quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Diferença é diferente de doença.

A ideia do post surgiu de um texto do Calligaris. Gosto muito do que ele escreve, o admiro, e acho legal quando alguém escreve tão bem algo que eu penso. Isso é uma forma de dizer que, sobre o texto (pedaços citados abaixo), eu concordo 100%.

Primeiro comento, depois cito.

O texto fala de um modo que as pessoas, sempre elas, encontraram para lidar com as anormalidades das outras pessoas, para aceitá-las. Na nossa época tão medicalizada, fruto do desenvolvimento vigoroso da ciência positivista e do capitalismo, a doença é aquele acidente de percurso, o indesejado, que devemos previnir, aceitar e curar. Não adianta grandes discussões, ninguém quer ficar doente, não é escolha, e todo doente quer (ou deveria querer) a cura!Todo mundo quer ser normal e "saudável"... certo?

Aí as pessoas que se sentem mais normais do que as outras encontraram essa forma de categorizar o diferente: é doença. Ele é homossexual? É doença! Viciado em drogas? Doente. Pervertido? Doente. Psicopata? Doente. (to indo longe demais?).

Como diz Calligaris, esse modo de pensar tem até um lado aparentemente benéfico, porque os "normais" até aceitam que as pessoas adoeçam, tem pena delas, misericórdia, não se deve punir um doente.

A questão toda é que as doenças devem ser curadas. Independentemente, inclusive, da vontade do doente, porque vai que é contagioso, né?? Não queremos uma epidemia de homossexuais ou de outras "anormalidades" se espalhando por aí... Então os "normais", superiores que são com sua "saúde", se sentem no direito de impor a "cura" aos doentes.

Bom, seguem trechos do texto do Calligaris. Think about it...

"[...] Parece que a possibilidade de respeitar a diferença passa pelo reconhecimento de que essa diferença constitui uma patologia ou uma espécie de malformação congênita (no fundo, a exceção genética é isso).

Alguns perguntarão: "não é melhor assim?". Sem essa "injeção" de patologia (ou de teratologia), os diferentes seriam apenas julgados em nome de um moralismo qualquer: os drogados seriam vagabundos, os homossexuais, sem-vergonhas, e, quanto aos "cross-dressers" e etc., nem se fala.

Em outras palavras, a substituição da moral tradicional ou religiosa pela medicina, em geral, produz uma nova tolerância das diferenças: elas não são punidas, são diagnosticadas.

[...]

Perdoamos facilmente, mas não é por misericórdia ou compreensão, é porque respeitamos e desculpamos doentes e vítimas de anomalias genéticas. É um progresso?

Acima de seu sistema jurídico, cada sociedade produz e alimenta um sistema de crenças, regras e expectativas que facilita a coexistência mais ou menos harmoniosa de seus cidadãos.

Para essa função, a modernidade escolheu a medicina (do corpo e das almas). Com isso, o controle sobre nossas vidas seria aparentemente mais suave, mais "liberal". Mas é só uma aparência.

Pense bem. Certo, se toda exceção ou anormalidade for doença ou malformação, os diferentes não serão propriamente punidos. No entanto, a sociedade esperará que eles sejam "curados".

Outro "problema": se os desvios da norma forem tolerados por serem efeitos de doença ou malformação, o que aconteceria com quem pratica desvios, mas não apresenta as "malformações" que o desculpariam?

[...]

Em suma, gostaria que fosse possível ser anormal sem ser "doente". E, se fosse o caso, me sentiria mais livre sendo punido do que sendo "curado"."

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