Somos medidos por tantas coisas... quais realmente importam?
Fulana é uma ótima profissional!
Beltrana é uma mãe maravilhosa!
Cicrana é a esposa perfeita!
Fulana é uma boa amiga.
Beltrana é uma filha exemplar.
Cicrana é uma super atleta.
Fulana é tão generosa...
Beltrana é linda e vaidosa, né?
Cicrana é muito inteligente!
Quais desses adjetivos se aplicariam a mim? Em quais me reconheço? Quanto de mim é cada coisa que podem dizer que sou, ou que não sou?
Não sei, nem sei se importa.
A maior parte do tempo eu me sinto eu. Tenho um contato
frequente e refletido comigo, me alimento do meu silêncio e me acalento em
minha própria companhia. Sou o que chamam de introvertida, introspectiva. Minha
terapeuta diz que isso é profundidade. Nesses não raros momentos de estar só eu
comigo, tudo o mais, o de fora, os rótulos, tudo que não sou eu mesma em mim é
supérfluo e pequeno.
Daqui de mim avalio alguns adjetivos, e todos são
completamente parciais. Acho que sou boa profissional, mas estou escrevendo isso
ao invés de mandar para a chefa um e-mail de atualizações dos trabalhos da
semana. Acho que sou boa mãe, mas tantas vezes sinto culpa, perco a paciência,
mimo demais ou de menos. Sou boa esposa? Aqui tenho particularmente dificuldade
em me avaliar... Achava que era boa amiga, porque adoro ouvir e evito dar
conselhos, mas estou tão distante de quase todas as pessoas que mais tenho amor
e amizade, que só posso me sentir uma amiga bem fajuta... E boa filha, sou?
Depende da hora e da expectativa, tenho certeza. Sou meio desgarrada, e neguei
tantas vezes o modelo que minha mãe tentou me passar... não deve ser tão fácil
assim ser pai e mãe de mim. Atleta não sou, nunca fui (fingi ser por pouco tempo,
e foi bem sofrido pra mim). Generosa? Sei não... Linda, vaidosa? Também deixo
bastante a dever aqui, não por não considerar a beleza algo importante, mas
porque prefiro ler livros, e brincar com minhas filhas, e conversar com quem
amo, e ficar eu comigo, mais um pouco, eu comigo bem quieta por fora. Sou
inteligente? Talvez, para o que me interessa. Gosto do que penso e sinto, que é
tanto do que sou, gosto do que considero inteligência em mim, e sei que sou uma
negação para conteúdos que demandam navegar numa cronologia e gravar nomes de
pessoas e eventos (assim, geografia, história e política são coisas que não
deixam memórias em mim, e me fazem sentir sem inteligência a cada vez que tento
entrar em contato).
Meu tamanho é esse tamanho de mim mesma em mim. Não é
pequeno, nem é grande. Na verdade, varia o tempo todo. E está bom assim.