom, seguem trechos do texto do Calligaris. Think about it...

"[...] Parece que a possibilidade de respeitar a diferença passa pelo reconhecimento de que essa diferença constitui uma patologia ou uma espécie de malformação congênita (no fundo, a exceção genética é isso).

Alguns perguntarão: "não é melhor assim?". Sem essa "injeção" de patologia (ou de teratologia), os diferentes seriam apenas julgados em nome de um moralismo qualquer: os drogados seriam vagabundos, os homossexuais, sem-vergonhas, e, quanto aos "cross-dressers" e etc., nem se fala.

Em outras palavras, a substituição da moral tradicional ou religiosa pela medicina, em geral, produz uma nova tolerância das diferenças: elas não são punidas, são diagnosticadas.

[...]

Perdoamos facilmente, mas não é por misericórdia ou compreensão, é porque respeitamos e desculpamos doentes e vítimas de anomalias genéticas. É um progresso?

Acima de seu sistema jurídico, cada sociedade produz e alimenta um sistema de crenças, regras e expectativas que facilita a coexistência mais ou menos harmoniosa de seus cidadãos.

Para essa função, a modernidade escolheu a medicina (do corpo e das almas). Com isso, o controle sobre nossas vidas seria aparentemente mais suave, mais "liberal". Mas é só uma aparência.

Pense bem. Certo, se toda exceção ou anormalidade for doença ou malformação, os diferentes não serão propriamente punidos. No entanto, a sociedade esperará que eles sejam "curados".

Outro "problema": se os desvios da norma forem tolerados por serem efeitos de doença ou malformação, o que aconteceria com quem pratica desvios, mas não apresenta as "malformações" que o desculpariam?

[...]

Em suma, gostaria que fosse possível ser anormal sem ser "doente". E, se fosse o caso, me sentiria mais livre sendo punido do que sendo "curado"."

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O lado feio do homem.

Por algum motivo as notícias de estupro e pedofilia chamam minha atenção mais do que as outras. E me revoltam mais do que as outras.

Nesse particular, o lado feio do homem é do homem mesmo, ser humano do sexo masculino. Não vou entrar em questão de culpa, sei da influcência da cultura e do meio nos limites que cada indivíduo se impõe. Li Freud, "o mal estar na civilização", concordo que a satisfação dos impulsos, mesmo os mais animalescos, é um desejo de todo ser vivo, mas que aprendemos que para viver em sociedade existem regras a serem seguidas, e isso nos freia. É o superego limitando o id, é a vida em grupo (introjetada) negando ao sujeito o prazer de suas urgências. Esse limite imposto tem seu lado bom e seu lado ruim. Nesses casos específicos, gostaria que fosse ainda mais eficiente.

Porque o homem, com agá minúsculo, tem a força física, e tem o falo. Tem a arma, tem o desejo, tem a maldade que todos temos e tem os braços fortes. às vezes os limites de uns são bem mais amplos, ou mesmo inexistentes, ou lhes falta a empatia básica de perceber que provocar sofrimento é ser cruel. Eles não se importam. A satisfação de seus desejos vale mais do que a felicidade, a autoestima, a segurança, a saúde daquele ser mais frágil, mulher ou criança. Um id sem superego, um idiota sem humanidade. A dominação masculina, a dominação paterna, a criança e a mulher objeto. A loucura da falta de civilidade.

Talvez por ser mulher esse tema particularmente ferva meu sangue. Porque nós mulheres fomos criadas para dar algum valor ao sexo, para relacionar intimidade com afeto, nudez do corpo com nudez da alma, e ter o corpo desnudado e invadido contra a vontade é muito mais do que uma agressão: é um aniquilamento. É uma tentativa de assassinato de tudo que prezamos, de tudo que protegemos, de quem somos e do que amamos em nós. Um estuprador que seja estuprado, com toda a humilhação que possa sentir, ainda não vai saber o tamanho da dor que causou.

Quando a vítima é uma criança, menino ou menina, a maldade é ainda maior. Quando é o pai, avô, padre, tio ou padrasto que a violenta, então, a crueldade não tem tamanho. É uma marca indelével, é um pra sempre desconfiar dos seres humanos, dos afetos, do amor, da bondade. Pra sempre. É condenar aquela criança a viver com medo, com raiva, desconfiada, uma alma descoberta e sempre ameaçada, faltando um pedaço, faltando um colo, faltando um abraço.
O estupro é mais do que a violação de um direito humano.

Meu pior lado (mora aqui, do lado direito do peito), gostaria de pena de tortura pra esses homens. Não de morte, mas de sofrimento. Pena de sofrimento. Porque a empatia pode ser ensinada e estimulada. Isso pode e deve ser feito na infância, pelos pais, com carinho, ensinando a criança a não causar sofrimento a outros.

Mas pra essas pessoas que não aprenderam na infância, eu daria meu profundo pesar (lamento muito mesmo, gostaria que tivessem aprendido na infância e então não crescessem cruéis e capazes dessas maldades), e acrescido ao meu pesar daria uma pena de tortura. Sofrimento. Uma empatia enfiada meio na marra, marcando a pele e a alma de quem se permitiu marcar, se beneficiando de sua força física e de sua arma, a pele e a alma de crianças e mulheres.

O lado feio da beleza.

Retirada do site do Terra hoje:

"Modelos dos EUA se unem para evitar abusos sexuais e exploração

Modelos americanas formaram uma associação para garantir seus direitos trabalhistas e se proteger de abusos sexuais, exploração infantil e falta de transparência econômica, a fim de serem ouvidas na Semana da Moda de Nova York, que começa nesta quinta-feira (9).

Sara Ziff, de 29 anos, iniciou sua carreira como modelo aos 14 e é a promotora da Aliança de Modelos, organização sem fins lucrativos que pretende "dar voz às modelos em seu local de trabalho e melhorar suas condições trabalhistas numa indústria quase sem nenhuma regulação", afirmou nesta terça-feira (8) em seu site.

"Durante muito tempo ignoraram os abusos que a indústria da moda pratica sistematicamente sobre seus trabalhadores. As carreiras das supermodelos não representam a realidade da maioria, que são modelos jovens e excepcionalmente vulneráveis", avaliou Sara.

Um dos problemas que esta organização pretende enfrentar é a baixa idade com que muitas modelos começam suas carreiras.

Uma enquete realizada com 241 modelos de Nova York e Los Angeles, à qual apenas 85 responderam, mostrou que 54,7% tinham começado a trabalhar entre os 13 e os 16 anos, 37,3% entre os 17 e os 20 e apenas 6,7% haviam iniciado sua carreira a partir dos 21.

Além disso, 52% das modelos menores de 18 anos não iam nunca, ou quase nunca, acompanhadas por seus pais às audições e sessões de trabalho.

"Esta desproteção quando ainda são adolescentes as tornam especialmente frágeis sob a pressão para que se mantenham magras e faz com que sofram distúrbios alimentares", denunciou Sara.

A mesma pesquisa revelou que 31,2% das modelos sofreram transtornos deste tipo, 64,1% já receberam ordens de suas agências para que perdessem peso e 48,7% foram submetidas a dietas forçadas durante períodos curtos de tempo.

Além disso, a Aliança de Modelos constatou que a saúde dessas mulheres é afetada em outras áreas, já que 68,3% sofriam de ansiedade ou depressão e 76,5% eram expostas a drogas ou álcool no trabalho, enquanto 28,8% trabalhavam sem seguro de saúde. Outra das grandes batalhas da associação é contra assédios sexuais, que vai desde a falta de privacidade nos provadores (o que constitui um problema para 60,5%) até as pressões para manter relações sexuais em troca de trabalho, sofridas por 28% das entrevistadas.

"O que piora a situação é que esta é uma indústria que se nutre de meninas que trabalham sem vigilância, em algumas ocasiões longe de casa, o que é um incentivo para não dizerem nada", assinalou Sara.

Exemplo disso são histórias como a da modelo Dana Drori que, no fórum da associação, conta como aos 15 anos teve de posar a sós para um fotógrafo canadense em seu apartamento, vestida sobre a cama com uma jaqueta desabotoada e a calça jeans do próprio fotógrafo. "Embora este conjunto (de roupa) fizesse eu me sentir desconfortável, eu concordei. Foi a primeira vez que disse sim a algo quando preferia ter dito não", assegurou Dana, que acrescentou em seu testemunho que "os momentos difíceis nunca desapareceram".

A falta de transparência econômica é outro fator agravante, já que, segundo Sara Ziff, "muitas das modelos que conseguirem desfilar na Semana da Moda de Nova York nunca serão pagas. Trabalharão de graça ou em troca de roupas", assegurou.

A Aliança de Modelos trabalha em colaboração com a Faculdade de Direito da Universidade de Fordham, que oferece assessoria jurídica, e com o Conselho de Estilistas de Moda dos EUA (CFDA, na sigla em inglês), que promove hábitos alimentares saudáveis entre as modelos."

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Falta de ar!

Tem algumas pessoas, nada pessoal, com quem não gosto de conversar.
Elas são simpáticas, bem humoradas, legais, eu gosto delas! mas não gosto de conversar com elas. Parei um momento pra tentar entender o porquê, o que é que nelas tanto me afligia, e descobri...

É a falta de ar. A pessoa começa a falar rápido, e muito, parece que não pode dar tempo de você desviar a atenção, ou interromper a fala dela, então ela vai falando alto e rápido e rápido e rápido e vai ficando sem ar (pelo menos parece que vai) e não pára de falar. O problema é que eu, mesmo quieta só escutando, vou ficando sem ar junto. Vou asfixiando, vou ficando desesperada, dá vontade de falar "respiiiiiiiiiiira pelamoooooooooordedeeeeeeeeeusssss" pra eu poder respirar também!

Não consigo respirar enquando a pessoa não respira, e meu passado de asmática me volta como um pesadelo, como se alguém tivesse sorrateiramente e sem que eu percebesse enfiado um saco plástico na minha cabeça.

Desespero.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

E é sexta-feira!

Novelas à parte, na sexta eu fico feliz!
Pra comemorar colo aqui uma música pela qual me apaixonei, de uma dor que não senti por mim, mas senti com o chico buarque e que, por triste que seja, faz-me feliz! Viva o chico e viva a sexta!

"Sim, vai e diz
diz assim
que eu chorei, que eu morri
de arrependimento
que o meu desalento já não tem mais fim...
Vai e diz,
diz assim
como sou infeliz
no meu descaminho,
diz que estou sozinho e sem saber de mim!

Diz que eu estive por pouco,
diz a ela que eu estou louco pra perdoar!
Que seja lá como for,
por amor,
por favor,
é pra ela voltar,
sim?
Sim, vai e diz
diz assim
que eu voltei, que eu bebi, que eu cai
que eu não sei...
que eu só sei que cansei enfim
dos meus desencontros
corre e diz a ela que eu entrego os pontos..."

=)

Vergonha!

E o que é a vergonha, né?

Acho que vergonha é a gente achar que os outros vão achar que somos menos, porque nos associariam a alguma coisa que julgamos que eles julgam ser ruim.

Eu, por exemplo, fiquei com um pouco de vergonha de vir aqui hoje escrever sobre a novela das 8. Porque assistir redigrobo é algo que considero ser mal visto pelas pessoas que eu considero inteligentes e que quero que me considerem inteligente. Vergonha de ser alguém que se senta na frente da TV e assiste a novela ao invés de estar lendo um livro, pintando um quadro ou tocando piano. Mas, enfim, decepcionar quem nos admira são as cores da estação, vamos ao que íamos:

Tereza Cristina, a psicopata dondoca rainha do Nilo, dona da maior coleção de camisolas rendadas de seda(devem ter outro nome)do universo, e a mais pomposa das vilãs globais! acaba de sofrer um golpe gigantesco. Descobriu que seu pedigree é mais falso que nota de 3 reais e que na verdade ela é filha da empregada da família chique que a adotou e criou. Para ela não há nada mais vergonhoso do que ser filha de uma empregada doméstica. Mas o que mais me chocou é que não foi só ela que ficou chocada: TODOS os personagens se sentiram transtornados com essa descoberta, como se se pusessem na pele da coitada da madame que descobriu não ter sangue azul, e sentissem junto com ela a vergonha que é ser filha da ralé.

E eu me indignei. Que porra de imagem isso passa para a nossa população, que assiste em peso essa e outras novelas? Não estamos em um país onde não há pessoas pobres, humildes e empregadas domésticas, onde todos vivem bem e as pessoas "sem pedigree" são seres em extinção (mesmo que nem isso fosse motivo suficiente para justificar a falta de respeito). Grande parte das pessoas que assistem à depressão da Nefertite genérica são filh@s, maridos, irmãos, irmãs, pais e mães de empregadas domésticas, e inclusive empregadas domésticas. Por mais caricata que seja a história toda, eu sinto que isso é um golpe na auto-estima já tão prejudicada dessas pessoas que acordam cedo pra tornar nossa vida mais fácil. Não só elas, mas todas as pessoas que com seus trabalhos árduos passam perrengues para nosotros termos uma vida mais agradável e "culturalmente interessante".

To brava. To com vergonha da vergonha da Tereza Cristina. E essa vergonha foi maior do que minha vergonha de assumir que vez em quando eu assisto novela, por isso vim aqui derramar pitombas.

Aniversário da pandemia!

  Brasil. Pandemia. Vai fazer um ano... um ano de isolamento. Um ano de crianças sem escola, um ano de homeoffice . Um ano agradecendo que n...