sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A véspera da véspera!

De um natal sem cara de natal, pelo menos pra mim e pra várias das pessoas que me cercam. E, na verdade, tanto faz.

Estando no trabalho, em um dia muito mais calmo do que os de costume, permito-me tirar um tempo para avaliar o ano. 2011. Ano ímpar, os que mais gosto!

Li um pouco do que escrevi aqui, desde o começo, e senti a sensação boa de reencontrar um velho e grande amigo. Às vezes me leio e pergunto: "quantos anos essa pessoa tem? De onde vêm essas ideias? Por que ela pensa assim?". Só sei a resposta da primeira, mas ela não diz nada sobre todo o resto.

Meu caminho, assim como o seu e o de todo mundo, teve atalhos, avessos de atalhos e desvios. Eu costumo pegar os maiores caminhos pra chegar em qualquer lugar, ando mais do que o necessário, "perco" mais tempo do que precisaria, mas cansei de me stressar com isso. Na vida noto que olhando daqui, todo o caminho fez sentido. Fez sentido estudar em um colégio onde me sentia estranha e excluída, pois de lá surgiram duas de minhas irmãs de alma, que até hoje caminham comigo. Fez sentido fazer engenharia, pois falou alto aos nós que me constituem, e me ajudou a ver muita coisa, sobre mim e sobre o mundo... e me trouxe até aqui! Fez sentido os amores que vieram e se foram, cada um na hora certa, fazendo com que hoje eu seja esta pessoa aqui, com um amor que permanece, e que é um total "estar no lugar certo no mundo". Fez sentido tudo que comecei e larguei, e faz sentido o que comecei e quero acabar, a psicologia que entrou tardiamente na minha vida, mas que casou com minha alma e me fez mais eu.

Ano ímpar, vida ímpar, com os pares que na vida vêm.

Desejo a todos e todas a felicidade que eu sinto.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Buraco no peito

Fundamentalismo (by Calligaris)

CONTARDO CALLIGARIS

Sentidos do fundamentalismo

"O fundamentalista não consegue praticar normas que ele prega e sente inveja de quem não as respeita"

Eis uma (pequena) contribuição ao debate sobre fundamentalismo que se deu, recentemente, na Folha (artigos de Ives Gandra da Silva Martins, 24/11, e Daniel Sottomaior, 8/12; cartas dos leitores Antônio Ilário Felici e Francisco Guimarães, 9/12; coluna de Hélio Schwartsman, 10/12).

Fundamentalista é, antes de mais nada, quem leva a sério sua convicção e segue à risca os preceitos que derivam dela.

Se você for católico, não se divorciará nem comerá carne na Sexta da Paixão; se for judeu, no sábado, evitará ligar a luz elétrica; se for muçulmano, não tomará álcool e, caso seja mulher, circulará de véu fora de casa; se for ateu, não invocará a misericórdia divina, nem mesmo em momentos de extremo perigo.

Meu pai era convencido de que existem mistérios para os quais qualquer resposta seria desonesta.

Nesse seu agnosticismo, ele era fundamentalista no sentido que acabo de definir. Um dia, quando meu irmão e eu éramos já adultos, ele quis que prometêssemos que, se ele, na agonia, pedisse a assistência de um padre, nós lhe negaríamos esse recurso, considerando que sua sanidade mental teria se perdido no aperto acovardado da última hora.
Prometemos. Por sorte, ele morreu sem pedir conforto religioso algum. Se ele tivesse pedido, não sei se eu teria mantido minha promessa; à diferença dele, eu não sou fundamentalista: decido e escolho segundo as circunstâncias e não por princípio.

Mesmo assim, tenho respeito, se não simpatia, por esse tipo de fundamentalismo. E acho que todos deveriam poder levar (e viver) suas convicções a sério, se assim quiserem -claro, nos limites básicos impostos pelos códigos Penal e Civil, que regem a convivência social.
Mas tenho pressa de chegar ao outro sentido, pelo qual fundamentalista é quem exige que os preceitos que derivam de suas convicções ou de sua fé sejam observados por todos -ou mesmo que eles se transformem em lei da sociedade inteira.

Esse tipo de fundamentalista, seja qual for sua convicção, religiosa ou ateia, é animado pela necessidade de converter os outros, a qualquer custo. Em geral, ele acha que a violência de seu espírito "missionário" é um corolário de sua fé e uma prova de sua generosidade: "Forçando o outro a se converter, eu só quero seu bem, mesmo que seja contra a vontade dele".
Com esse tipo de fundamentalista, eu implico, por duas razões.
Primeiro, detesto que alguém esconda sua violência atrás de pretensas boas intenções e não gosto da ideia de que um outro imagine saber o que é "bom" para mim.

Segundo, não acredito que alguém possa querer converter os outros à força por generosidade.

Há duas razões pelas quais, em regra, alguém quer impor as normas de suas convicções aos outros, e ambas são péssimas:
1) Ele precisa que ao menos os outros respeitem essas normas, que ele preza, mas não consegue impor a si mesmo -ou seja, incapaz de obedecer a seus próprios princípios, ele quer validá-los pela obediência forçada dos outros;
2) Ele quer se livrar da inveja que ele sente da vida dos que não respeitam essas mesmas normas (para assinalar a componente de inveja, presente nos moralistas, Alfred Kinsey, o grande sociólogo e sexólogo, dizia que "ninfômana" e "tarado" são os que conseguem ter uma vida sexual mais intensa do que a da gente).


Em suma, os motores de muitos fundamentalismos missionários são a incapacidade de viver à altura dos preceitos pregados e a inveja de quem não respeita esses preceitos.

Por isso, no debate (ou na gritaria) entre homossexuais e evangélicos, por exemplo, nem preciso decidir se gosto mais de Oscar Wilde ou do apóstolo Paulo.

Pois, bem antes e independentemente disso, a oposição relevante é a seguinte: os homossexuais não pretendem que os evangélicos passem todos a transar com parceiros do mesmo sexo ou a frequentar baladas gays, enquanto os evangélicos pretendem que os homossexuais se convertam e renunciem a seu desejo (transformado em "pecado") -ou, no mínimo, que eles sejam impedidos de viver segundo suas próprias disposições e convicções.

Ou seja, para se situar nessa oposição, não é preciso escolher entre as ideias e as práticas das partes, mas entre os que querem regrar a vida de todos segundo seus preceitos e os que preferem que, nos limites da lei, todos possam pensar e agir como quiserem.
Assim sendo, como se diz na roleta, "façam suas apostas".

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Até indignação tem limites!

Eu não vi e espero não ver o vídeo da enfermeira maltratando o pequeno cachorrinho. Ela está mais do que errada, nada justifica, foi um ato covarde e cruel e ela deve ir para a cadeia por isso. Estou, como boa parte dos seres humanos, indignada e chocada.

Mas tudo tem limite. Ninguém no mundo é santo pra propôr linchamento dessa mulher. Com certeza tem muita gente que maltrata animais e pessoas por aí se sentindo no direito de exigir punição com tortura pra infeliz...

Eu não sou católica, mas esse tipo de coisa me lembra a pobre da Geni... Será que ninguém entendeu quando Jesus disse "que atire então a primeira pedra aquele que nunca pecou"?

Isso se junta ao meu post anterior. Vamos cada um cuidar do próprio umbigo e parar de se sentir senhor da vida alheia, né? Mundo podre...

Uma bandeira pra chamar de minha!

Quem me conhece sabe o quanto a "questão de gênero" me ferve o sangue.

A mim, uma pessoa bem sucedida, integrante do sexo e do gênero feminino, bem sucedida no mundo como indivíduo, independente do sexo e do gênero, muita gente nem compreende minhas indignações.

Discuto com homens e mulheres o que é ser mulher no mundo. Eles e elas, discordando de mim, usam argumentos diferentes.

Os homens acham que as mulheres reclamam de barriga cheia, que elas podem tudo que os homens podem, que tem muito mais gente sofrendo muito mais (ex.: negros, pobres, deficientes, feios). Até entendo, eles são homens, é bem dificil mesmo pensar a partir do umbigo alheio... colocar as pessoas em caixinhas tem vantagens e desvantagens, mas posso garantir que as mulheres negras sofrem mais do que os homens negros, e as mulheres pobres sofrem mais do que os homens pobres, e as mulheres deficientes sofrem mais do que os homens deficientes, e as mulheres feias sofrem mais do que os homens feios. Okey, isso não vem ao caso. Sei que eu teria dificuldade de defender que o funk é melhor do que a MPB, está fora do meu espectro possível de compreensão, então entendo que temos um limite até onde conseguimos compreender o diferente (mas aceitar é diferente de compreender!)

As mulheres que me contextam dizem que tá tudo certo, tudo bom, que o que as mulheres conquistaram nessas várias décadas de lutas só fez tirá-las da paz que era ter "de graça" um lar e um marido pra chamar de seu, que estamos pior agora, ou que já estamos bem demais, melhor do que poderíamos querer. Também me dizem que homens e mulheres são diferentes e pronto (porque Deus quis, ou porque a natureza fez assim), e que buscar algumas igualdades é absurdo (e deixam nas entrelinhas que acham "natural" a mulher ceder mais, ser mais submissa, mais doce, mais pacata, mais amorosa, mais meiguinha, mais frágil, mais dependente). Esses argumentos fervem ainda mais meu sangue (elas são também mulheres, oras bolas!) mas busco compreender que o discurso do "senso comum" se entranha mesmo nas cabeças das pessoas aparentemente mais bem esclarecidas, e quem nem todos sentem na pele as dores que eu consigo sentir.

Dito tudo isso, e não me excusando de entrar nos debates sobre gênero que frente a mim aparecerem, posso afirmar: NÃO SOU FEMINISTA.

Não é essa a bandeira que quero chamar de minha, não é só contra o machismo que levanto minhas armas, porque isso é um pedaço pequeno do problema que me incomoda.

Voltando a(o)s negr@s, pobres, deficientes, fei@s, acrescentando a el@s @s homossexuais, bissexuais, transexuais, obes@s, carecas, albin@s, idos@s... o que realmente me aflige é que tod@s ess@s sofrem preconceitos e discriminações de indivíduos que, por não terem aquela característica específica que @s coloca nesses grups de "minorias" (minoria não como um conceito matemático, mas social), se sentem superiores e, pior, no direito de externar essa superioridade.

Minha bandeira é pela aceitação da diferença, da diversidade. Que ninguém se sinta obrigado a deixar de ser o que é, que ninguém se sinta ameaçado pelo estranho, pelo novo, pelo não igual. A luta que, para mim, faz sentido é a luta pelo fim do encrencamento com o umbigo alheio.

Se sou espírita e você é crente e ela é budista e ele é muçulmano, que Deus desça aqui na Terra "em pessoa" pra dizer quem tá errado.
Se você é vascaíno e fulano é flamenguista, dê graças a Deus que não são todos torcedores de um único time, pois não haveria contra quem torcer, não haveria jogo, o futebol seria pra sempre um treino.
Se eu sou negra e você é branco, que diferença isso faz no meu caráter, ou no seu? Talvez menos do que eu usar botas e você sandálias, eu gostar de vermelho e você de verde, eu ouvir samba e você rock. Ou o mesmo tanto: nada.

Porque tudo isso que é usado pra diferenciar é tão superficial, e todos temos só uma vida, morreremos igual... Se ninguém é melhor que ninguém, só os babacas que se acham melhores merecem baldes de água fria. Vamos parar de implicar com quem tem exatamente o mesmo direito de ser e existir como qualquer um de nós, independente de sexo, raça, biotipo, "perfeição física ou mental", time, gosto musical, orientação sexual, profissão (aqui me permito excluir torturadores, assassinos de aluguel e coisas do tipo), cor predileta, sotaque, opinião...

Que não nos sintamos ameaçados pelo (e nem ameacemos o) diferente: é essa a minha bandeira.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Homenagem

Hoje redecorei o blog.
Hoje acordei às 5:40h da madrugada para pegar um avião e retornar a essa minha querida e adorada roça.
Hoje fui renovar meu passaporte e esperei longos tempos na fila, e tomei chuva e tentei, com algum sucesso, proteger-me das nuvens de água que ônibus e carros lançavam aos pedrestes que o destino pôs caminhando sobre a rodoviária na hora do almoço.
Hoje almocei um sanduiche natural bem ruim.

Mas hoje Saramago me fez, como está fazendo há dias, companhia, e para comemorar a inspiração e a nova cara desse blog, permitir-me-ei copiar aqui um trecho de "O homem duplicado", sobre a questão dos subgestos:

"É costume dizer-se, por exemplo, que Fulano, Beltrano ou Sicrano, numa determinada situação, fizeram um gesto disto, ou daquilo, ou daqueloutro, dizemo-lo assim, simplesmente, como se o isto, ou o aquilo, ou o aqueloutro, dúvida, manisfestação de apoio ou aviso de cautela, fossem expressões forjadas de uma só peça, a dúvida, sempre metódica, o apoio, sempre incondicional, o aviso, sempre desinteressado, quando a verdade inteira, se realmente a quisermos conhecer, se não nos contentarmos com as letras gordas da comunicação, reclama que estejamos atentos à cintilação múltipla dos subgestos que vão atrás do gesto como a poeira cósmica vai atrás da cauda do cometa, porque esses subgestos, para recorrermos a uma comparação ao alcance de todas as idades e compreensões, são como as letrinhas pequenas do contrato, que dão trabalho a decifrar, mas estão lá."
E, para finalizar com alegria essa segunda-feira fantástica, um conselho do senso comum saramaguiano:

"Devias saber que estar de acordo nem sempre significa compartilhar uma razão, o mais de costume é reunirem-se pessoas à sombra de uma opinião como se ela fosse um guarda-chuva."

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Cansacinho-fim-de-ano

Sei que o ano está no fim pelo meu cansaço.

Tudo fica chato, a preguiça reina imperiosa, querendo me isolar do mundo.
E é época de festas e confraternização! E eu vou em todas! E me divirto! Mas lá dentro toca o sino que resmunga que preferia estar em casa, longe de tudo, imóvel, calado, deitado.

Não sei de onde me veio a sensação de que a virada do ano dá um reboot na máquina, reinicia, renova, refresca, revive, reanima. Mas me veio, acompanha-me, é quase eu.

O cansaço vai crescendo, acumulando, com os dias de dezembro, e na virada do dia 31 ele some.

Que venha 2012!

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

o gato e a roda

O gato brigou com a roda,
debaixo de uma garrafa!
O gato saiu girando
e a roda toda arranhada!

O gato ficou contente,
a roda foi duvidar!
O gato deu um mugido
e roda não entendeu nada.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Uma lição portuguesa!

Podemos até achar graça e rir, mas há uma sabedoria enorme escondida nas entrelinhas do modo português de falar das coisas.

Vários casos me foram relatados em que, ao se perguntar a um cidadão lusitano se alguma coisa é boa, a resposta é: pra quem gosta, é.

Simples, né?
Ele não é o dono da verdade e nem sabedor do bom gosto universal.
Ele não pensa que seu gosto é preferência intergalática, que se for bom pra ele é bom e ponto, ou que se for ruim ninguém poderá gostar. Ele não dá sua opinião como se fosse a única possível, nem coloca sua vontade como regra.

Ele responde da forma mais óbvia e isenta de julgamentos possível: é bom pra quem gosta, pra quem não gosta é ruim.

Concordo. E tenho dito.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Texto que eu concordo sobre um babaca capaz de estragar mais do que uma sexta-feira.

Bolsonaro faz insinuações contra Dilma na tentativa de liderar o neofascismo no Brasil
Tags:Bolsonaro, Fascismo, homofobia, racismo - walterfm1 às 12:49

http://maierovitch.blog.terra.com.br/2011/11/25/bolsonaro-faz-insinuacoes-contra-dilma-na-tentativa-de-liderar-o-neofascismo-no-brasil/

O deputado Jair Bolsonaro continua a sua difícil luta para se firmar como o principal líder dos movimentos neofacistas brasileiros

Para conquistar essa sua meta, Bolsonaro, que é capitão do Exército e restou eleito pelo estado do Rio de Janeiro, lança mão de ataques homofóbicos e racistas.

Meses atrás, Bolsonaro comportou-se indecorosamente num programa televisivo recordista de audiência: num quadro do programa CQC da Rede Bandeirantes, ao responder pergunta formulada pela cantora Preta Gil sobre qual reação teria na hipótese de um seu filho namorar uma mulher negra, Bolsonaro externou posição racista que a Constituição da República considera crime inafiançável: “Eu não corro esse risco e meus filhos foram muito bem-educados”. Logo depois, Bolsonaro terçou arma e empunhou a da covardia. Assim, ele tentou trocar racismo por homofobia. Isto porque a homofobia ainda não está tipificada como crime próprio, ao contrário do racismo.

Em abril deste ano e diante das manifestações de Bolsonaro, organizou-se um protesto na capital de São Paulo contra a homofobia e o racismo. Os que protestaram, –não fosse a intervenção da Polícia Militar–, quase foram agredidos fisicamente por delinquentes convocados pela internet por “fascistóides bolsonarianos”. Como se sabe, os neofacistas e neonazistas não gostam de discutir idéias e preferem a força física destruidora como argumento.

Na última quinta-feira, Bolsonaro, da tribuna da Câmara e a pretexto de criticar o kit anti-homofobia preparado pelo governo federal, insinuou que a presidente Dilma Roussef era homossexual: - “ “Dilma Rousseff, pare de mentir. Se gosta de homossexual, assuma. Se o teu negócio é amor com homossexual, assuma. Mas não deixe que essa covardia entre nas escolas do primeiro grau”.

Mais uma vez, Bolsonaro foi indecoroso. Espera-se seja, por seus pares, processado pela falta de decoro parlamentar. De se frisar já ter o PSOL, por três fatos indecorosos, representado contra Bolsonaro na Comissão de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados. Esse Conselho, por 10 votos a sete, arquivou a representação em 29 de junho passado.

Toda vez que é chamado à responsabilidade, Bolsonaro fala em Constituição e nos princípios referentes à liberdade de expressão e a imunidade parlamentar. Suas colocações, no entanto, baseiam-se na Constituição de 1967, elaborada pela ditadura militar.

A imunidade parlamentar não é mais igual à colocada pelos militares na Constituição de 1967, quando, pelo seu artigo 34, os crimes de opinião no exercício do mandato eram cobertos por imunidade absoluta. Os demais crimes (não de opinião), careciam de licença da Câmara para que a ação penal fosse proposta perante a Justiça.

Hoje, a Constituição, no seu artigo 53, assegura imunidade com natureza jurídica de causa de exclusão de pena. Mas, trata-se de imunidade quando as manifestações estão correlacionadas com o exercício do mandato e a defesa da sociedade.

Com efeito. Todo cidadão, pela atual Constituição, pode se manifestar livremente. Só que está sujeito às restrições legais e poderá, por exemplo, ser processado por crimes de injúria, calúnia e difamação. No âmbito parlamentar, fica sujeito à quebra do decoro.

Pano Rápido. Vamos aguardar seja instaurado o devido processo disciplinar contra Bolsonaro que vem num crescer. Esquecem os fascistas que todos os brasileiros têm liberdade de opção sexual. E todos são iguais. Afinal, o que interessa, para um país, a opção sexual de um alto dirigente, seja do Judiciário, do Legislativo ou do Executivo ?

–Wálter Fanganiello Maierovitch–

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

que dó...

Cada vez que o Bolsonaro abre sua boca preconceituosa uma pessoa de alma boa morre de úlcera.

Ainda bem que eu também não sou obrigada a gostar de todo mundo.

Por mim o trem dele apodreceria e cairia, de forma bem dolorida... kkkkkkkk

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Num guentei! (não é meu)

sei que o assunto já tá velho (eles estão a cada dia menos duráveis, é a tal da obsolescência programada) e que eu tinha escrito que não mais escreveria nada hoje, não faria mais post, calar-me-ia até não sei quando, mas não aguentei:

Lingerie (Sátira da Hope)

- Querido?

- Hum?

- Posso falar com você?

- Claro.

- Olha para mim?

- Pronto. Desculpe... Ei, nós vamos sair?

- Não, por quê?

- Então porque você está trocando de roupa?

- Não estou me trocando.

- Então porque você está só de calcinha e sutiã?

- Porque eu quero falar com você.

- Mas você precisava estar sem roupa?

- Sim.

- Você não está doente, está?

- Como assim?

- Você aparece aqui quase sem roupa e dizendo que precisa conversar. É sinal que eu vou ter que apalpar algo. Não é câncer de mama, né? Você sentiu algum caroço?

- Não é nada disso!

- Ok, mas você precisa concorda comigo. Eu apareço na cozinha vestindo cuecas e dizendo que preciso conversar com você. Aposto que você ia pensar na mesma hora que era sobre aquele meu joelho bichado.

- Não. Eu iria achar sexy.

- Oi?

- Sim, eu acharia sexy. Você não me acha sexy com esse lingerie?

- Acho. Essa calcinha fica bem em você. Era isso?

- Não. Eu quero contar uma coisa.

- Diga.

- Eu bati o carro hoje.

- Pelo amor de Deus! Quando? Você está bem?

- Mas não foi nada grave... Só arranhou a porta lá na entrada do prédio.

- Quando foi isso? Você se machucou?

- Não, não. Eu estou bem, só me assustei um pouco.

- Mas quando foi isso?

- Foi agora, quando cheguei, faz uma meia hora.

- Mas não está doendo nada? Tem certeza? Quer ir ao hospital?

- Não, estou bem. Pode ficar tranquilo.

- Mas por que você não me avisou? Você entrou em casa, me deu oi, saiu e voltou de novo!

- Então, é porque eu fui até essa loja comprar a lingerie.

- Oi?

- Sim, esta que estou usando.

- Essa calcinha é nova?

- Sim.

- Espere. Deixe eu entender. Você bateu o carro, entrou em casa, e não falou nada. Saiu, foi comprar uma calcinha, voltou, vestiu e decidiu falar sobre o carro?

- Isso.

- Maristela, você está bem?

- Claro. Eu já disse, não machucou.

- Não, não é isso. Você não poderia ter entrado em casa e falado “arranhei a pintura do carro, mas estou indo ali comprar uma calcinha e já volto”?

- É que eu queria estar sexy para você.

- Por causa do carro?

- Sim.

- Mas não tem porque ficar bonita para isso!

- Eu queria.

- Você não bateu a cabeça quando bateu o carro? É normal ficar um pouco desorientada...

- Claro que não! Estou ótima!

- Mas por que você quis ficar sexy para me contar que a porta do carro está amassada?

- Ai, Alfredo... Vem cá para perto...

- Para de esfregar as mãos nos seios! O que você está fazendo?

- Você não gosta?

- Claro que gosto, mas você acabou de bater o carro! Não faz sentido. Bater o carro te excita?

- Claro que não!

- Porque você está estranha.

- Ai Alfredo... Estou apenas seduzindo você.

- Mas e o carro? Você não está nem aí?

- Não, e você?

- Não, eu fiquei aliviado por que você não se machucou. Mas fiquei aliviado, e não morrendo de tesão.

- Ai, Alfredo... Você é tão devagar...

- Tem certeza que isso não te excita? Eu vi um filme uma vez...

- Chega, Alfredo.

- É sério. As pessoas se excitavam com porrada de carros...

- Desisto.

- Você não é assim, é? Teve aquela vez que eu dei ré e enfiei o carro num poste e você não ficou assim. Se ralar a pintura deixou você acesa desse jeito, aquela vez deveria ter deixado você em ponto de bala. Foi uma baita pancada.

- Como você é grosso, Alfredo!

- Não, eu só não entendo a lógica da coisa. Você bate o carro e vem aqui de lingerie me contar. A gente vai comemorar?

- Ai, Alfredo, esquece!

- Não, eu quero saber. É como se fosse um aniversário de casamento? Esta é a nossa primeira porta amassada do casamento, então você coloca uma calcinha nova, vamos abrir uma champagne... É isso?

- Esquece!

- Não, senhora! Quero saber de onde você tirou essa ideia!

- Não. Vou para o quarto colocar uma calça.

- Primeiro, responde. De onde você tirou essa ideia?

- Eu vi na TV, ok?

- Quê?

- Vi uma propaganda que diz que a lingerie sexy ajudar a contar notícias ruins para o marido.

- Oi?

- É. É isso. Pronto, falei! E você cortou o clima!

- Sério, Maristela... Eu não fiquei bravo porque você bateu o carro, eu fiquei preocupado com você. O carro que se foda. Pára de alisar a barriga e fazer biquinho!

- Esquece, Alfredo. Você é insensível demais!

- Não tem lógica! Quer dizer que se eu perder o emprego, tudo o que preciso fazer é entrar em casa, tirar a roupa e ficar usando uma cueca nova para te contar a novidade?

- Eu vou para o quarto!

- Isso. Eu vou descer para ver o carro e você vai colocar uma roupa.

- Pode apostar que eu vou! Você nunca mais vai me ver de lingerie!

- Para de gritar, Maristela. O que é isso? Essa nota aqui?

- Que nota?

- Maristela, você pagou oitenta paus nessa calcinha!

- Não é calcinha, é lingerie!

- Oitenta reais? Nisso aí?

- Sim! Porque eu queria que você não se magoasse com o carro!

- Eu não me magoei! Mas oitenta reais!? Com oitenta reais eu compro cuecas para uns dez anos! E ainda pego umas meias!

- Alfredo, você é um insensível mesmo.

- Não importa! Oitenta reais?

- Eu queria que você não ficasse bravo com o carro!

- Não estou bravo com o carro, mas sim com você pagar oitenta reais numa calcinha!

- Não é calcinha! É lingerie!

- Você que vai pagar a funilaria desse carro, Maristela!

http://champ-chronicles.blogspot.com/2011/09/lingerie.html

E pra terminar por hoje,

já que é sexta-feira e eu estou com a macaca (muito fofa a macaca!), eu queria redigir aqui minha humilde e inquieta opinião sobre pessoas que se preocupam com a sem graceira que o mundo (tadinho!) poderia(ou poderá) ficar se de repente (ooohhh) não se puder mais fazer piadas sobre mulheres (loiras, morenas, gostosas, barangas, dramáticas, românticas, sentimentais, burras, barbeiras), homossexuais, negros, pobres e deficientes.

Pessoinhas, garanto a vocês que o mundo não vai perder a graça (se é que hoje ele tem alguma)!!! Dou 100% de garantia! Humilhar as pessoas ditas "minoria" (ou por serem mesmo minoria ou por terem menos poder e visibilidade, como no caso das mulheres)não é engraçado. É até meio ridículo.
Assim, você pode até achar graça, foi criado rindo de Costinha, Trapalhões, Caco Antibes, Escolinha do professor Raimundo entre outros, mas o mundo (eba!!) tem mudado. Essas coisas nunca foram certas, mas hoje os/as que eram humilhad@s, zoad@s, serviam de objeto para as gargalhadas alheias começam a ter voz e auto estima suficiente pra dizer: ei, péra lá, já deu!

E eu repito: ei, péra lá, já deu! Era pra nunca tem precisar ter dado, mas o passado foi como foi, passou, agora chega!

O mundo vai continuar tendo tanta graça ou até mais do que teve até hoje. Porque existe o humor inteligente, existe o humor bobo que não ofende ninguém, existe aquele momento de bobose que temos vez em quando com nossos amigos, existem situações que são engraçadas e não machucam ninguém, e existe a graça das coisas! Juro procê!

Então, se você defende fulaninhos tipo aquele indivíduo do cequecê com medo do "politicamente correto" deixar o mundo "chato", tá na hora de rever seus conceitos...

Espero que esse desabafo não se aplique a você, e que se for o caso de se aplicar, que te faça refletir um pouco, se colocar na posição de quem foi rebaixado para que nós pudessemos rir...

Bom final de semana!

=)

E isso mata. (trouxe pra cá)

– Mas os homens também não são vítimas de violência doméstica, não são?

Com certeza, são. Mas as grandes vítimas da violência doméstica são as mulheres, as crianças (os meninos, mais a física; e as meninas, mais a sexual) e os idosos. Tanto que, segundo estudos feitos no Brasil e no exterior, mais de 90% das violências perpetradas contra a mulher ocorrem no ambiente familiar, e o agressor é pessoa conhecida – freqüentemente, o parceiro. Já entre os homens é o inverso. Mais de 90% dos atos de violência são cometidos por outros homens, geralmente desconhecidos, e em espaços públicos.

- Eterno ser imperfeito, objeto de prazer, consumo ou de pancada de outrem...

Seria saudável para todos nós se tragédias anunciadas como a morte de Eliza Samudio ou o estupro da adolescente de 13 anos por outros três adolescentes na casa de um deles, servissem para que Estado e sociedade como um todo refletissem e agissem para diminuir o número escandaloso de mulheres assassinadas ou estupradas por seus companheiros diariamente no Brasil. Teríamos menos Elizas, Mércias, Eloás, Julienes e seus bebês, Marias Islaines, Orestinas…

Nossa taxa de feminicídio é bem superior à média de outros países. Segundo o Mapa da Violência no Brasil no período de 1997 a 2007 dez mulheres foram assassinadas por dia, na maioria por seus companheiros atuais ou antigos maridos ou namorados. Segundo Mayra Kubik Mano, a cada quinze segundos uma mulher é espancada no Brasil!

A antropóloga Debora Diniz com muita propriedade argumenta: “A violência não é constitutiva da natureza masculina, mas sim um dispositivo cultural de uma sociedade patriarcal que reduz os corpos das mulheres a objetos de prazer e consumo dos homens.”Quando temos consciência de que não é natural o desrespeito e, não raro, a violência física, moral, psicológica com que somos tratadas e denunciamos, somos ridicularizadas com o velho e recorrente discurso que nem mesmo os editores e chargistas do Pasquim abriram mão.

De nós é exigido um corpo belo mesmo que não sejamos modelos ou atrizes pornôs.
...

Nosso corpo ainda é coisificado e muitas vezes nos cansamos e nos adequamos. Vivemos, aceitamos e cultuamos a juventude e um determinado padrão de beleza (geralmente branco, magro, loiro e de olhos azuis) e relegamos ao segundo plano todo ser ‘imperfeito’ fora deste padrão. Permitimos que meninas negras com apenas sete anos sejam eletrocutadas no banheiro devido a um curto circuito em uma maldita chapinha usada para transformar seus cabelos crespos ‘imperfeitos’ em algo ‘apresentavel’.

Fazemos as mulheres depois dos quarenta serem muitas vezes tratadas como ridículas, porque querem recuperar sua juventude a qualquer custo.

Se a mulher exige de nós o direito de envelhecer com dignidade alcunhamos a de ‘tia velha, mal-humorada’. Se tem consciência de que sua experiência sexual permite que todo o seu corpo, com ou sem gordurinhas e celulites, ou alguns fios de cabelo branco, exerça desejos; se ela sabe que nada disso a impossibilita de dar e obter prazer junto ao seu companheiro, também não é valorizada.

Não criamos caprinos, devemos formar homens e mulheres saudáveis.

Pré-julgamos mulheres que não seguem as normas impostas pela falocracia, mas consumimos o corpo feminino oferecido em diferentes suportes midiáticos.

http://www.viomundo.com.br/blog-da-mulher/sexismo-emburrece-e-mata.html

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

... e quando compra, compra mesmo! (não é meu)

Ana Arantes: O Sexismo Benevolente
por Conceição Oliveira do Blog Maria Frô, twitter: @maria_fro

http://www.viomundo.com.br/blog-da-mulher/ana-arantes-o-sexismo-benevolente.html

Como prometido neste post: Hope, o repeteco da propaganda sexista e a burrice publicitária, reproduzo mais um texto que ‘desenha’ o quanto a propaganda da Hope é sexista.

O Sexismo Benevolente

Por Ana Arantes, em seu blog


Então que a marca de lingerie Hope pode ter que tirar de circulação a peça publicitária com a Gisele – meodels, a Gisele de novo… – porque a Secretaria de Políticas para Mulheres do governo federal entendeu que “a propaganda promove o reforço do estereótipo equivocado da mulher como objeto sexual de seu marido e ignora os grande avanços que temos alcançado para desconstruir práticas e pensamentos sexistas”.

À parte meia dúzia de feminazis, a escorchante maioria das pessoas achou o filmete no máximo “engraçadinho”. O que é que tem, gente!?!??! Agora não pode nem fazer uma piadinha?!?!? Bando de mal-amadas. As mulheres já conquistaram direitos iguais aos dos homens, já conquistaram os bancos escolares e os cargos importantes nas empresas, pra quê tanto mimimi?!?!

Se você concorda com as frases do parágrafo acima, no todo ou em parte, você é, SIM, sexista. Independente de seu gênero, você se comporta de modo a perpetuar determinadas relações interpessoais baseadas na desigualdade social entre homens e mulheres. E pior: você pode estar agindo dessa maneira sem nem mesmo dar-se conta. Você pode ser um “Sexista Benevolente”.

O Sexismo Benevolente é aquele que, sem ser ostensivo ou agressivo, reforça a idéia de que “mulheres são seres frágeis”, “não foram feitas para trabalhos pesados” e, portanto, devem ser cuidadas e tuteladas pelos homens. A ideologia do Sexismo Benevolente baseia-se na pretensa diferença de “força” entre homens e mulheres e se infiltra nas atitudes cotidianas disfarçada de “demonstração de carinho”, “cuidado com a mulher” e até mesmo de “cavalheirismo”. Mas, diferentemente do sexismo explícito, aquele obviamente machista e misógino, ou do sexismo “moderno” que não quer aparentar machismo, mas “o que essa dona queria, saindo de casa assim com essa roupa provocante?”, o Sexismo Benevolente é insidioso, porque aparenta positividade.

O sexista benevolente nunca dirá que lugar-de-mulher-é-na-cozinha, mas sempre reforçará sua namorada com elogios, beijos e carinhos por ter feito aquele jantar maravilhoso; e será bem comedido nos comentários sobre a promoção da namorada ao cargo de gerência. Nas palavras de Becker & Swin (2011):

“…as qualidades, aparentemente positivas e lisonjeiras, embutidas (e, portanto, despercebidas ou não reconhecidas) nas normativas relações desiguais de gênero, escondem o mal que o Sexismo Benevolente promove e incentivam a sua aprovação.” (Becker e Swin, 2011).

Essas autoras – sim, são duas mulheres – propuseram uma série de estudos experimentais sobre a percepção de homens e mulheres acerca do sexismo presente em seus cotidianos. Os resultados mostraram que quando as pessoas são forçadas a prestar atenção a comportamentos sexistas, elas tendem a não tolerar a discriminação com tanta facilidade. Porém, como era de se esperar, homens respondem negativamente ao machismo explícito e ao sexismo agressivo, mas quando se trata do Sexismo Benevolente, é preciso mais do que “atentar” para se tornar sensível. Os homens do estudo de Becker & Swin (2011) só passaram a reagir negativamente às expressões de Sexismo Benevolente depois de uma intervenção em que foram treinados a ter empatia, a colocar-se na situação de uma mulher e a discernir quais eram seus (delas) sentimentos. Para um homem, “as crenças tradicionais sobre relacionamentos românticos entre homens e mulheres (por exemplo, a crença de que homens são incompletos sem uma mulher, ou de que todo homem deve ter uma mulher a quem adorar)” não são consideradas expressões de sexismo. Já para as mulheres que foram ensinadas a perceber expressões sexistas disfarçadas de bajulação, essa frase foi significantemente considerada como sexista. Já as mulheres do grupo de controle, que não foram sensibilizadas para atentar aos comportamentos e atitudes sexistas, os resultados se assemelhavam aos dos homens tanto do grupo de controle, quanto do grupo experimental no que dizia respeito ao Sexismo Benevolente.

“Estes resultados sugerem que as mulheres endossam crenças sexistas porque lhes falta o reconhecimento de formas sutis de sexismo, porque subestimam incidentes sexistas e não percebem o valor agregado do sexismo em suas vidas diárias.” (Becker e Swin, 2011)

Algumas brigas a gente compra...

http://www.viomundo.com.br/blog-da-mulher/custo-do-machismo-no-pais-de-rafinha-placas-e-pinos-no-braco-porque-disse-nao.html

(copiando)

14 de outubro de 2011 às 19:56
Custo do machismo no país de Rafinha: placas e pinos no braço porque disse “não”
por Conceição Oliveira do Blog Maria Frô, twitter: @maria_fro

Sexta feira passada eu e mais nove blogueiras feministas tivemos um encontro fantástico com a ministra Iriny Lopes, discutimos muitos assuntos, entre eles o caso Hope, Rafinha Bastos e outros. Preciso escrever a respeito, mas estou aguardando o vídeo que está sendo editado por uma das blogueiras que fez uma captação profissional.


Há boas notícias para as mulheres: em dezembro, ocorrerá a 3a Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres que já reuniu em mais de 2 mil municípios mais de 250 mil mulheres discutindo políticas públicas voltada para nós.

Uma de minhas questões para a ministra Iriny Lopes versou sobre o fato da pouca comunicação que existe na Secretaria para que os brasileiros entendam quais são as suas atribuições, quais são suas realizações, sua dimensão, seu orçamento, sua autonomia, já que, apesar do status de Ministério, as Secretarias como a de Direitos Humanos, a SEPPIR e a SPM estão ligadas à Presidência da República.

Ao conhecermos a real importância de uma Secretaria como esta talvez possamos parar de negar o machismo secularmente entranhado em nossa sociedade, parar de rir de ogros, parar de achar que a publicidade que trata mulheres como objeto e não como um sujeito de vontades e escolhas e ainda diz que o certo é ser objeto seja uma boa publicidade. Talvez entendamos que é impossível não apoiar ações institucionais que lutem também contra a violência simbólica presente nos programas de humor sem graça alguma. Quem sabe assim, rapazes como o que agrediu a jovem potiguar compreendam, finalmente, que quando dizemos não, queremos dizer: NÃO!

A foto e os depoimentos abaixo foram retirados de O Globo

Rhanna Diógenes, 19 anos, passou por cirurgia para colocação de placa e pinos no antebraço direito (Foto: Arquivo pessoal)

“Estava conversando com minha amiga em um sofá, quando ele se aproximou e já tentou me beijar. Eu disse que não e me afastei. A partir daí, ele começou a me xingar com palavras que me recuso a repetir.”
(…)
Foi aí que ele apareceu de novo, tentando me beijar. Eu expliquei para ele que não o conhecia, que não era para ele fazer aquilo. Ele agarrou meu braço com muita força, como que se fosse me levar para outro lugar. Eu joguei o refrigerante nele e ele me empurrou pelo braço até o chão.”
(…)
Com um ele me empurrava para o chão e com o outro ele puxou o braço para cima. (…) Era muita dor. Vi meu braço virado e só pensava em segurá-lo, meu braço ficou solto.”

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Não entendi...

A quem a RedeBobo tá ajudando fazendo uma super reportagem antecipando todos os passos da polícia quanto a ocupação e pacificação da favela da Rocinha.

Ela quer alertar a todos os traficantes o quando e como a polícia pretende chegar lá, pra eles não serem pegos de surpresa???

Eu sou meio lerda ou o que?

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Um presente pra quem, por não merecer, merece.

Para você, pessoa não fofa!

Tenho uma coisa a te falar... Você já devia ter sido informado disso há muito tempo, mas o mundo é como é e não como devia ser.

Então lá vai uma verdadezinha que você ta precisando:

Você não é melhor do que ninguém.

Isso mesmo, você é tão especial e tão comum quanto qualquer outro ser que habita este planeta.

Se um dia sua mamãe ou outra pessoa querida te convenceu que você era melhor do que quem quer que fosse, e você se acha mesmo no direito de agir a partir deste ponto deturpado de vista, meus lamentos:

és mais um babaca no mundo.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

eu acho...

... que quando acordamos lentos e lerdos pelas horas sambadas e bebidas e não dormidas, o mundo devia dar uma pisadinha no freio pra que o acompanhássemos melhor.

É só minha opinião...

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Amor às palavras!

Eu as amo.
Amo principalmente as escritas e as cantadas.
As escritas porque, por serem mais organizadas, trazem consigo mil ideias nas entrelinhas, as estrelinhas.
As cantadas porque trazem escondidas as emoções de alguém,e com elas, as minhas.

Amo ainda mais as palavras que leio ou ouço e que combinam tanto com o que está dentro de mim que me faz feliz a constatação de que alguém as pôs pra fora. Assim, posso pegar emprestadas de outros as palavras que melhor explicam o que não sei bem dizer, mas que é meu.

Tenho agora, recente, um novo amor, um velho amor alimentado por novas palavras. Não é a pessoa que amo, mas as ideias, forma e conteúdo, que conseguiu tirar de sua cabeça e pôr no papel. Um jeito que me parece mais claro e óbvio, menos cego de olhar o mundo. Alguém que diz de um jeito bonito e sensato o que quase grito em meus momentos de ira: o mundo confunde causa e efeito, e justifica o que há de errado pela existência do erro.
Ok, não grito assim, como pode ser visto no post abaixo. Eu fico irada, agressiva e maleducada, e praticamente chamo de estúpidos os que não conseguem ver o que chega a me queimar os olhos. Sou (ou estou) assim, indignada e raivosa. Mas não é sobre raiva o post, é sobre amor.

Palavras, eu amo vocês!

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O ovo e a galinha

As pessoas que se utilizam do argumento "mas é a mãe que educa os filhos para serem machistas" pra justificar que então a culpa é da mulher se ela sofre as coisas que sofre deviam parar pra pensar. Deviam ler algumas coisas. Deviam se aprofundar um tiquinho que seja no raciocínio... Aliás, todo mundo devia, pensar não faz mal a ninguém. Mas essas pessoas, em especial, deviam parar de exibir sua ignorância com tanto orgulho.

As mães não são alienígenas. Elas não vêm de Vênus pra parir e educar seus filhos na Terra. Elas foram paridas e criadas nesse mesmo mundo onde se tornam mães. Elas foram educadas numa certa cultura, com certos costumes, e desde a língua que falam até o modo como se vestem foram possibilidades que tiveram por estar onde estavam.

Se vem da cultura a linguagem que se aprende a falar, e se é com essa linguagem que aprendemos a pensar, então quanto do mundo de fora está presente no nosso pensamento? Ou alguém acha que é imune às idéias do mundo? Não somos. O mundo tem ideias demais e quem pára pra pensar pode escolher as que mais lhe agradam, se afastar das que não concorda, e agir conforme seus valores. Quem não pára pra pensar engole o que tá mais perto, faz uma digestão mal feita e sái vomitando babozeiras irrefletidas mundo afora, tipo dizer que as mulheres são as culpadas do machismo. É muita ingenuidade acreditar que cada mãe escolhe racionalmente o modo como vai criar seus filhos, totalmente desvestido do modo como ela mesma foi criada. Que ela deixa seu passado pra trás, deleta a vida que viveu a vida toda e então planeja uma educação que racionalmente faça sentido. Todo ser humano deixa transparecer nos seus atos a história de vida que o levou até ali...

Mas não há determinismo. A reflexão pode mudar tudo... Saiamos do piloto-automático e pensemos. Pensemos um pouco sobre o mundo, tragamos as belas teorias das universidades pra nossa vida cotidiana, que é o lugar delas. Vamos parar de repetir ideias preconceituosas sem pensar... Não há preconceito que resista a uma boa reflexão.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Rebeldia

Sonhei com um fulano que, indignado com o mundo, resolveu ser contra as leis.
Mas ele não era burro, não queria ir pra cadeia, então depois de muito pensar escolheu as leis que poderia transgredir sem punição pela justiça dos homens: as leis da natureza.
Agora ele só anda de costas e está aprendendo a levitar.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Enfim, a chuva...

Aqui na minha cidade maquete o clima pode ser dividido em "não chove nunca" e "chove pra sempre".

De ontem pra hoje foi a noite da transição... depois de mais de três meses sem uma gota d'água se jogar das parcas nuvens, de um sol esfuziante, de um clima de deserto, de um abafado e seco tempo incendeador de matas cor de palha, eis que ela chega, tímida, lenta, singela, ela, a chuva.

Eu confesso que prefiro a seca e o sol.
Confesso que andava apaixonada pelo contraste das árvores de pipoca da minha maquete, os ipês brancos, com aquele céu sem nuvens, azul enevoado pela poeira seca suspensa. Confesso ainda o pecado de gostar do cheiro das queimadas que ocorrem no cerrado... é feio, eu sei, queria que não queimassem, mas o cheiro me remete a um lado bom da infância, tem cheiro daquele barulho de língua estalada no céu da boca!

Pouco importa minha preferência, agora ela chegou, e veio pra ficar, pra sempre! Céu cinza, tempo úmido, carros batidos, buracos e poças d'água.

Já já eclodirão dos ovinhos milhares de milhões de aleluias, aquelas formigas com asas que me disseram ser cupins, aquela nuvem de insetos abobados que parecem brotar do chão e que saem se chocando com tudo, grudando nas coisas, perdendo as asas no seu vôo bêbado em direção a focos de luz.
E logo as cigarras cantoras da primavera iniciarão seu coro de panela de pressão, irritando uns e alegrando outros, como tudo nessa vida.

Época de botas (isso eu adoro)e guarda-chuvas, de cabelos mais arrepiados do que o normal, de tomar vinho e ver filme em casa, de se entregar com menos culpa à preguiça.

Época de flores, flores, flores, e o eixo principal da maquete fica todo tinto de árvores de Grayskull, com grandes copas rosas, adornado cá e lá de árvores de copa amarelo-uno-novo-marca-texto! Fica lindo, tirando o céu molhado...

Choverá pra sempre, nada mais vai queimar, não vai faltar água, os plantadores terão colheita, os asmáticos e riníticos voltarão a respirar e mesmo eu, que prefiro o sol e o seco e o quente, eu hei de achar mil coisas pra curtir na primavera que se inicia com chuva eterna.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

E essa coisa que não passa...

O mundo me cansa. E cansa não só a mim, mas a todo mundo.

Todo mundo se cansa do cansaço que o mundo dá.

O mundo cansa todo mundo.

Porque as pessoas cansam as pessoas, e se cansam das pessoas, elas mesmas.

E as coisas, que nunca se cansam, nos cansam, porque pesam, porque sujam, porque ocupam espaço, porque ficam no caminho, porque existem. E nos cansam também as coisas que não existem, e talvez nos descansasse sua existência. Como se existissem as coisas erradas e não existissem as coisas que deveriam existir. Porque o que foi feito pra descansar cansa mais.

Essa coisa que não passa é um azedo na minha alma cansada.
Um cansaço que sono não tira, cerveja não tira, samba não tira, cachoeira não tira, abraço não tira.
É um azedo cansaço da matéria mesma que me estrutura, das coisas mesmas que me construíram, um cansaço de falar comigo, de pensar com minha voz e do meu jeito, de ocupar algum espaço nesse mundo cansativo.

E não passa, essa coisa...

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Super exposição, dessensibilização, banalização

Hoje, mais uma vez, o jornal da hora do almoço (no canal televisivo de maior ibope) mostrou pessoas sofrendo nas filas de hospitais públicos.

Ontem a manchete de outros jornais era os casos de pais, no Brasil e na Áustria, que mantinham suas filhas como prisioneiras e escravas sexuais, desrespeitando o que é, de acordo com a psicanálise, a lei primordial: a interdição do incesto. Estupro incestuoso e pedofilia, tudo junto.

Anteontem a notícia foi o grupo de crianças, de cerca de 13 anos de idade, que invadiram um hotel, roubaram uma camareira, foram pegos pela polícia e levados pra Fundação Casa, onde destruíram várias coisas antes de voltar pra rua.

Pode-se afirmar: O mundo está ficando pior!
Mas... será que podemos?

Poderíamos dizer que isso tudo sempre aconteceu, mas que agora nós, mais evoluídos e vitaminados e fofos que somos, ficamos mais chocados, menos tolerantes...
Será que isso é verdade?

Problematizando um pouco o que a mídia faz, acho fundamental buscarmos um olhar um pouco mais amplo, menos tapado.

Quem tem direitos leva junto responsabilidades. Pelo menos na teoria.

O papel da mídia é comunicar, informar. Ela não produz (ou não deveria produzir) informações, ela simplesmente a edita e traz até nós. Claro, antes de editar ela escolhe quais informações vai trazer. E se coloca como imparcial, como se não selecionasse, escolhesse o ponto de vista e o modo de edição. Apesar disso, ela não comete os crimes que traz pra dentro de nossas casas. Os crimes estão no mundo, são cometidos por outros humanos e nos chocam.

No momento, esse é o meu foco. Nos chocamos 3 vezes no jornal da manhã, mais umas 4 no jornal do meio dia, ficamos horrorizados com as notícias do jornal da noite, mesmo já as tendo visto (e já tendo ficado chocado com elas) durante o dia, acompanhando o mundo pela internet. Mundo que não pára um segundo de produzir informações que a mídia seleciona, foca por um certo ângulo, edita e traz pra dentro das nossas vidas.

A questão toda é que é mais do que sabido que nossa capacidade de nos supreendermos com as mesmas coisas é limitadíssima. Você sái na rua um dia e vê uma moça com franjão e calça de cintura alta. Você se choca: "Meu Deus, que coisa, essa moda bizarra ressuscitou das catacumbas do inferno?!".
Aí você continua andando e vê três mulheres juntas, amigas, todas de franjão e roupas de cintura alta, saias e calças. "Nó-cinhoura, ressuscitaram mermo... o mundo ta perdido...".
No dia seguinte, sua colega de sala chega de franjão e a dita calça. Você acha ela legal, olha com olhos um pouco menos críticos, e pensa "nela até que nem fica tão feio..."
Depois de uma semana sua melhor amiga adotou o look e, com mais duas semaninhas, vc passeando no shopping se apaixona por uma calça de cintura lá no pescoço! Experimenta e se sente liiiiiiinda! Sái de lá, vai no salão e pede pra fazer um mega franjão, que afinal combina tão bem com a nova vestimenta! A essa altura do campeonato, você é capaz de jurar que sempre achou tudo isso de extremo bom gosto!

Você assiste na TV um crime homofóbico. Fica horrozidado com a crueldade e a insensatez. Você fica sabendo de outros. A novela do tal canal, inspirada pela vida como ela é, cria uma cena de espancamento e assassinato de um jovem homossexual (a cena da novela te "choca" ainda mais que os crimes reais). Nas semanas seguintes, pipocam vários outros casos na mídia (ninguém se questiona se eles já estavam lá e virou moda mostrar, ou se quanto mais se noticia, mais a história se repete). Fato é que passam-se alguns dias e alguém comenta que um jovenzinho da sua cidade foi atacado por ser homossexual, e você não se choca mais. É capaz de falar algo do tipo "que coisa triste!" ou "é, o mundo ta assim", ou "essas coisas acontecem...". Você não se choca mais. Não fica com aquele ódio e indignação que te fariam mudar o mundo com as próprias mãos. Você simplesmente não consegue mais se chocar, porque o organismo humano não foi feito pra achar que as coisas repetidas são novidades.

Dessensibilização: "É o antônimo de sensibilização. Des(retirar) sensibilidade.
Método terapêutico com que se destrói ou diminui a hipersensibilidade existente em certos indivíduos alérgicos."

Éramos alérgicos à corrupção, à violência, à injustiça, ao descaso, à crueldade. Mas há anos estamos sendo dessensibilizados. Nossos organismos vão desistindo de reagir. É a sábia natureza, evitando que gastemos mais energia do que o necessário com coisas que, afinal, são tão comuns...

A mídia se isenta da responsabilidade: ela só noticia.

Hoje me choca a banalização e a dessensibilização a tudo que há de inaceitável, causada pela super exposição aos agentes alergênicos. Estamos virando um mundo de apáticos.

Mas sabe lá Deus quanto tempo leva até que até isso fique tão constante que eu nem com isso me choque mais...

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Viva o Momofuku!!

Acabo de descobrir que hoje é o DIA MUNDIAL DO MIOJO!

Velho companheiro de outras madrugadas, em várias das vezes em que só havia ele no meu armário pra acalentar meu estômago embriagado, eu pensei que seu inventor deveria ganhar um premio Nobel.
Em momentos vários em que a preguiça era praticamente do tamanho da fome, tantas vezes ele me salvou a vida, quentinho, sabor tomate, com ou sem requeijão cremoso ou queijo mussarela... Mamãe fazia refogadinho com carne e milho, e eu já criei tantos bons yakissobas... Miojo com feijão, miojo com o resto do strogonofe, miojo...

Pois hoje, enfim, descobri não só que já existe um dia intergaláctico em homenagem a esse salva-vidas como descobri toda sua história!Peço licença aos jornalistas do Terra pra colar um trechinho aqui...

"Em 1958, logo após a 2ª Guerra Mundial, o japonês Momofuku Ando começou a observar as longas filas que se formavam para a compra de comida durante o período de racionamento. Foi pensando nisso que ele criou um macarrão que fica pronto em apenas três minutos - a ideia ganhou o mundo e chegou ao Brasil em 1965."

É isso, mesmo que hoje eu evite o hiper consumo dessa iguaria, devido a seu alto altíssimo grau de sódio (que é sal), digito com todo o ar dos meus pulmões:

VIVA O MOMOFUKU!!!!!!

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O mal e eu

O mal é um assunto que me interessa.
Interessa-me do tanto que não gosto dele, e interessa-me pela consciência do mal que há em mim.
Há. Eu sou má. Eu sinto ódio. E impaciência.
Tenho vontade de torturar com minhas próprias mãos as pessoas que abusam de crianças.
Tenho vontade de dar chutes, com bota de ponta fina, nas partes baixas dos homens mais machistas, mostrando a eles que o que julgam ser um objeto tão cheio de poder é, na verdade, um de seus pontos mais fracos.
Tenho ganas de devolver em dobro o sofrimento que os cruéis inflingem aos "inocentes", aos mais fracos.
A intolerância e agressão ao diferente, essa atitude de se fazer superior pela força física, pra mim expõe toda a fraqueza e medo do agressor. Mas do agressor não tenho dó, tenho raiva.
Meu sangue é quente e corre rápido pelas veias, e eu sou, também, má.

Mas também não sou só má, e a isso me apego. Sei que é com sorrisos e boas ações, com respeito e carinho pela humanidade do outro, que posso ter alguma chance de ajudar o mundo a ser um mundo um pouco melhor. Não vai ser com meu ódio e minhas botas que desentortarei os outros, por mais vontade que de vez em quando eu sinta.

Há em mim, junto ao ódio, muito amor. Acho que somos todos assim.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Outra Saudade!

Saudade de escrever.

É uma espécie de encontro comigo, e sempre acho interessante ver de fora como eu penso.

De junho veio julho e agosto já é agora. Coisas aconteceram. Muitas.

Um mês passeando pelo velho continente, de praias escaldantes a frio, várias línguas pra eu não entender, nhoques ao redor do universo, colo colo e colo.

Ver minha mana, a irmã que achei no mundo, e ver a filhotinha dela, foi uma experiência mágica. Foi um daqueles momentos em que a realidade de que crescemos e somos adultas se choca contra nós como um caminhão na contra mão. Pouco importa se nossas cabeças ainda se parecem tanto com o que eram há 17 anos atrás, hoje somos adultas... Eu sou tia, e minha sobrinha é a coisa mais fofa e gostosa do universo!!! A mana é mãe, com tudo que essa palavrinha traz junto. Somos adultas!

Em Roma, porque temos boca e para lá rumamos, vi todo o potencial malévolo que um volante e quatro rodas são capazes de despertar num ser humano. Bárbaros dirigindo, ignorando a cor daquele bagulho que foi inventado pra tentar pôr ordem ao caos que gente+máquina+velocidade+próprio umbigo são capazes de criar. Pedrestes correndo pra atravessar a rua no sinal favorável a eles, como se estivessem num jogo de videogame no qual o objetivo dos carros é atropelá-los. Eu era pedreste: ô vontade de tacar pedra nos vidros dos bárbaros!

Civilização romana... kkkkkkk
E de lá viemos, de lá e de tantos outros lugares, de lá viemos... e vivemos, até hoje, com a culpa do pecado original, a culpa pela alegria, a culpa pela saúde, a culpa pelo lazer, a culpa pelo luxo, a culpa pelo prazer. Tanta culpa errada. Uma culpa que não nos faz mais humanos... que cosa triste.

Mas as férias foram fantásticas, e eu trouxe de volta o pedaço do meu coração que tinha ficado meses longe. É aqui a vida real, e ela é boa pra caramba.
Cá estamos nós, de volta à cidade do inverno mais quentinho e ensolarado e seco do mundo, minha maquete querida, de céu opressor de tão claro, azul e enorme, e suas ruas cartesianas, ipês amarelos...

E esse texto não tem muita coerência. Bem, é assim que me sinto hoje.

Que seja uma sexta-feira estrambólica!











sexta-feira, 17 de junho de 2011

Junho e as canjicas

Hoje tem festa junina!
Comentei com duas amigas que conto os minutos pra poder comer canjica...
Na verdade, sinto que fico desde final de julho até junho seguinte esperando junho pra comer canjica!

E pensar nisso me faz pensar em como nos impedimos de ser felizes...
Canjica não é fruta da estação, não tem época, não dá no frio!! No mercado ano inteirim tem mí de canjica! E leite condensado! E leite! E minduim ou côco ralado! E canela em pó!!! Ano inteiro!!! E por queeeee, meudeuuuuuussssssss, eu sofro o ano todo esperando as canjicas de festas juninas que só acontecem em junho??
POR QUEEEEE???

Seria tão mais fácil ser feliz o ano inteiro se eu ao menos parasse pra pensar que muitas das coisas que me fazem feliz são tão simples!!!

Aliás, isso me leva a pensar em outra coisa que estive pensando, porque pensar é assim, um trem sem fim.
Pensei que o preço da sofisticação é a insatisfação.
As pessoas sofisticadas, apreciadoras ferrenhas de bons vinhos, uísques e culinária chique, de música de altíssima qualidade, elas sofrem. Tenho dó. Quase nada é suficientemente bom pra elas. Pensa, que vida de merda!
Chega numa festa, um ralabuxo, um rastapé, só tem pinga, cachorro quente, uns churrasquim, talvez uma pamonha ou um pão de queijo, um quentão, uma canjica, uma cerveja das comuns, toca um forró, um sertanejo, um brega, um pop, qualquer coisa, e essas pessoas ficam com cara de * no canto, torcendo o nariz, achando tudo ruim, péssimo, monstruoso! É infelicidade demais, meu pai! É pior que esperar a canjica desnecessariamente por 11 meses, é um sofrer pra sempre!! Porque essas pessoas, mesmo no ambiente delas, num restaurante mega carérrimo, com um vinho de trocentos reais e um prato de outros trocentos reais com 100 gramas de comida perfumada e artisticamente decorada, elas não são felizes!! Porque o nariz delas já é torcido e é muito provável que nada alcance as expectativas idealizadas de perfeição palatar que elas têm!

Ah, neeem... Chamem-me de esquisita, de eclética, de avacalhada, de teletubbie, de pé-na-jaca, de dramática, de passional, de instável... whatever, sou feliz!
É forró? Eba! É MPB? Amo! É rock? Massa! Só tem pinga? To dentro! Só tem cerveja? Qual o problema? Só tem vinho? Pra que mais?? Só tem pão de queijo? =D Pra mim tá bom!! Tá quase tudo quase sempre bom! Sofisticação bem próxima do zero, mas a satisfação lá no alto! Se não é pra ser feliz, pra que que é?

Como um advogado dá uma laranja

Um professor perguntou a um dos seus alunos do curso de Direito:
- Se você quiser dar a Epaminondas uma laranja, o que deverá dizer ?
O estudante respondeu:
- Aqui está, Epaminondas, uma laranja para você.
O professor gritou, furioso:
- Não ! Não ! Pense como um Profissional do Direito !
O estudante respondeu:- Ok, então eu diria:
- Eu, por meio desta, dou e concedo a você, Epaminondas de tal, CPF e RG nºs., e somente a você, a propriedade plena e exclusiva, inclusive benefícios futuros, direitos, reivindicações e outras dicações, títulos, obrigações e vantagens no que concerne à fruta denominada laranja em questão, juntamente com sua casca, sumo, polpa e sementes, transferindo-lhe todos os direitos e vantagens necessários para espremer, morder, cortar, congelar, triturar, descascar com a utilização de quaisquer objetos e, de outra forma, comer, tomar ou, de qualquer forma, ingerir a referida laranja, ou cedê-la com ou sem casca, sumo, polpa ou sementes, e qualquer decisão contrária, passada ou futura, em qualquer petição, ou petições, ou em instrumentos de qualquer natureza ou tipo, fica assim sem nenhum efeito no mundo cítrico e jurídico, valendo este ato entre as partes, seus herdeiros e sucessores, em caráter irrevogável e irretratável, declarando Epaminondas que o aceita em todos os seus termos e conhece perfeitamente o sabor da laranja, não se aplicando ao caso o disposto no Código do Consumidor.
E o professor então comenta:
- Melhorou bastante, mas não seja tão sucinto...

(pra começar a sexta e voltar ao blog!)

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Enquanto isso, por aqui...

"A saudade não tem nada de trivial.
Interfere em nossa vida de um modo às vezes sereno,às vezes não.
É um sentimento bem- vindo, pois confirma o valor de quem é ou foi importante para nós, e é ao mesmo tempo um sentimento incômodo, porque acusa a ausência, e os ausentes sempre nos doem"

Martha Medeiros

terça-feira, 24 de maio de 2011

O tempo não pára/passa.

E assim seguem os dias, tropeçando em seus passos ora lentos, ora ligeiros.

Outro dia pensei no McDonald's. Deve haver alguns anos que não como lá, mas passo por alguns quase sempre, e pensei nele. E em como ele levam sua ideologia ao máximo: fast food = hambúrgueres pré-mastigados. Muito mais rápida a mastigação, a ingestão, a digestão. Coerente demais. Me gusta la coerência. Pero no me gusta el 'fast food'.

Ontem descobri um site de Termos Jurídicos. Fazia tempo que não me divertia tanto!!! Até consegui compreender o prazer dos advogados em falarem e escreverem de forma a não se fazerem entender! Se eu tivesse de estudar latim, e aprendesse tantas expressões fofas, porque não as usaria??

Aliás, usá-las-ei.

Aguardem!

quarta-feira, 4 de maio de 2011

"Pieces Of You"

Sobre os ódios gratuitos que sentimos pelos outros...

She's an ugly girl, does it make you want to kill her?
She's an ugly girl, do you want to kick in her face?
She's an ugly girl, she doesn't pose a threat.
She's an ugly girl, does she make you feel safe?
Ugly girl, ugly girl, do you hate her
'Cause she's pieces of you?

She's a pretty girl, does she make you think nasty thoughts?
She's a pretty girl, do you want to tie her down?
She's a pretty girl, do you call her a bitch?
She's a pretty girl, did she sleep with your whole town?
Pretty girl, pretty girl, do you hate her
'Cause she's pieces of you?

You say he's a faggot, does it make you want to hurt him?
You say he's a faggot, do you want to bash in his brain?
You say he's a faggot, does he make you sick to our stomach?
You say he's a faggot, are you afraid you're just the same?
Faggot, Faggot, do you hate him
'Cause he's pieces of you?

You say he's a Jew, does it mean that he's tight?
You say he's a Jew, do you want to hurt his kids tonight?
You say he's a Jew, he'll never wear that funny hat again.
You say he's a Jew, as though being born were a sin.
Oh Jew, oh Jew, do you hate him
'Cause he's pieces of you?

Jewel

terça-feira, 3 de maio de 2011

As pessoas e eu

Fui uma criança pra dentro.

Era tímida, caladinha, sem amigos, sempre em diálogos fantásticos comigo mesma.
Gostava de estudar, principalmente matemática, não gostava de esportes, não gostava de história, não gostava de geografia, adorava estudar inglês.

Eu não gostava das pessoas (família não conta!!) e justificava isso dizendo que elas também não gostavam de mim, então estava justo. E realmente, eu as via felizes e em grupos, conversando animadas, e aquele era um mundo que não me pertencia... Aliás, não me sentir pertencendo ainda hoje me é uma sensação comum...

Então mudei de escola, segundo grau, e convivi com mais centenas de pessoas que eu não gostei, e que sentiam o mesmo por mim. Ou eu sentia assim. Mas apareceu uma pessoa que senti ser do meu planeta. Éramos ali duas alienígenas, mas pelo menos éramos duas!

E minha resistência contra pessoas começou a diminuir... ano seguinte chegou e ela me apresentou mais uma alienígena, mais bem adaptada ao ambiente do que nós duas, mas ainda linda e louca como nós, alienígenas. Agora éramos três, e o mundo era bem mais doce! Acostumada a ser fechada em mim, ainda guardava vários recantos onde nem elas tiveram fácil acesso...

Por achar que pessoas "gostáveis" eram exceção, fui fazer engenharia. Enfiei-me em tantos cálculos quanto pude, mas fui achando pessoas legais pelo caminho! Aprendi a beber, deixei o cabelo crescer, não decidi trabalhar, cortei o cabelo, fiz tatuagem, botei piercing, calculei, calculei, frequentei shows de rock, frequentei micarês, aprendi a dançar forró e a vida foi mudando...

Hoje a matemática está meio abandonada... mas as pessoas... ah, as pessoas!

Hoje elas me encantam! Cada um é um universo, com seus próprios planetas, sóis e luas, conjunções astrais, gostos e medidas, risos e lágrimas... Cada um tem um abraço particular, uma voz e um jeito de falar, olhares particulares...
Hoje eu amo as pessoas!

Ao longo do meu ainda não tão longo caminho, fui aprendendo a amar a mim. Ô coisa difícil!!
Mas fui... confirmando o clichê, aprendi que realmente, quando não nos amamos, não acreditamos que alguém possa nos amar, e aí não amamos ninguém de volta.

Hoje eu amo muito.
E sei que cada relacionamento, incluindo os passados e os presentes, apresentou a mim mais de mim e mais do outro, outros mundos, outros universos, vários universos, tantas línguas e culturas, tanto tanto tanto! Tanto...

E são as pessoas, e só elas, que fazem a vida valer a pena. É por elas, o que nos inclúi sempre também a nós mesmos, é sempre por elas que levantamos da cama a cada dia, e que damos bom dia a quem cruza o nosso caminho, e é por elas que trabalhamos, estudamos, desejamos, fazemos, falamos, choramos, sorrimos, queremos, vivemos...

Dentre as pessoas, que amo no geral, existem algumas que particularmente amo mais, porque são parte de mim, porque me conhecem melhor, porque as conheço melhor, porque falam a minha língua, porque trocamos não só experiências, mas principalmente trocamos sentimentos e partilhamos nossas maiores riquezas.

A essas, procuro dizer "te amo", porque quero que elas saibam que, dentre todas as pessoas que há no mundo, são elas as mais especiais pra mim. E isso pode não ser grande coisa, mas é o que tenho de mais valioso: o meu amor.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

7% - não é meu, mas gostei!

Escrito por Regina Brett, 90 anos de idade, em uma coluna no The Plain Dealer, Cleveland, Ohio.

"Para celebrar o meu envelhecimento, certo dia eu escrevi as 45 lições que a vida me ensinou. É a coluna mais solicitada que eu já escrevi."

Meu hodômetro passou dos 90 em agosto, portanto aqui vai a coluna mais uma vez:

1. A vida não é justa, mas ainda é boa.

2. Quando estiver em dúvida, dê somente o próximo passo, pequeno .

3. A vida é muito curta para desperdiçá-la odiando alguém.

4. Seu trabalho não cuidará de você quando você ficar doente. Seus amigos e familiares cuidarão. Permaneça em contato.

5. Pague mensalmente seus cartões de crédito.

6. Você não tem que ganhar todas as vezes. Concorde em discordar.

7. Chore com alguém. Cura melhor do que chorar sozinho.

8. É bom ficar bravo com Deus. Ele pode suportar isso.

9. Economize para a aposentadoria começando com seu primeiro salário.

10. Quanto a chocolate, é inútil resistir.

11. Faça as pazes com seu passado, assim ele não atrapalha o presente.

12. É bom deixar suas crianças verem que você chora.

13. Não compare sua vida com a dos outros. Você não tem idéia do que é a jornada deles.

14. Se um relacionamento tiver que ser um segredo, você não deveria entrar nele.

15. Tudo pode mudar num piscar de olhos. Mas não se preocupe; Deus nunca pisca.

16. Respire fundo. Isso acalma a mente.

17. Livre-se de qualquer coisa que não seja útil, bonito ou alegre.

18. Qualquer coisa que não o matar o tornará realmente mais forte.

19. Nunca é muito tarde para ter uma infância feliz. Mas a segunda vez é por sua conta e ninguém mais.

20. Quando se trata do que você ama na vida, não aceite um não como resposta.

21. Acenda as velas, use os lençóis bonitos, use roupa chic. Não guarde isto para uma ocasião especial. Hoje é especial.

22. Prepare-se mais do que o necessário, depois siga com o fluxo.

23. Seja excêntrico agora. Não espere pela velhice para vestir roxo.

24. O órgão sexual mais importante é o cérebro.

25. Ninguém mais é responsável pela sua felicidade, somente você..

26. Enquadre todos os assim chamados "desastres" com estas palavras 'Em cinco anos, isto importará?'

27. Sempre escolha a vida.

28. Perdoe tudo de todo mundo.

29. O que outras pessoas pensam de você não é da sua conta.

30. O tempo cura quase tudo. Dê tempo ao tempo..

31. Não importa quão boa ou ruim é uma situação, ela mudará.

32. Não se leve muito a sério. Ninguém faz isso.

33. Acredite em milagres.

34. Deus ama você porque ele é Deus, não por causa de qualquer coisa que você fez ou não fez.

35. Não faça auditoria na vida. Destaque-se e aproveite-a ao máximo agora.

36. Envelhecer ganha da alternativa -- morrer jovem.

37. Suas crianças têm apenas uma infância.

38. Tudo que verdadeiramente importa no final é que você amou.

39. Saia de casa todos os dias. Os milagres estão esperando em todos os lugares.

40. Se todos nós colocássemos nossos problemas em uma pilha e víssemos todos os outros como eles são, nós pegaríamos nossos mesmos problemas de volta.

41. A inveja é uma perda de tempo. Você já tem tudo o que precisa.

42. O melhor ainda está por vir.

43. Não importa como você se sente, levante-se, vista-se bem e apareça.

44. Produza!

45. A vida não está amarrada com um laço, mas ainda é um presente.

terça-feira, 19 de abril de 2011

ciscos

Acho que ontem havia um cisco no meu olho.

Não tenho como ter certeza, pois não o vi... e mesmo se visse não saberia, pois nunca vi um cisco. Não sei com o que se parece, nem mesmo sei se existem ciscos naturalmente na natureza, voando em busca de olhos desprevenidos.

Pra saber se era, teria de saber o que é um cisco.
Já me perguntei isso no passado, e a única conclusão a que cheguei é que cisco é uma categoria funcional: cisco é qualquer coisa de tamanho mínimo que caia no olho de alguém. Se estiver voando, é poeira ou fuligem, cílio, sujeira. Caiu no olho vira cisco.

Mas que fique claro, na minha definição acima, cisco não é igual "caiu na rede, é peixe", porque os peixes existem fora das redes!

Que triste a vida de um cisco, que só existe quando dentro do olho de alguém...

Pensando melhor, o cisco é a síntese da fenomenologia: enquanto ser existente só existe no mundo se afetar os sentidos de um outro ser, no caso o olhar do indivíduo que, incomodado com sua presença, pisca.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

#EuSouGay

Um post de apoio ao projeto, porque estou 100% de acordo:

http://projetoeusougay.wordpress.com/

Contra a intolerância, e contra o ódio.

Porque eu tenho intolerância e ódio de sobra dentro de mim.
Porque escolhi direcionar meu ódio em prol de um mundo melhor.
Porque me incomoda as pessoas se incomodarem tanto com a vida alheia.
Porque me irrita que algumas pessoas se sintam superiores só por serem "normais", isto é, estarem dentro da norma.
Porque me deixa indignada essas pessoas humilharem ou agredirem o diferente, agressão essa que me parece ter como única justificativa a insegurança.
Porque acho que a aceitação do outro, com suas peculiaridades e sua individualidade, com seus gostos e preferências, com seu jeito especial e único de ser, é a única forma de um dia termos paz no mundo.
Porque sei que, como eu, todos somos maus. E todos somos bons. E a pior maldade é querer caracterizar o outro como mal e errado só pra que eu me sinta bom e certo.
Porque me desespera o rumo que o mundo está tomando, com muros cada vez maiores pra separar "eles" (os errados e maus) e "nós" (os certos e bons).
Porque parece que não aprendemos nada com o nazismo, e continuamos no mesmo rumo...

(http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2011/04/14/apologia-a-crimes-como-o-massacre-de-realengo-rj-ganham-forca-na-internet.jhtm)

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Invasão inoportuna no laguinho dos peixes

Aqui no local em que trabalho, posso dizer que tenho uma posição (física) bem privilegiada. Minha mesa fica colada numa parede de vidro, de onde posso ver um tanto de céu (e ver se chove na asa norte ou na asa sul), posso observar as pessoas esperando o ônibus, consigo ver se o eixinho já tá engarrafado, o sol não bate direto porque a rampa faz uma sombrinha, e, o melhor de tudo, fico a apenas uns 2 metros do 'laguinho' das carpas.

É gostoso olhar pela janela e ver a calma dos peixes, hora em grupo, hora individulamente, nadando como se fossem alheios ao trânsito, ao tempo, às pessoas, ao trabalho que fazemos aqui nesse predio enorme, alheios a tudo... Dá uma paz... às vezes, stressada, olho pra eles e penso "quem dera ser um peixe..."

Às vezes me preocupo com elas... o 'laguinho' é raso, e como diz uma amiga, parece que elas só podem nadar horizontalmente, sem poder subir e descer o suficiente pra sentir a real liberdade de ser um peixe. A água também por diversas vezes parece bem suja... tem todo um lodo, umas folhas caidas das árvores próximas... as vezes algum papel de bala jogado no chão por algum cidadão não civilizado e trazido pelo vento...

Hoje, particularmente, boia a dois metros de mim uma folha de jornal barato, com mulheres seminuas em poses pornográficas, empinando seus "backgrounds" em direção à câmera que registrou talvez o melhor de cada uma delas...

Enquanto ela estiver ali, aberta, boiando, sei que a visão da minha janela me trará mais raiva do que paz... que cosa triste...

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Reclamando.

Faz tempo que não venho aqui para resmungar (pelo menos acho que faz).
Como fora daqui continuo resmunguenta, e bem sei que o ouvido dos outros não é pinico, como bem me ensinou a sábia Donana, vim aqui neste espaço que é meu, frequentado por você, e agora reclamarei:

TAM, você me irrita. Causa-me ódios. Dos grandes. Quase tenho gastrite só de pensar em TAM. TUDO que a TAM puder fazer pra fazer um ser humano comum passar raiva, ela fará. E cobrando caro por isso.

Ser humano comum sou eu, é você, brasileiro, que resolve as coisas meio em cima da hora, de vez em quando muda de idéia.

Se comprou passagem pela TAM, meu amigo, não mude de idéia... a não ser que a palavra úlcera lhe seja agradável.
Se você pagou x pela passagem, A TAM te cobrará 70% de x só pra você não mais ir pra lugar nenhum, rasgar seu dinheiro e ficar onde está; ou então ela vai te cobrar um valor altíssimo (mais ou menos x, podendo ser mais do que x) pra remarcar pra você, mas só pode remarcar o mesmíssimo trecho, pra outra data, e além do x que você pagou pela passagem e do y que você pagou pela remarcação, ela obviamente vai te cobrar a diferença de preço entre a nova passagem e x. E não adianta reclamar e saracutiar e bater a cabeça na parede, nem xingar as robóticas-tele-atendentes-padronizadas. Nada adianta:comprou TAM + mudou de idéia = se fu.

Além disso (como se não fosse suficiente) o site vive saindo do ar. O que só não é mais irritante porque na verdade não se pode resolver quase nada pelo site mesmo. Ele só serve pra você ter a ilusão de que a TAM funciona e é fácil comprar. Na verdade, é fácil comprar. A ilusão é sobre o "funciona".

Queria eu poder falar com o presidente dela... ops! Lá no site tem um "FALE COM O PRESIDENTE (SAC)"!!! Será que ele mesmo, pessoalmente, atenderia minha digníssima pessoa e ouviria com carinho meus resmungos??? Será????

Infelizmente, não creio.

Não posso acreditar que uma empresa tão insensível às variações do ser humano comum realmente disponibilize alguém com algum poder de decisão para ouvir as súplicas desses pobres (e otários) seres humanos, nos quais obviamente me incluo. Eles devem colocar outras robóticas-tele-atendentes-padronizadas pra no máximo anotar os nossos choros. Tenho certeza que o presidente, se um dia se der ao trabalho de ler as reclamações dos pobres (e otários) seres humanos feitos mais pobres por ele mesmo, gargalhará como o Esqueleto ao planejar dizimar o He-man da face de Etérnia!

Ficam aqui minhas pitombas. E mais uma vez reiterarei minha promessa de só comprar passagem TAM em ultimíssimo caso.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Quatro horas e você.

Quatro horas. Quatro horinhas só.
Suficientes pra que, quando eu acorde, você esteja indo almoçar.
Quando vou almoçar, você já está indo pra casa.
Quando vou pra casa, você já está pronto pra dormir.
Quando durmo, você já está quase acordando.
Sempre quatro horas a minha frente, e eu correndo atrás de você, o dia todinho, quatro horas atrás...

Corro atrás quatro horas atrás de você o dia todo, todos os dias, mesmo sabendo que só as ultrapasso e te alcanço com data marcada. E continuo correndo, porque o sentimento manda, manda que eu tente tente tente te alcançar. Sem escolha, corro.

Você está quatro horas no futuro, e no meu futuro todo, e atrás do meu futuro estou eu. Correndo. Torcendo pra que o tempo passe rápido (não quatro horas, mas três longos meses), para que, enfim, estejamos no mesmo momento, na mesma hora, no mesmo lugar.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Oposições simplistas

"Grande parte da história da Europa ocidental condiciona-nos a ver as diferenças humanas numa oposição simplista uma à outra: dominante/subordinado, bom/mau, acima/abaixo, superior/inferior. Numa sociedade onde o bem é definido em termos de lucro e não em termos de necessidade humana, precisa haver sempre algum grupo de pessoas que, através da opressão sistematizada, possa ser levado a se sentir excedente, a ocupar o lugar do inferior desumanizado. Dentro da nossa sociedade, esse grupo é constituído pelos negros, os terceiro-mundistas, os operários, os idosos e as mulheres."

Audre Lorde

quarta-feira, 30 de março de 2011

Meu 'amigo'.

Acordei com sono, ódio e dores.

Fui fazer um omelete, e um dos ovos estava podre.

O dia de trabalho foi mais irritante e tedioso do que de costume.

Cheguei em casa a noite, apertada, e o rolo de papel higiênico havia acabado.

Precisava e queria muito entrar na internet, mas a descobri cortada. Liguei na provedora, cortaram por falta de pagamento (de uma conta que eu nunca recebi).

Por causa do tempo perdido brigando com a provedora, só pude assar uns pães de queijo antes da aula... marca nova, nunca havia provado. Fui provar justo nesse dia: é horrível.

Após a aula, mais calma, fui lavar a louça. Quebrei a unha ao abrir um pote.

Descobri-me acompanhada durante todo esse dia por meu amigo Tomás Polidoro Murphy. Para os íntimos, Murphy ou TPM.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Segunda-Feira =/

Eu, assim como o Garfield e uma porcentagem grande da população mundial, não gosto de segunda-feira.

Ela é a antítese da tão amada sexta-feira! Enquanto a sexta traz em si a abertura de um mundo de possibilidades, a segunda traz o encerramento de tudo de bom que foi feito e a constatação de que várias coisas que deviam ter sido feitas não foram.

Cada segunda-feira é como um petit juízo final, onde se para uns instantes antes de ser engolido pela rotina e se pensa: "putz... pequei pra caramba, não fiz o que tinha que fazer e agora só terei tempo no próximo final de semana...". Essa ressaca moral pode ser ainda agravada por uma ressaca alcoólica, ou pior que isso, que é meu caso hoje, por uma TPM.

Cá estou, de ressaca moral e TPM, sentindo cansaço e ódio do mundo, pensando que melhor que ganhar na mega-sena (é com hífen mesmo) seria ter mais uns 15 dias de férias (e eu poderia dormí-los ou pegar o primeiro avião pra Portugal), ou ainda que os processos sobre minha mesa virassem chocolate: comería-los todos.

Chocolate. Cafuné. Cama.

Estou insuportavelmente insuportável hoje. Acho que mandarei fazer uma camiseta pra esses dias: "Só se aproxime se trouxer chocolate" e "Se for coisa chata, mantenha distância".

Chocolate... É só o que me resta.

quinta-feira, 24 de março de 2011

nós somos o mal

"O mais terrível de todos os paradoxos morais, o nó górdio que precisa ser cortado se queremos que a História prossiga, é que criamos o mal a partir dos nossos ideais mais elevados e das nossas mais nobres aspirações. Tanto precisamos ser heróicos, estar ao lado de Deus, eliminar o mal, limpar o mundo e vencer a morte, que vemos destruição e morte em todos aqueles que se postam no caminho do nosso heróico destino histórico. Buscamos bodes expiatórios e criamos inimigos absolutos, não por sermos intrinsecamente cruéis mas porque o fato de focalizarmos a nossa raiva sobre um alvo externo e atingirmos um estranho faz a nossa tribo ou nação se unir e nos permite fazer parte de um grupo restrito e bom. Criamos um superávit de mal porque precisamos pertencer ao nosso próprio lugar.
...
Se queremos a paz, cada um de nós precisa começar a desmitificar o inimigo; deixar de politizar os eventos psicológicos; reassumir sua sombra; fazer um estudo complexo das mil maneiras pelas quais reprimimos, negamos e projetamos o nosso egoísmo, crueldade, avidez, etc. sobre os outros; e conscientizar-se da maneira pela qual inconscientemente criamos uma psique guerreira e perpetuamos as muitas formas de guerra."

Sam Keen

sombra no mundo

"Parece improvável que alcancemos qualquer sucesso no controle da guerra a menos que cheguemos a compreender a lógica da paranóia política e o processo de criação da propaganda que justifica a nossa hostilidade. Precisamos tomar consciência daquilo que Carl Jung chamou de "a sombra". Os heróis e líderes pacifistas do nosso tempo serão aqueles homens e mulheres com coragem para mergulhar nas trevas no fundo da psique pessoal e coletiva, e enfrentar o inimigo interior. As psicologias de profundidade nos presentearam com a inegável sabedoria de que o inimigo é construído a partir de aspectos reprimidos do self. Portanto, o mandamento radical "Ama a teus inimigos como a ti mesmo" indica o caminho tanto para o autoconhecimento como para a paz. Na verdade, amamos ou odiamos nossos inimigos na mesma medida em que amamos ou odiamos a nós mesmos. Na imagem do inimigo, encontraremos o espelho no qual podemos ver a nossa própria face com a máxima clareza.

Mas, espere um pouco! Não tão depressa! Um coro de objeções levanta-se dentre os adeptos da prática política do poder: "O que você quer dizer com criar inimigos? Não somos nós que fazemos o inimigo. Existem agressores, impérios do mal, bandidos e mulheres perversas no mundo real. E eles nos destruirão se nós não os destruirmos primeiro. Existem vilões reais — Hitler, Stalin, Pol Pot (líder do Khmer Vermelho cambojano, responsável pela morte de dois milhões de pessoas do seu próprio povo). Você não pode psicologizar os eventos políticos nem resolver o problema da guerra estudando os conhecimentos do inimigo."

Objeção concedida. Em parte. Meias-verdades de natureza psicológica ou política não têm condições de fazer avançar a causa da paz. Devemos ser tão cautelosos ao psicologizar eventos políticos quanto ao politizar eventos psicológicos. A guerra é um problema complexo, e não é provável que seja resolvida por qualquer abordagem ou disciplina isolada. Para lidar com ela precisamos, no mínimo, de uma teoria quântica da guerra — e não de alguma teoria unicausal. Assim como só entendemos a luz quando a consideramos como onda e partícula, só poderemos estudar realmente o problema da guerra vendo-a como um sistema que é sustentado por estes pares:

A psique guerreira e A cidade violenta
Paranóia e Propaganda
A imaginação hostil e Os conflitos geopolíticos e de
valores entre os países

O pensamento criativo sobre a guerra sempre envolverá a consideração da psique individual e das instituições sociais. A sociedade molda a psique; e vice-versa. Portanto, temos de trabalhar para criar alternativas psicológicas e políticas à guerra, mudando a psique do Homo hostilis e a estrutura das relações internacionais. Ou seja, trata-se tanto de uma heróica jornada no self quanto de uma nova forma de política compassiva. Não temos nenhuma chance de reduzir as guerras a não ser que observemos as raízes psicológicas da paranóia, da projeção e da propaganda; a não ser que deixemos de ignorar as cruéis práticas de educação dos jovens, as injustiças, os interesses especiais das elites no poder, os históricos conflitos raciais, econômicos e religiosos, e as intensas pressões populacionais que sustêm o sistema da guerra.

O problema da psicologia militar é como converter o ato de matar em patriotismo. De modo geral, esse processo de desumanizar o inimigo ainda não foi examinado atentamente. Quando projetamos nossas sombras, sistematicamente ficamos cegos para aquilo que estamos fazendo. Para produzir ódio em massa, o corpo político precisa permanecer inconsciente de sua própria paranóia, projeção e propaganda. "O inimigo" é, assim, considerado tão real e objetivo quanto uma rocha ou um cão raivoso. Nossa primeira tarefa é quebrar esse tabu, tomar consciente o inconsciente do corpo político e examinar as maneiras pelas quais criamos o inimigo."

Sam Keen

quarta-feira, 23 de março de 2011

Veneno.

Dias difíceis esses em que vivemos, em que o que faz mal faz mal, mas que o que faz bem também faz mal.

Há anos nos envenenamos, porque comida que faz mal é gostosa (com açúcar, gordura, álcool, aromatizantes, conservantes, acidulantes, estimulantes, colorantes e desodorantes).

Há anos nos envenenamos, porque a comida que faz bem a gente encheu de veneno...

E nos envenenaremos ainda mais, porque esse veneno todo vai pra água, que depois bebemos... precisamos da água pra viver, água faz bem, mas ela nos envenenará...

Se o mundo está pra acabar? Não sei... talvez ele sobreviva a nós... mas e nós, sobreviveremos ao que fizemos com o mundo?

Terremotos e tsunamis sempre houveram e haverão, mas agora o perigo é a radiação que a gente trouxe pra superfície...

Em Mato Grosso, um estudo apontou presença de agrotóxicos (venenos) em grande quantidade no leite materno. Envenenamos nos bebezinhos desde antes de eles nascerem. Veneno, veneno, veneno, doença, morte.

Maria minha maria tá certa, são venenos agrotóxicos usados na produção da soja que alimenta os animais que comemos aqui e ao redor do mundo, e soja essa que as vezes nós comemos também, porque alguém nos disse que soja faz bem.

Nos envenenamos todos, ignorantemente, porque alguém ta ganhando muito dinheiro para nos envenenar a nós todos, em embalagens bonitas e alimentos saborosos.

Somos todos gado caminhando pra morte nos abatedouros que nós mesmos criamos...

terça-feira, 22 de março de 2011

as lacunas e você

Tantas vezes pensei como seria bom ter coragem a dizer às pessoas que elas deviam preencher as lacunas que deixavam!! Que era feio deixar lacunas, mas se elas assim queriam, que pelo menos se preocupassem em não deixá-las ocas!

Nunca tive coragem, foram pensamentos que se acumularam no meu nó na garganta. Quando as lacunas vazias preenchiam tudo ao meu redor, e eu me via finalmente totalmente só, era só a última dor, a que doía menos, a que não mais esperava nada e não mais precisava olhar pras lacunas vazias e imaginar algo ali.

Eu nunca disse a ninguém que era feio deixar lacunas... mas a Vida me conhece bem, e sempre soube! Soube que se eu não gritei ao mundo da feiura desses atos foi por respeito, e que se eu buscava preencher os espaços vazios foi porque as lacunas me afligiam...

A Vida soube, sabe, e me presenteou, colocando na minha vida VOCÊ.

Você, que não me deixa lacunas.
Você, que se faz perto, independente da distância, sem eu nunca ter precisado pedir, sem eu nem precisar imaginar o 'como'.

Você, que sem me conhecer foi se construindo no formato exato pra encaixar em mim, com o abraço perfeito pra me caber eu, com a cabeça 'cheia de problemas' (nem são tantos assim...), mas com todas as coisas que um dia eu sonhei pra mim, mesmo que eu me censurasse ao sonhar, dizendo com a voz do mundo que 'não existe ninguém assim...'.

Existe você. Obrigada!

O amanhã é distante

E se hoje não fosse essa estrada
Se a noite não tivesse tanto atalho
O amanhã não fosse tão distante
Solidão seria nada pra você

Se ao menos, o meu amor estivesse aqui
E eu pudesse ouvir seu coração
Se ao menos mentisse ao meu lado
Estaria em minha cama, outra vez

Meu reflexo, não consigo ver na água
Nem fazer canções sem nenhuma dor
Nem ouvir o eco dos meus passos
Nem lembrar meu nome quando alguém chamou

Se ao menos, o meu amor estivesse aqui
E eu pudesse ouvir seu coração
Se ao menos, mentisse ao meu lado
Estaria em minha cama, outra vez

Há beleza no rio do meu canto
Há beleza em tudo que há no céu
Porém, nada, com certeza, é mais bonito
Quando lembro dos olhos do meu bem

Se ao menos, o meu amor estivesse aqui
E eu pudesse ouvir seu coração
Se ao menos, mentisse ao meu lado
Estaria em minha cama, outra vez

(Zé Ramalho)

segunda-feira, 21 de março de 2011

Dia de tédio e saudade.

Saudade é a cor da estação. Dessa que está para acabar e daquela que começa já já.
E qual a cor da saudade?
Cinza, nublada.
É mais temperatura que cor, e é fria.
Aperta forte num abraço cru e oco.
Quanto mais me aperta em seus braços fortes,
menor e menos acolhida eu sou.

Além da saudade, o tédio.

Porque os dias estão parecidos, sem graça, chove, e eu desanimei...

Desanimei de saudade e de tédio e de gripe.

Desanimada estou, portanto.
Portanto, desanimada, só me anima o fim da tarde útil, que desse tédio é já que eu parto.

Parto, eu e a saudade, pra onde o tédio não está...

quarta-feira, 16 de março de 2011

Se pensas, não és.

É-se quando não se pensa. Em se pensando, deixa-se de ser.
Por alguns instantes os olhos-vigia da mente se fecham
E o ser se existe com seu maior vigor!
Livre, desmedido, sem fronteiras e sem tamanho:vive!

Não demora e os olhos-vigia se abrem,
o ser se encolhe, e curva-se,
sob o peso do "dever ser":
volta a ser o ser artificial,
o que se pensa, e assim não se é.

Contido, calado, medido,
acanhado, culpado, ferido,
achatado, arranhado, tingido,
que é o jeito que o mundo o quer.

É saudade então....

É saudade então. E mais uma vez,
De você fiz o desenho mais perfeito que se fez.

Os traços copiei do que não aconteceu
As cores que escolhi, entre as tintas que inventei
Misturei com as promessas que nós dois nunca fizemos
De um dia sermos três.

Trabalhei você em luz e sombra.

E era sempre: - Não foi por mal
Eu juro que nunca quis deixar você tão triste...
Sempre as mesmas desculpas,
E desculpas nem sempre são sinceras
- quase nunca são.

Preparei a minha tela com pedaços de lençóis
que não chegamos a sujar.
A armação fiz com madeira da janela do teu quarto,
Do portão da sua casa fiz paleta e cavalete,
E com as lágrimas que não brincaram com você destilei
óleo de linhaça
E da sua cama arranquei pedaços
Que talhei em estiletes de tamanhos diferentes
E fiz, então, pincéis com seus cabelos
Fiz carvão do batom que roubei de você e com ele marquei
Dois pontos de fuga, e rabisquei no horizonte.

E era sempre: - Não foi por mal,
Eu juro que não foi por mal,
Eu não queria machucar você,
prometo que isso nunca vai acontecer mais uma vez.
E era sempre, sempre o mesmo novamente
- a mesma traição.
Às vezes é difícil esquecer:
"Sinto muito, ela não mora mais aqui..."

Mas então por que eu finjo que acredito no que invento?
Nada disso aconteceu assim, não foi desse jeito...
Ninguém sofreu, e é só você
que provoca essa saudade vazia
Tentando pintar essas flores com o nome
De "amor-perfeito" e "não-te-esqueças-de-mim"

(Acrilic on Canvas - Renato Russo)

terça-feira, 15 de março de 2011

Pequenez...

É isso o que sinto quando vejo notícias sobre essas grandes catástrofes que fazem tantos mortos de uma vez só... Sinto-me, e sinto-nos, enquanto seres vivos, ínfimos. Somos ínfimos e efêmeros. Somos quase nada...

O que é preciso pra tirar a vida de um ser vivo? Bem pouco. Somos tão frágeis... Morremos afogados, morremos entoxicados, morremos esmagados, morremos de bater a cabeça, morremos por faltar oxigênio, morremos de um medo e susto que nossos corações não aguentam... Morremos da radiação que guardávamos em uma construção segura... não é mais tão segura, ela sái, e morremos de câncer, aos poucos...

Morremos também do egoísmo humano, por nos faltar comida e água e cobertor e teto, e morremos do absurdo egoísmo humano com uma bala na cabeça ou uma faca enfiada no peito. Morremos de dor, morremos de dó, não fazemos nada, nem o pouco que poderíamos, e morremos...

Morro um pouco a cada vez que vejo alguém chorar ou sofrer dessas coisas que não pôde evitar. Nessa hora tanto faz de quem é a culpa, se estamos só colhendo o que plantamos ou não... Plantamos errado, eu sei, mas é na colheita que vem a dor... e eu morro com eles, que somos nós...

Diz-me se tem alguém que consiga se sentir grande numa hora dessas... Eu duvido.

Somos todos pequenos e insignificantes, somos todos nada, e uma coisa só. Os estragos não ficarão restritos, o mundo se tornou pequeno... de alguma forma aquela onda gigante vai chegar a todos nós, e um dia precisaremos todos encarar de frente (com humildade) que não importa quão importantes cada um de nós nos sintamos, somos todos mínimos.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Será que é já?

Furacão, milhares de sardinhas aparecem mortas misteriosamente, terremoto, redemoinho, tsunami, vulcão em erupção, enchentes, desmoronamentos... that's it?

quinta-feira, 10 de março de 2011

Eva e as pílulas

Vivia Eva feliz, livre, leve, solta e nua, perambulando pelo Jardim do Éden... O clima era perfeito, a água sempre fresquinha, era sempre época de todas as frutas, portanto não havia restrição de frutas fora de época! Estavam sempre lindas e apetitosas, sem agrotóxicos nem bichinhos dentro.

Ela era feliz ali, ignorante e feliz!

Um dia teve um pesadelo... no sonho sentia frio, barriga roncando, umas sensações desagradáveis... Não conhecia nada disso, e acordou curiosa e incomodada.

Lembrou-se então que havia no Jardim um único canto (não me pergunte como é possível um lugar com um canto só, a geometria do Éden deve ser especial). Esse canto era o único lugar do Eden que ela não conhecia muito bem... uma vez passara por ali perto, tivera um calafrio e se afastou, não se aproximando desde então.

Resolveu voltar lá na dita manhã, pois o calafrio era o mais próximo que a moça já havia sentido das sensações desagradáveis de seu pesadelo. Ali havia sombra... o ar era mais úmido, e o cheiro era bem peculiar. Uma árvore enorme ocupava o centro do canto, enorme mesmo. Eva ficou um tempo olhando pra ela... era uma das coisas menos coloridas que seus olhos haviam visto, e mesmo assim era fascinante... eis que, de um buraco no tronco, surge uma serpente. Era uma serpente escura, da cor da árvore, e igualmente imponente...

Inicia-se um diálogo:

Eva: Bom dia, criatura! O que és?

Serpente: Bom dia, criatura humana. Sou uma serpente...

Eva: E por que você mora no único canto do Jardim, o lugar menos viçoso?

Serpente: Porque escolhi CONHECER.

Eva: Conhecer... o que?

Serpente: A realidade! Resolvi sair da Matrix!

Eva: Matrix?? Que isso????

Serpente: Ô minha fofa... você vive num mundo falso. Vive aí feliz achando que sempre é época de todas as frutas, e o tempo ta sempre ótimo, o sol sempre lindo, nunca cái água do céu e o rio tá sempre fresquinho... Eu meio que me cansei dessa mesmice cor-de-rosa-verde-amarela.

Eva: To entendendo nada...

Serpente: Seguinte, dona Eva. Meu nome é Morpheus. Sei que você veio até o único canto do Jardim porque teve um pesadelo que te fez experimentar sensações desagradáveis. Isso foi ruim, mas foi novo e te deixou curiosa a ponto de você voltar no único lugar bizarro do Jardim. To certo?

Eva: É... como sabe?

Morpheus: Como disse, eu ESCOLHI CONHECER. Como "castigo", não posso mais viver nas árvores mais verdinhas e frondosas... É o preço... saí da Matrix...

Eva: Mas então, o que é Matrix???

Morpheus:"Infelizmente é impossível dizer o que é Matrix. Você tem de ver por si mesmo. Esta é a sua última chance. Depois não há como voltar. Se tomar a pílula azul a história acaba, e você acordará na sua cama acreditando...no que quiser acreditar. Se tomar a pílula vermelha...ficará no País das Maravilhas...e eu te mostrarei até onde vai a toca do coelho. Lembre-se...tudo que te ofereço é a verdade. Nada mais."

Eva: Hein??

Morpheus: Ow, você é meio abestada, né? Tá, tá... você vive na completa ignorância... vou explicar melhor. Tenho aqui comigo uma blueberry suculenta e bonitona, como todas as frutas do Jardim... você pode comê-la, vai dar uma pequena apagada, quando acordar estará embaixo do pessegueiro e não vai se lembrar nem dessa nossa conversa, nem que veio aqui, nem do seu pesadelo. Também tenho aqui comigo esse morango azedo e meio amassado, coisa que você nunca viu nem provou na vida... você pode comê-lo, se preferí-lo ao blueberry, e então verá que o Édem não passa de uma ilusão que Deus criou na cabeça de vocês pra que vivam felizes e ignorantes, sem fazer muitas perguntas, sem causar muitos transtornos... Comendo o morango estragado, você saberá diferenciar o que é bom do que é mau, verá que andar peladona não é possível o ano todo, em todo lugar, sentirá que Adão fede, verá que não dá pra comer cereja sempre, só no inverno... passará frio, fome, e tal...

Eva: Nossa... e qual a vantagem de comer o morango estragado então?

Morpheus: Não sei... viver coisas novas, saber que Deus te engana, ser responsável pelos próprios atos, essas coisas!!

Eva: E... é bom?

Morpheus: Seguinte, eu escolhi conhecer, como já te disse várias vezes. Esse papo contigo já tá me cansando. Decida-se: você quer continuar burra ou quer conhecer o mundo real, o que está por trás da Matrix?????

Eva pensou um pouco... aquela vida sempre boa já estava mesmo ficando monótona... Adão já nem lhe prestava muita atenção, os dois viviam num tédio só. Tinha também aquela curiosidadezinha... e ela começou a se dar conta do tanto que não sabia! Até aquele momento aquele não saber todo nem a incomodava, mas agora ela sabia pelo menos que havia chances de fazer perguntas e ter respostas! Perguntas que todo filósofo que se preze faz: de onde vim, pra onde vou, porque me casei com Adão, quem plantou as frutas, como se faz chocolate!

Eva: Cansei de ser burra, passa pra cá esse morango azedo!

E é isso. O resto da história vocês já conhecem, e cá estamos...

Aniversário da pandemia!

  Brasil. Pandemia. Vai fazer um ano... um ano de isolamento. Um ano de crianças sem escola, um ano de homeoffice . Um ano agradecendo que n...