quinta-feira, 31 de março de 2011

Oposições simplistas

"Grande parte da história da Europa ocidental condiciona-nos a ver as diferenças humanas numa oposição simplista uma à outra: dominante/subordinado, bom/mau, acima/abaixo, superior/inferior. Numa sociedade onde o bem é definido em termos de lucro e não em termos de necessidade humana, precisa haver sempre algum grupo de pessoas que, através da opressão sistematizada, possa ser levado a se sentir excedente, a ocupar o lugar do inferior desumanizado. Dentro da nossa sociedade, esse grupo é constituído pelos negros, os terceiro-mundistas, os operários, os idosos e as mulheres."

Audre Lorde

quarta-feira, 30 de março de 2011

Meu 'amigo'.

Acordei com sono, ódio e dores.

Fui fazer um omelete, e um dos ovos estava podre.

O dia de trabalho foi mais irritante e tedioso do que de costume.

Cheguei em casa a noite, apertada, e o rolo de papel higiênico havia acabado.

Precisava e queria muito entrar na internet, mas a descobri cortada. Liguei na provedora, cortaram por falta de pagamento (de uma conta que eu nunca recebi).

Por causa do tempo perdido brigando com a provedora, só pude assar uns pães de queijo antes da aula... marca nova, nunca havia provado. Fui provar justo nesse dia: é horrível.

Após a aula, mais calma, fui lavar a louça. Quebrei a unha ao abrir um pote.

Descobri-me acompanhada durante todo esse dia por meu amigo Tomás Polidoro Murphy. Para os íntimos, Murphy ou TPM.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Segunda-Feira =/

Eu, assim como o Garfield e uma porcentagem grande da população mundial, não gosto de segunda-feira.

Ela é a antítese da tão amada sexta-feira! Enquanto a sexta traz em si a abertura de um mundo de possibilidades, a segunda traz o encerramento de tudo de bom que foi feito e a constatação de que várias coisas que deviam ter sido feitas não foram.

Cada segunda-feira é como um petit juízo final, onde se para uns instantes antes de ser engolido pela rotina e se pensa: "putz... pequei pra caramba, não fiz o que tinha que fazer e agora só terei tempo no próximo final de semana...". Essa ressaca moral pode ser ainda agravada por uma ressaca alcoólica, ou pior que isso, que é meu caso hoje, por uma TPM.

Cá estou, de ressaca moral e TPM, sentindo cansaço e ódio do mundo, pensando que melhor que ganhar na mega-sena (é com hífen mesmo) seria ter mais uns 15 dias de férias (e eu poderia dormí-los ou pegar o primeiro avião pra Portugal), ou ainda que os processos sobre minha mesa virassem chocolate: comería-los todos.

Chocolate. Cafuné. Cama.

Estou insuportavelmente insuportável hoje. Acho que mandarei fazer uma camiseta pra esses dias: "Só se aproxime se trouxer chocolate" e "Se for coisa chata, mantenha distância".

Chocolate... É só o que me resta.

quinta-feira, 24 de março de 2011

nós somos o mal

"O mais terrível de todos os paradoxos morais, o nó górdio que precisa ser cortado se queremos que a História prossiga, é que criamos o mal a partir dos nossos ideais mais elevados e das nossas mais nobres aspirações. Tanto precisamos ser heróicos, estar ao lado de Deus, eliminar o mal, limpar o mundo e vencer a morte, que vemos destruição e morte em todos aqueles que se postam no caminho do nosso heróico destino histórico. Buscamos bodes expiatórios e criamos inimigos absolutos, não por sermos intrinsecamente cruéis mas porque o fato de focalizarmos a nossa raiva sobre um alvo externo e atingirmos um estranho faz a nossa tribo ou nação se unir e nos permite fazer parte de um grupo restrito e bom. Criamos um superávit de mal porque precisamos pertencer ao nosso próprio lugar.
...
Se queremos a paz, cada um de nós precisa começar a desmitificar o inimigo; deixar de politizar os eventos psicológicos; reassumir sua sombra; fazer um estudo complexo das mil maneiras pelas quais reprimimos, negamos e projetamos o nosso egoísmo, crueldade, avidez, etc. sobre os outros; e conscientizar-se da maneira pela qual inconscientemente criamos uma psique guerreira e perpetuamos as muitas formas de guerra."

Sam Keen

sombra no mundo

"Parece improvável que alcancemos qualquer sucesso no controle da guerra a menos que cheguemos a compreender a lógica da paranóia política e o processo de criação da propaganda que justifica a nossa hostilidade. Precisamos tomar consciência daquilo que Carl Jung chamou de "a sombra". Os heróis e líderes pacifistas do nosso tempo serão aqueles homens e mulheres com coragem para mergulhar nas trevas no fundo da psique pessoal e coletiva, e enfrentar o inimigo interior. As psicologias de profundidade nos presentearam com a inegável sabedoria de que o inimigo é construído a partir de aspectos reprimidos do self. Portanto, o mandamento radical "Ama a teus inimigos como a ti mesmo" indica o caminho tanto para o autoconhecimento como para a paz. Na verdade, amamos ou odiamos nossos inimigos na mesma medida em que amamos ou odiamos a nós mesmos. Na imagem do inimigo, encontraremos o espelho no qual podemos ver a nossa própria face com a máxima clareza.

Mas, espere um pouco! Não tão depressa! Um coro de objeções levanta-se dentre os adeptos da prática política do poder: "O que você quer dizer com criar inimigos? Não somos nós que fazemos o inimigo. Existem agressores, impérios do mal, bandidos e mulheres perversas no mundo real. E eles nos destruirão se nós não os destruirmos primeiro. Existem vilões reais — Hitler, Stalin, Pol Pot (líder do Khmer Vermelho cambojano, responsável pela morte de dois milhões de pessoas do seu próprio povo). Você não pode psicologizar os eventos políticos nem resolver o problema da guerra estudando os conhecimentos do inimigo."

Objeção concedida. Em parte. Meias-verdades de natureza psicológica ou política não têm condições de fazer avançar a causa da paz. Devemos ser tão cautelosos ao psicologizar eventos políticos quanto ao politizar eventos psicológicos. A guerra é um problema complexo, e não é provável que seja resolvida por qualquer abordagem ou disciplina isolada. Para lidar com ela precisamos, no mínimo, de uma teoria quântica da guerra — e não de alguma teoria unicausal. Assim como só entendemos a luz quando a consideramos como onda e partícula, só poderemos estudar realmente o problema da guerra vendo-a como um sistema que é sustentado por estes pares:

A psique guerreira e A cidade violenta
Paranóia e Propaganda
A imaginação hostil e Os conflitos geopolíticos e de
valores entre os países

O pensamento criativo sobre a guerra sempre envolverá a consideração da psique individual e das instituições sociais. A sociedade molda a psique; e vice-versa. Portanto, temos de trabalhar para criar alternativas psicológicas e políticas à guerra, mudando a psique do Homo hostilis e a estrutura das relações internacionais. Ou seja, trata-se tanto de uma heróica jornada no self quanto de uma nova forma de política compassiva. Não temos nenhuma chance de reduzir as guerras a não ser que observemos as raízes psicológicas da paranóia, da projeção e da propaganda; a não ser que deixemos de ignorar as cruéis práticas de educação dos jovens, as injustiças, os interesses especiais das elites no poder, os históricos conflitos raciais, econômicos e religiosos, e as intensas pressões populacionais que sustêm o sistema da guerra.

O problema da psicologia militar é como converter o ato de matar em patriotismo. De modo geral, esse processo de desumanizar o inimigo ainda não foi examinado atentamente. Quando projetamos nossas sombras, sistematicamente ficamos cegos para aquilo que estamos fazendo. Para produzir ódio em massa, o corpo político precisa permanecer inconsciente de sua própria paranóia, projeção e propaganda. "O inimigo" é, assim, considerado tão real e objetivo quanto uma rocha ou um cão raivoso. Nossa primeira tarefa é quebrar esse tabu, tomar consciente o inconsciente do corpo político e examinar as maneiras pelas quais criamos o inimigo."

Sam Keen

quarta-feira, 23 de março de 2011

Veneno.

Dias difíceis esses em que vivemos, em que o que faz mal faz mal, mas que o que faz bem também faz mal.

Há anos nos envenenamos, porque comida que faz mal é gostosa (com açúcar, gordura, álcool, aromatizantes, conservantes, acidulantes, estimulantes, colorantes e desodorantes).

Há anos nos envenenamos, porque a comida que faz bem a gente encheu de veneno...

E nos envenenaremos ainda mais, porque esse veneno todo vai pra água, que depois bebemos... precisamos da água pra viver, água faz bem, mas ela nos envenenará...

Se o mundo está pra acabar? Não sei... talvez ele sobreviva a nós... mas e nós, sobreviveremos ao que fizemos com o mundo?

Terremotos e tsunamis sempre houveram e haverão, mas agora o perigo é a radiação que a gente trouxe pra superfície...

Em Mato Grosso, um estudo apontou presença de agrotóxicos (venenos) em grande quantidade no leite materno. Envenenamos nos bebezinhos desde antes de eles nascerem. Veneno, veneno, veneno, doença, morte.

Maria minha maria tá certa, são venenos agrotóxicos usados na produção da soja que alimenta os animais que comemos aqui e ao redor do mundo, e soja essa que as vezes nós comemos também, porque alguém nos disse que soja faz bem.

Nos envenenamos todos, ignorantemente, porque alguém ta ganhando muito dinheiro para nos envenenar a nós todos, em embalagens bonitas e alimentos saborosos.

Somos todos gado caminhando pra morte nos abatedouros que nós mesmos criamos...

terça-feira, 22 de março de 2011

as lacunas e você

Tantas vezes pensei como seria bom ter coragem a dizer às pessoas que elas deviam preencher as lacunas que deixavam!! Que era feio deixar lacunas, mas se elas assim queriam, que pelo menos se preocupassem em não deixá-las ocas!

Nunca tive coragem, foram pensamentos que se acumularam no meu nó na garganta. Quando as lacunas vazias preenchiam tudo ao meu redor, e eu me via finalmente totalmente só, era só a última dor, a que doía menos, a que não mais esperava nada e não mais precisava olhar pras lacunas vazias e imaginar algo ali.

Eu nunca disse a ninguém que era feio deixar lacunas... mas a Vida me conhece bem, e sempre soube! Soube que se eu não gritei ao mundo da feiura desses atos foi por respeito, e que se eu buscava preencher os espaços vazios foi porque as lacunas me afligiam...

A Vida soube, sabe, e me presenteou, colocando na minha vida VOCÊ.

Você, que não me deixa lacunas.
Você, que se faz perto, independente da distância, sem eu nunca ter precisado pedir, sem eu nem precisar imaginar o 'como'.

Você, que sem me conhecer foi se construindo no formato exato pra encaixar em mim, com o abraço perfeito pra me caber eu, com a cabeça 'cheia de problemas' (nem são tantos assim...), mas com todas as coisas que um dia eu sonhei pra mim, mesmo que eu me censurasse ao sonhar, dizendo com a voz do mundo que 'não existe ninguém assim...'.

Existe você. Obrigada!

O amanhã é distante

E se hoje não fosse essa estrada
Se a noite não tivesse tanto atalho
O amanhã não fosse tão distante
Solidão seria nada pra você

Se ao menos, o meu amor estivesse aqui
E eu pudesse ouvir seu coração
Se ao menos mentisse ao meu lado
Estaria em minha cama, outra vez

Meu reflexo, não consigo ver na água
Nem fazer canções sem nenhuma dor
Nem ouvir o eco dos meus passos
Nem lembrar meu nome quando alguém chamou

Se ao menos, o meu amor estivesse aqui
E eu pudesse ouvir seu coração
Se ao menos, mentisse ao meu lado
Estaria em minha cama, outra vez

Há beleza no rio do meu canto
Há beleza em tudo que há no céu
Porém, nada, com certeza, é mais bonito
Quando lembro dos olhos do meu bem

Se ao menos, o meu amor estivesse aqui
E eu pudesse ouvir seu coração
Se ao menos, mentisse ao meu lado
Estaria em minha cama, outra vez

(Zé Ramalho)

segunda-feira, 21 de março de 2011

Dia de tédio e saudade.

Saudade é a cor da estação. Dessa que está para acabar e daquela que começa já já.
E qual a cor da saudade?
Cinza, nublada.
É mais temperatura que cor, e é fria.
Aperta forte num abraço cru e oco.
Quanto mais me aperta em seus braços fortes,
menor e menos acolhida eu sou.

Além da saudade, o tédio.

Porque os dias estão parecidos, sem graça, chove, e eu desanimei...

Desanimei de saudade e de tédio e de gripe.

Desanimada estou, portanto.
Portanto, desanimada, só me anima o fim da tarde útil, que desse tédio é já que eu parto.

Parto, eu e a saudade, pra onde o tédio não está...

quarta-feira, 16 de março de 2011

Se pensas, não és.

É-se quando não se pensa. Em se pensando, deixa-se de ser.
Por alguns instantes os olhos-vigia da mente se fecham
E o ser se existe com seu maior vigor!
Livre, desmedido, sem fronteiras e sem tamanho:vive!

Não demora e os olhos-vigia se abrem,
o ser se encolhe, e curva-se,
sob o peso do "dever ser":
volta a ser o ser artificial,
o que se pensa, e assim não se é.

Contido, calado, medido,
acanhado, culpado, ferido,
achatado, arranhado, tingido,
que é o jeito que o mundo o quer.

É saudade então....

É saudade então. E mais uma vez,
De você fiz o desenho mais perfeito que se fez.

Os traços copiei do que não aconteceu
As cores que escolhi, entre as tintas que inventei
Misturei com as promessas que nós dois nunca fizemos
De um dia sermos três.

Trabalhei você em luz e sombra.

E era sempre: - Não foi por mal
Eu juro que nunca quis deixar você tão triste...
Sempre as mesmas desculpas,
E desculpas nem sempre são sinceras
- quase nunca são.

Preparei a minha tela com pedaços de lençóis
que não chegamos a sujar.
A armação fiz com madeira da janela do teu quarto,
Do portão da sua casa fiz paleta e cavalete,
E com as lágrimas que não brincaram com você destilei
óleo de linhaça
E da sua cama arranquei pedaços
Que talhei em estiletes de tamanhos diferentes
E fiz, então, pincéis com seus cabelos
Fiz carvão do batom que roubei de você e com ele marquei
Dois pontos de fuga, e rabisquei no horizonte.

E era sempre: - Não foi por mal,
Eu juro que não foi por mal,
Eu não queria machucar você,
prometo que isso nunca vai acontecer mais uma vez.
E era sempre, sempre o mesmo novamente
- a mesma traição.
Às vezes é difícil esquecer:
"Sinto muito, ela não mora mais aqui..."

Mas então por que eu finjo que acredito no que invento?
Nada disso aconteceu assim, não foi desse jeito...
Ninguém sofreu, e é só você
que provoca essa saudade vazia
Tentando pintar essas flores com o nome
De "amor-perfeito" e "não-te-esqueças-de-mim"

(Acrilic on Canvas - Renato Russo)

terça-feira, 15 de março de 2011

Pequenez...

É isso o que sinto quando vejo notícias sobre essas grandes catástrofes que fazem tantos mortos de uma vez só... Sinto-me, e sinto-nos, enquanto seres vivos, ínfimos. Somos ínfimos e efêmeros. Somos quase nada...

O que é preciso pra tirar a vida de um ser vivo? Bem pouco. Somos tão frágeis... Morremos afogados, morremos entoxicados, morremos esmagados, morremos de bater a cabeça, morremos por faltar oxigênio, morremos de um medo e susto que nossos corações não aguentam... Morremos da radiação que guardávamos em uma construção segura... não é mais tão segura, ela sái, e morremos de câncer, aos poucos...

Morremos também do egoísmo humano, por nos faltar comida e água e cobertor e teto, e morremos do absurdo egoísmo humano com uma bala na cabeça ou uma faca enfiada no peito. Morremos de dor, morremos de dó, não fazemos nada, nem o pouco que poderíamos, e morremos...

Morro um pouco a cada vez que vejo alguém chorar ou sofrer dessas coisas que não pôde evitar. Nessa hora tanto faz de quem é a culpa, se estamos só colhendo o que plantamos ou não... Plantamos errado, eu sei, mas é na colheita que vem a dor... e eu morro com eles, que somos nós...

Diz-me se tem alguém que consiga se sentir grande numa hora dessas... Eu duvido.

Somos todos pequenos e insignificantes, somos todos nada, e uma coisa só. Os estragos não ficarão restritos, o mundo se tornou pequeno... de alguma forma aquela onda gigante vai chegar a todos nós, e um dia precisaremos todos encarar de frente (com humildade) que não importa quão importantes cada um de nós nos sintamos, somos todos mínimos.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Será que é já?

Furacão, milhares de sardinhas aparecem mortas misteriosamente, terremoto, redemoinho, tsunami, vulcão em erupção, enchentes, desmoronamentos... that's it?

quinta-feira, 10 de março de 2011

Eva e as pílulas

Vivia Eva feliz, livre, leve, solta e nua, perambulando pelo Jardim do Éden... O clima era perfeito, a água sempre fresquinha, era sempre época de todas as frutas, portanto não havia restrição de frutas fora de época! Estavam sempre lindas e apetitosas, sem agrotóxicos nem bichinhos dentro.

Ela era feliz ali, ignorante e feliz!

Um dia teve um pesadelo... no sonho sentia frio, barriga roncando, umas sensações desagradáveis... Não conhecia nada disso, e acordou curiosa e incomodada.

Lembrou-se então que havia no Jardim um único canto (não me pergunte como é possível um lugar com um canto só, a geometria do Éden deve ser especial). Esse canto era o único lugar do Eden que ela não conhecia muito bem... uma vez passara por ali perto, tivera um calafrio e se afastou, não se aproximando desde então.

Resolveu voltar lá na dita manhã, pois o calafrio era o mais próximo que a moça já havia sentido das sensações desagradáveis de seu pesadelo. Ali havia sombra... o ar era mais úmido, e o cheiro era bem peculiar. Uma árvore enorme ocupava o centro do canto, enorme mesmo. Eva ficou um tempo olhando pra ela... era uma das coisas menos coloridas que seus olhos haviam visto, e mesmo assim era fascinante... eis que, de um buraco no tronco, surge uma serpente. Era uma serpente escura, da cor da árvore, e igualmente imponente...

Inicia-se um diálogo:

Eva: Bom dia, criatura! O que és?

Serpente: Bom dia, criatura humana. Sou uma serpente...

Eva: E por que você mora no único canto do Jardim, o lugar menos viçoso?

Serpente: Porque escolhi CONHECER.

Eva: Conhecer... o que?

Serpente: A realidade! Resolvi sair da Matrix!

Eva: Matrix?? Que isso????

Serpente: Ô minha fofa... você vive num mundo falso. Vive aí feliz achando que sempre é época de todas as frutas, e o tempo ta sempre ótimo, o sol sempre lindo, nunca cái água do céu e o rio tá sempre fresquinho... Eu meio que me cansei dessa mesmice cor-de-rosa-verde-amarela.

Eva: To entendendo nada...

Serpente: Seguinte, dona Eva. Meu nome é Morpheus. Sei que você veio até o único canto do Jardim porque teve um pesadelo que te fez experimentar sensações desagradáveis. Isso foi ruim, mas foi novo e te deixou curiosa a ponto de você voltar no único lugar bizarro do Jardim. To certo?

Eva: É... como sabe?

Morpheus: Como disse, eu ESCOLHI CONHECER. Como "castigo", não posso mais viver nas árvores mais verdinhas e frondosas... É o preço... saí da Matrix...

Eva: Mas então, o que é Matrix???

Morpheus:"Infelizmente é impossível dizer o que é Matrix. Você tem de ver por si mesmo. Esta é a sua última chance. Depois não há como voltar. Se tomar a pílula azul a história acaba, e você acordará na sua cama acreditando...no que quiser acreditar. Se tomar a pílula vermelha...ficará no País das Maravilhas...e eu te mostrarei até onde vai a toca do coelho. Lembre-se...tudo que te ofereço é a verdade. Nada mais."

Eva: Hein??

Morpheus: Ow, você é meio abestada, né? Tá, tá... você vive na completa ignorância... vou explicar melhor. Tenho aqui comigo uma blueberry suculenta e bonitona, como todas as frutas do Jardim... você pode comê-la, vai dar uma pequena apagada, quando acordar estará embaixo do pessegueiro e não vai se lembrar nem dessa nossa conversa, nem que veio aqui, nem do seu pesadelo. Também tenho aqui comigo esse morango azedo e meio amassado, coisa que você nunca viu nem provou na vida... você pode comê-lo, se preferí-lo ao blueberry, e então verá que o Édem não passa de uma ilusão que Deus criou na cabeça de vocês pra que vivam felizes e ignorantes, sem fazer muitas perguntas, sem causar muitos transtornos... Comendo o morango estragado, você saberá diferenciar o que é bom do que é mau, verá que andar peladona não é possível o ano todo, em todo lugar, sentirá que Adão fede, verá que não dá pra comer cereja sempre, só no inverno... passará frio, fome, e tal...

Eva: Nossa... e qual a vantagem de comer o morango estragado então?

Morpheus: Não sei... viver coisas novas, saber que Deus te engana, ser responsável pelos próprios atos, essas coisas!!

Eva: E... é bom?

Morpheus: Seguinte, eu escolhi conhecer, como já te disse várias vezes. Esse papo contigo já tá me cansando. Decida-se: você quer continuar burra ou quer conhecer o mundo real, o que está por trás da Matrix?????

Eva pensou um pouco... aquela vida sempre boa já estava mesmo ficando monótona... Adão já nem lhe prestava muita atenção, os dois viviam num tédio só. Tinha também aquela curiosidadezinha... e ela começou a se dar conta do tanto que não sabia! Até aquele momento aquele não saber todo nem a incomodava, mas agora ela sabia pelo menos que havia chances de fazer perguntas e ter respostas! Perguntas que todo filósofo que se preze faz: de onde vim, pra onde vou, porque me casei com Adão, quem plantou as frutas, como se faz chocolate!

Eva: Cansei de ser burra, passa pra cá esse morango azedo!

E é isso. O resto da história vocês já conhecem, e cá estamos...

quarta-feira, 9 de março de 2011

Boicote ao Terra.

Ficarei pelo menos uma semana sem abrir o site do Terra em sinal de protesto...

Praticamente TODAS as manchetes e 'notícias' são sobre as mulheres-objeto do carnaval, e mesmo as desavisadas viraram objeto nas mãos dessas pessoas que se dizem jornalistas.

PQP. =/

Táctica y estrategia

"Mi táctica es
mirarte
aprender como sos
quererte como sos

mi táctica es
hablarte
y escucharte
construir con palabras
un puente indestructible

mi táctica es
quedarme en tu recuerdo
no sé cómo ni sé
con qué pretexto
pero quedarme en vos

mi táctica es
ser franco
y saber que sos franca
y que no nos vendamos
simulacros
para que entre los dos

no haya telón
ni abismos

mi estrategia es
en cambio
más profunda y más
simple
mi estrategia es
que un día cualquiera
no sé cómo ni sé
con qué pretexto
por fin me necesites"

Mário Benedetti

Todo carnaval tem seu fim

E, portanto, acabou...

Carnaval no Rio de Janeiro, sem ouvir nem sequer um samba enredo, sem ver uma única mulata quase nua sambando de sandálias brilhantes.

Ainda assim, meio atípico, uma experiência das mais interessantes e válidas! Estar no Rio é sempre especial... Inevitável constatar, sempre, que ele continua lindo. Clichê, mas o desbunde de formosura daquela obra prima da natureza é mesmo de causar espanto.

Não faltou alegria e cerveja, os mesmos bons sambas de anos, preferidos e conhecidos por todo brasileiro que se preze... Não faltaram foliões de todas as idades, sexos, cores, sotaques, linguas e formatos, a criatividade de fantasias inéditas e a presença das fantasias de sempre. Faltou a presença do meu amor, com seu melhor abraço do mundo que me cabe, mas a saudade sambou lado a lado com a alegria e a cerveja, tudo na mais perfeita ordem, tudo na mais santa paz...

E a Lapa? Amo aquele lugar, mesmo quando, chegando a madrugada, sinto-me no meio do sanatório geral do grande Buarque, com seus napoleões retintos e os pigmeus do Boulevard!

Carnaval no Rio eh o ápice da democracia embalada ao som de Baco! Todos os sotaques e classes sociais cantam em coro, pagam os mesmos $5 em duas latinhas e enfrentam a mesma grande fila dos mesmos fedidos banheiros químicos! Tudo é alegria e todos somos irmãos ali!

Freud teria amado a experiência, e na certa teria boas explicações para o fato que mais da metade (sem exagero!) dos foliões, que são tão homens por 360 dias por ano, aproveitam que eh carnaval e capricham na maquiagem, na mini saia e nos trejeitos, desfilando ali seu lado feminino em todo seu auge e bizarrisse...

quinta-feira, 3 de março de 2011

A criança em mim...

Antigamente, mil anos antes de existirem máquinas fotográficas digitais, em algumas revelações os laboratórios faziam uma coisinha engraçada: ao lado da foto no tamanho normal (que era menor do que o tamanho que se tornou padrão nos anos seguintes) seguiam duas miniaturinhas da mesma foto.

Uma vez minha mãe me disse que faziam isso porque as revelações eram caras, e assim as pessoas podiam recortar e dar as miniaturas pra alguém, tipo para cada uma das avós...

Fato é que um dia encontrei, não sei onde, as duas miniaturinhas (ainda coladas uma à outra mas longe da em tamanho normal) de uma foto minha, de quando eu devia ter uns 3 ou 4 anos. Estou eu sozinha, de shortinho e camisetinha, sentada na areia da praia, alguma praia, com as pernas à milanesa, numa posição que demonstrava minha mega flexibilidade. Tenho os cabelos curtos, como eu usava há uns poucos anos, bochechinhas e nariz marcados de hipoglós, e um sorriso de criança quando sorri pra foto. Olhando com atenção dá até pra ver meus dentinhos separados, que me dariam um apelido do tipo "Bob Esponja" se ele já tivesse sido criado...

Essa foto fica aqui colada no meu computador, no trabalho... olho pra ela e ainda me reconheço. Sou a mesma menina, de pensamento sincrético, perdida nos próprios pensamentos, brincando sozinha e feliz, sentadinha desengonçadamente...

Já tive medo dessa menininha, ela e o mundo pareciam não combinar, e eu temia a ela, e por ela... Um dia, pra proteger um do outro, prendi a pequena no porão da minha alma. Construí sobre o porão uma casa que combinava com a vizinhança, pelo menos o máximo que consegui. Ninguém sabia que minha casa tinha um porão...

Fiquei em pânico quando ela um dia me apareceu na sala de jantar. Havia achado a chave do porão e conseguiu sair de lá... foi com aquele sorriso da foto que ela me olhou, e eu gelei. Nada mais seria como antes.

Não sei se queria matar a menina quando a prendi, mas alegro-me hoje de vê-la tão bem. Ela conseguiu sobreviver e hoje está bem mais forte. Vejo que conserva sua pureza, sua alegria e seu brilho, e mesmo que continue não combinando com o mundo, já não temo tanto o encontro dos dois... pelo menos não por ela. Acho até que o choque fará bem pro mundo, essa vizinhança anda meio decadente...

Hoje convivemos bem, eu e ela, e posso dizer que nunca fui mais feliz!

Olho as pessoas ao meu redor, tantas casas duras e cinzas, e me pergunto: será que todas tem um porão, e cada um tranca ali sua criança?

quarta-feira, 2 de março de 2011

sonhos...

Ando tendo sonhos ruins...

Anteontem eu era perseguida, e pra me esconder pulava num tanque enorme... era o lago dos crocodilos, em algum lugar tipo um zoológico, e o maior deles, rosa, vinha pra cima de mim... tinha mais alguém na água comigo, uma mulher mais velha que estava ali pra me ajudar... mas na hora que o crocodilo veio, era a mim que ele queria pegar... eu, mesmo dentro da água, consegui segurar a bocona dele aberta, e abrí-la ainda mais... peguei uma corda, amarrei ele e o bati contra umas árvores que haviam no centro do tanque, e o matei... nessa hora as pessoas que me perseguiam chegaram e iam me pegar dentro do lago, mas alguém, talvez a mesma mulher mais velha, me ajudou a fugir correndo por um campo na lateral...

Ontem eu era outra pessoa, uma mocinha loira e adolescente, e estava com um amigo, um adolescente magrelinho e cheio de espinhas, tomando um suco numa barraquinha de rua... de repente cái um avião na rua, quase em cima de nós... ele (o avião) estava me perseguindo também. Depois eu estava num carro, parecia uma ambulância, com duas mulheres e talvez esse meu amigo... o carro era parado num lugar tipo um beco, e as mulheres começaram a se agarrar, parecendo drogadas... elas transaram ali, como se o mundo não existisse, e do lado havia uma outra moça tendo uma overdose... poderiam ser prostitutas, não sei... quase na hora de ir embora dali, eu abracei a moça da overdose... ela estava toda com cortes nas pernas e braços, sangrando, e meu jaleco branco, até então bem limpinho, ficou todo sujo do sangue dela... depois disso fui embora e acordei.

O desta noite foi menos bizarro... eu saia com amigos e conhecia um moço bonito. Ele queria ficar comigo, mas eu disse que eu já tinha meu amor, que ele estava longe, mas que era só com ele que eu queria ficar...

Serão os monstrinhos buscando brechas pra sair do fundo do armário? =/

terça-feira, 1 de março de 2011

diamonólogos!

Percebi que escrevo como se estivesse falando com você, um 'você' hipotético e rocambólico que passa desavisado e de soslaio me lê.

Pensei que você, seja lá quem você for, talvez ache que isso é estranho, que me falta um parafuso, que eu possa ter distúrbios de personalidade ou que talvez seja uma paranormal e saiba que você está aí. Provavelmente você na verdade nem ache isso estranho, e só ache estranho eu estar cogitando que você estranhe...

Então, caso você ache estranho, as minhas explicações pra vossa senhoria é de que escrevo pra mim... e é assim que vivo comigo, do maior dos monodiálogos, dos diamonólogos. Não, não fique chateado e desiludido por eu não escrever pra você... veja bem... eu sou muito mais feliz por saber que você me lê! Sério mesmo! Mesmo que você nunca me deixe comentários e tal, eu sei que você me leu e fico feliz! Mas sei que nem sempre você tem tempo, e nem sempre lembra, então pra que eu possa sempre continuar escrevendo, é pra mim que escrevo. E depois leio! E fico feliz! Mais feliz ainda quando você, seja lá quem for, me lê!

E, se por acaso você não acha nada disso estranho, você merece um abraço por ser assim!

Pra quem busca certezas na vida:

Sinto dizer, não há mais verdades absolutas. Li no livro, é verdade, pode parar de procurar.

Mas não precisa ficar tristinh@... Toma uma frase para reflexão:

"Já que ninguém pode nos oferecer um conhecimento verdadeiro, socialmente relevante, que devamos repetir cegamente como aprendizes, teremos de aprender a construir nossas próprias verdades relativas que nos permitam tomar parte ativa na vida social e cultural".

Aniversário da pandemia!

  Brasil. Pandemia. Vai fazer um ano... um ano de isolamento. Um ano de crianças sem escola, um ano de homeoffice . Um ano agradecendo que n...