segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Sakamoto e a vergonha alheia pelo machismo

Quando fui alvejado por xingamentos por jovens machistas motorizados, protótipos de “homens de bem” desta capital paulista, e relatei a história em um post, leitores disseram que isso era um caso isolado. Resquícios de um passado truculento que, em breve, se tornaria história. E que eu estava, novamente, procurando pelo em ovo com o intuito de atacar a vilipendiada e incompreendida classe média alta que habita este Planalto de Piratininga.

Estive em uma festa na região da rua Augusta na noite deste sábado (#sakamotobaladeiro). Lá pelas 4h da manhã, já de saída, tive a oportunidade de presenciar dois carros, descendo em disparada a rua Bela Cintra, que reduziram a marcha para elogiar um grupo de mulheres que conversava na calçada. A plenos pulmões, soltaram acalantos como “vagabundas”, “vadias” e “piranhas”. Um deles, um BMW prata, ainda lançou uma latinha de cerveja na rua quando arrancou, cantando os pneus, alguns metros adiante. Phino. Outros rapazes que estavam na calçada sorriram com os impropérios, no que me pareceu uma pontinha de inveja reprimida.

Convivo com cenas patéticas, como essa, com uma infeliz frequência. Afinal de contas, moro em São Paulo e, pertencente à mesma classe média alta que critico, seria impossível não me deparar com esse universo bizarro de jovens mimados que acham que a cidade é uma extensão da tela do seu videogame, as ruas, um anexo do banheiro que usam pela manhã diariamente e o carro, uma continuidade do seu pênis. Ou complemento, o que varia de acordo com a forma com que cada um encara suas frustrações.

Para eles, provavelmente não se enquadram na categoria de “vagabundas” apenas suas mães e avós, que dormem o sono das santas católicas, enquanto quem é “da vida” povoa a madrugada. Porque “mulher de bem” está dormindo a essa hora, não aceitaria nunca colocar um vestido acima do joelho e deixar as costas de fora, não bebe, fuma ou tem vícios detestáveis, não ama apenas por uma noite e não ri em público, escancarando os dentes a quem quer que seja. “Mulher de bem” permanece em casa para servir o “homem de bem” e estar à sua disposição como empregada, psicóloga, enfermeira, cozinheira ou objeto sexual, a qualquer hora do dia e da noite. Por que? Porque, na sua cabeça, elas pertencem a eles. Porque assim sempre foi, é assim que se ensinou e foi aprendido. É a tradição, oras! E o discurso da tradição, muitas vezes construído de cima para baixo para manter alguém subjugado a outro não pode ser questionado.

Nesse sentido, quem ousa sair desse padrão, pode ser vítima de alguns “corretivos sociais”. Reclamamos de estúpidos muçulmanos que, do alto de uma interpretação bisonha do Corão, atacam mulheres que resolveram ser independentes, mas acabamos por fazer o mesmo aqui. Não é a contundência de um vidro de ácido lançado no rosto de quem deixou a burca ou o shador em casa. Mas pode corroer tão fundo quanto e deixar marcas que podemos não perceber.

Não porque as mulheres do caso da Bela Cintra se deixaram abalar com as crianças de BMW, pelo contrário, continuaram conversando. Até porque devem ter que aguentar esse tipo de coisa sempre, dado o fato desse comportamento idiota ser marca carimbada de parte de nossos jovens.

Esse tipo de ataque verbal é sim uma forma de violência sexual. E das mais perversas porque, como tal, não são encaradas. Ainda mais porque jovens ricos, bêbados ou não, não cometem crimes, apenas fazem “molecagens” e, portanto, fora de cogitação qualquer punição. Isso se aplica apenas a moços pobres que ofenderem alguém rico na rua. Afinal de contas, eles têm que ser colocados no seu devido lugar.

E não se engane. Não é só meia dúzia de celerados. Ataques como esse traduzem o que parte da nossa sociedade machista pensa. Que uma mulher que conversa de forma simpática em uma festa está à disposição, que uma mulher que se veste da forma como queira está à disposição, que um grupo de mulheres sem “seus homens”, andando na noite em São Paulo, está à disposição. Depois perguntam o porquê de Marchas das Vadias acontecerem ao redor do mundo para protestar pelo direito de viver da forma que melhor convier.

Como já trouxe aqui, o homem precisa começar a entender que tem direito ao afeto, às emoções, a sentir. Passar a ser homem e não macho. Começar a mexer na sua programação que, desde pequeno, o ensina a ser agressivo e a tratar mulheres como coisas. Raramente a ele é dado o direito que considere normal oferecer carinho e afeto em público. Legal é xingar, machucar, deixar claro quem manda e quem obedece. O contrário é coisa de mina. Ou, pior, de bicha.

E quando uma mulher não tem a garantia de que não será importunada, ofendida ou violentada, com ações ou palavras, toda a sociedade tem uma parcela de culpa. Pelo que fez. Pelo que deixou de fazer.

Da minha parte, nessas horas, sinto uma enorme vergonha de ser homem.

Decoração... aqui ó! =/


E isso é um protesto natalino a toda a sociedade que usa mulheres como cenário/item-decorativo/chamariz-para-venda-de-produtos! E também um sinal de indignação às mulheres que se prestam a isso e assim "queimam o filme" de todo o gênero! Hunf!

E tenho dito.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Decisões morais - Calligaris

CONTARDO CALLIGARIS

Decisões morais

Você está na posição ideal para pisar fundo e atropelar os dois assaltantes; você vai acelerar?

É uma da tarde, e você dirige uma caminhonete pelas ruas de São Paulo. De repente, você esbarra num carro parado; ao lado dele, dois motoqueiros; um dos dois enfia seu braço armado pelo vidro do motorista do carro; o assaltante ameaça e grita, ele pode atirar a qualquer momento, quer seja porque não estão lhe entregando o que ele pediu, quer seja porque não gostou do que lhe foi entregue, quer seja porque, simplesmente, ele está nervoso e a fim de matar.

Atrás de você e da cena do assalto, só buzinam os mais afastados, que não enxergam o que está acontecendo. Os mais próximos ficam paralisados, divididos entre o medo e a vergonha por não reagirem e por serem cidadãos de um lugar onde isso é possível e corriqueiro.

Você está na posição ideal para pisar fundo e atropelar os dois meliantes, antes que atirem ou que fujam, ganhando, mais uma vez, dos assaltados e de todos nós.

Você não vai acelerar. É por medo de que o assaltante evite seu carro e acerte você com um tiro? É por preguiça de se envolver com polícia e investigação? Ou receia que cúmplices e familiares dos criminosos se vinguem?

Tudo bem, imaginemos que seja noite funda: não há ninguém, só os assaltantes, os assaltados e você. Ninguém verá nada. Ainda assim, você não vai acelerar?

Talvez prevaleça em você a inibição que paralisa a muitos na hora de machucar um semelhante, mesmo odioso. Ou talvez você queira agir "segundo a lei". Mas você sabe que a lei contempla e admite a "legítima defesa de terceiro"? Tudo bem, sua única obrigação jurídica é acionar a autoridade competente: fique no seu carro e ligue para a PM, uma viatura chegará a tempo para interromper o assalto e proteger os assaltados -não é verdade?

Ok, você hesitou demais, um dos assaltados acaba de ser baleado. Juridicamente, você não tem responsabilidade por não ter agido. A lei não exige de ninguém que seja herói. Mas será que isso é verdade também da moral? Você vai dormir tranquilo?

Outro dilema. Agora, imagine que, exatamente na mesma cena, você seja o assaltado. A caminhonete do dilema anterior apareceu, atropelou os assaltantes e sumiu. O bandido para quem você entregou sua bolsa está no asfalto, numa poça de sangue. Você faz o quê? Chama uma ambulância e espera para dar depoimento? Ou recupera o que lhe foi roubado e vai embora?

Já escrevi aqui mais de uma vez: admiro a teoria dos estágios do pensamento moral, de Lawrence Kohlberg. Resumindo, com nosso exemplo: é inútil querer decidir se é mais moral jogar a caminhonete para cima dos ladrões ou se esconder atrás do volante.

O que importa é a razão de nossa escolha. Se decidirmos por medo da punição, por conformidade ou mesmo por respeito à lei, nossa conduta será moralmente medíocre. Se decidirmos segundo o que nos parece certo, em nosso foro íntimo, nossa conduta -seja ela qual for- será de uma qualidade moral superior.

Mais uma coisa: Kohlberg também mostrou que a gente não melhora moralmente à força de memorizar valores ou exemplos a seguir, mas destrinchando dilemas e ponderando como e por que agiríamos de uma maneira ou de outra.

Os dois dilemas que acabo de expor são extraídos de um filme excelente, que não me sai da cabeça, "Disparos", de Juliana Reis, em cartaz desde sexta passada.

"Disparos" acontece no Rio, embora seu roteiro seja, hoje, mais paulistano do que carioca. De qualquer forma, não perca o filme e não fuja do debate íntimo sobre o que você faria numa situação parecida (até porque as chances de viver uma situação parecida aumentam a cada dia).

O Senado acaba de incluir disciplinas de ética no currículo do ensino fundamental e médio. Espero que se evite a monumental estupidez de ensinar ética normativa, ou seja, de querer enfiar valores em nossas crianças -goela abaixo, como se fossem partículas consagradas.

Para crianças como para adultos, "aprender" ética significa aprimorar a disposição a pensar moralmente, ou seja, a capacidade de debater, em nosso foro íntimo, os enigmas complexos (e, muitas vezes, insolúveis) que a realidade nos apresenta. Como disse, essa disposição só melhora à força de encarar dilemas.

Sem esperar o mais que provável desastre do novo curso, podemos ir (e levar nossos adolescentes) ao cinema. "Disparos" é um filme perfeito para pesar a complexidade da vida urbana no Brasil, ou seja, para pensar o que significa sermos morais hoje, aqui, no lugar em que estamos vivendo.


quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O pensar como doença - Safatle

Sem tempo, sem inspiração... um pouco mais de Safatle!


O pensar como doença



"O estado de reflexão é contra a natureza. O homem que medita é um animal depravado." Tais afirmações de Rousseau parecem servir de guia involuntário para setores hegemônicos da clínica do sofrimento psíquico.

Há anos, a filósofa francesa Joëlle Proust foi capaz de afirmar que o sofrimento psíquico não teria relações com a forma com que o paciente reflete sobre seus sintomas a partir de suas próprias convicções e motivações.

Com isso, ela apenas dava forma a um princípio que parece guiar dimensões maiores da psiquiatria contemporânea. Ou seja, tudo se passa como se não houvesse relações entre a maneira com que sofremos e a maneira com que pensamos e procuramos justificar nossas vidas a partir de valores e normas.

Essa é uma boa maneira de evitar o trabalho mais doloroso exigido pelo tratamento de modalidades de sofrimento psíquico, a saber, a crítica dos valores, normas e formas de pensar que constituem, tacitamente, nosso horizonte de uma vida bem-sucedida.

A fim de evitar tal trabalho crítico, que certamente é o que há de mais difícil, parece que nos tranquilizamos com ideias como as da professora Proust. Elas acabam por servir para fortalecer a crença de que só haveria cura lá onde abandonássemos o esforço de pensar sobre nós mesmos. No fundo, talvez porque ainda estejamos presos a resquícios deste antigo paralelismo que associava, por exemplo, a melancolia ao ato de "pensar demais".

Décadas atrás, François Truffaut fez um belo filme sobre uma sociedade no futuro onde a polícia queimava livros porque eles trariam infelicidade. Melhor seria garantir a felicidade social por meio de uma política de uso exaustivo de medicamentos.

Tal filme foi a metáfora perfeita para um fenômeno que o sociólogo Alain Ehrenberg chamou, décadas depois, de "uso cosmético" de antidepressivos e afins.

Por "uso cosmético" entendamos o uso de larga continuidade que acaba por visar conservar performances sociais bem avaliadas, evitando ao máximo a experiência com transtornos de humor. Ele é o resultado inevitável do modelo de medicação que impera atualmente. Trata-se de uma distorção daquilo que deveria ser a regra, a saber, o uso focal ligado exclusivamente a situações e momentos de crise aguda.

Tal uso focal procura apenas garantir as condições de possibilidade para que o verdadeiro tratamento ocorra. Um tratamento que poderá mostrar como, se é a reflexão que nos adoece , é ela também que nos cura.

VLADIMIR SAFATLE escreve às terças-feiras nesta coluna.

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/vladimirsafatle/1191705-o-pensar-como-doenca.shtml

terça-feira, 20 de novembro de 2012

20 de novembro - Dia da consciência negra

Dia da consciência negra.
É bonito ver o tanto de gente que se diz negra numa data assim. Não sei se realmente se sentem com sangue negro correndo nas veias, se fazem porque é bonito, se realmente estão tocados pela luta.

É verdade que quase todo brasileiro tem sangue pelo menos um pouco negro. Mas ser negro hoje ainda é, infelizmente, muito diferente de ser brando. Ser mulher ainda é, mesmo com uma presidenta da República eleita por voto direto, muito diferente de ser homem. Não conheço as dores e as delícias de ser negra, mas conheço as dores e delícias de ser mulher, mesmo numa posição social confortável. Não é igual.

Ser politicamente correto hoje está quase no nível de livros de auto-ajuda, algo visto até como meio pejorativo... pois que se danem os que pensam assim. Os que acham legal fazer piadinhas preconceituosas, os que se acham melhores do que os outros, os que se acham engraçados, os que se acham mais amados por Deus, os que se sentem especiais, os que acham que não precisam de ninguém, os que se permitem pensamentos e ações homofóbicas, racistas e machistas, que se danem todos. Babacas.
Hoje não estou fofa. Aos que usam a desculpa esfarrapada e malvestida da liberdade de expressão para poder vomitar essas abobrinhas, que se esfolem. Ofender os outros, fazê-los se sentir mal, humilhá-los, agredi-los: esse direito você não tem. So, please, shut up.

Apenas um desabafo... na verdade queria escrever algo como o Safatle! Mas hoje não pude,então colo o texto dele abaixo!

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/78968-correto-demais.shtml

VLADIMIR SAFATLE

Correto demais
Em Paris, neste final de semana, houve uma passeata contra o projeto do governo de permitir o casamento entre homossexuais. Depois de agressões a grupos feministas e a jornalistas, alguns manifestantes se voltaram contra a "ditadura do politicamente correto".

Há alguns meses, na época da Olimpíada, uma atleta grega foi suspensa da equipe de seu país por comentários racistas em sua conta do Facebook. À notícia na imprensa europeia, seguiam-se necessariamente centenas de posts denunciando a "ditadura do politicamente correto" que impedia a atleta de enunciar suas opiniões sobre a quantidade de imigrantes em seu país.

No Brasil, discussões sobre o conteúdo racista de um livro de Monteiro Lobato degeneraram, por sua vez, em denúncias violentas contra a mesma "ditadura do politicamente correto" que, ao que parece, deve ser o resultado de um grande complô mundial contra livres pensadores travestidos de atletas gregas, manifestantes que gostam de agredir feministas e defensores da clarividência política de Lobato.

Na verdade, por trás da defesa de tal modalidade de "livre expressão" há o desejo mal escondido de continuar repetindo os mesmos velhos preconceitos e a mesma violência contra os grupos vulneráveis de sempre.

Por trás da atitude do adolescente que parece se deleitar com a descoberta de que é capaz de enunciar, à mesa do jantar, comentários "chocantes" que fazem seus pais liberais revirarem-se, há a tentativa de travestir desprezo social com a maquiagem da revolta do homem comum contra a ditadura dos intelectuais. Não por acaso, essa era uma estratégia clássica para dar direito de cidade a comentários antissemitas.

No entanto, é bom lembrar que uma democracia sabe separar a opinião do preconceito. Uma opinião é aquilo que é, por definição, indiferente. Ela abre um espaço de indiferença a respeito de enunciados e discursos. Mas há enunciações que não podem ser recebidas em indiferença, já que trazem, atrás de si, as marcas da violência que produziram ao serem enunciados. Uma sociedade tem a obrigação moral de defender-se deles.

Colocar uma advertência em um livro por ter conteúdo que pode ser sentido por minorias raciais como violência, impedir que pessoas escarneçam de grupos socialmente vulneráveis é condição para um vínculo social mínimo.

Claro, tais pessoas que julgam normal fazer piadas com negros nunca mudarão de ideia. Mas elas devem saber que há certas coisas que não se diz impunemente.

A falsa revolta é apenas mais uma arma daqueles que querem continuar com as exclusões de sempre.

VLADIMIR SAFATLE escreve às terças-feiras nesta coluna.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Desconstrução!

Às vezes olho pra vida nossa e consigo claramente perceber um processo um tanto quanto curioso (pra não incluir já no começo um julgamento de valor):

passamos os primeiros anos da nossa vida ouvindo "verdades", aprendendo as regras do mundo, nos conformando, aprendendo a ouvir, a calar, a aceitar, a questionar só um pouquinho, a introjetar a visão de mundo do mundo, o famozérrimo senso comum.

Aí êntramos na adolescência e uma descarga extratosférica de hormônios nos bagunça as ideias, os quereres e os pensares, e para não sucumbirmos enquanto indivíduos únicos nós mandamos todo o sistema às cucuias. Não conseguimos pôr nada no lugar, mas a vontade é de implodir tudo, só por raiva, só pra descarregar a energia, só pra gritar ao mundo que ele está todo errado. Nem sabemos bem o que está errado, mas está errado e que vá pras cucuias!

Aí os hormônios dão uma trégua e viramos adultos. Muitos voltam ao sossego e ao enquadramento, à corrente confortável do senso comum, repetindo discursos gastos como se fossem suas próprias ideias, e muitos desses são bem felizes.

Mas tem quem em si mantenha um pouco daquela rebeldia, e queira sair dos opostos "concordo com tudoo" x "discordo de tudo". E então essas pessoas olham o mundo de uma outra forma. Querem entender o que fez do mundo o mundo que o mundo é hoje, entender mesmo.

É começa um processo lindo de desconstrução... Se entrar nesse caminho você sentirá o prazer e o medo de ver suas certezas se esfarelando, indo ralo abaixo, e sentirá emoções que variam de um encantamento, um apaixonamento por este mundo, a uma desesperança, um ódio da humanidade que desde que "caiu" do paraíso vem tornando a vida dos outros (que também são humanidade) um inferno.

É bom! E é ruim! Neste caminho várias vezes sentimos uma saudade genuína de nossa ingenuidade, de nossa antiga ignorância, de quando os olhos estavam acostumados à penumbar das certezas do senso comum. Outras vezes sentimos o sangue limpo correr nas veias, a luz entrar, a mente expandir, e flashes quase orgásmicos de compreensão! Quanto mais se sabe, mais se percebe o tanto que ainda não se sabe... e o não saber, às vezes angustiante, muitas vezes é libertador e delicioso.

Eu gosto. É estranho olhar pra um pensamento e ver claramente que ele é um preconceito, e que não deveria estar ali. É estranho olhar pra ciência e ver uma senhorinha já caducando, arrotando certezas rotas e falsas, tentando ainda desesperadamente convencer, manter sua autoridade. É bizarro pensar que antes a certeza vinha dos que se diziam representantes de Deus, depois veio dos "dominadores" da natureza, e o que começa a aparecer agora é a não-certeza. Sim, nada está sendo oferecido pra tampar o buraco. Estamos trocando um certo (que não é certo) por um duvidoso, queda livre sem paraquedas, e é bom. E é ruim.

É ruim, mas eu gosto. Talvez o prazer de ver ruir uma velha certeza seja parecido com o de massagear um hematoma. Dói, mas faz se sentir vivo. Ou talvez seja puro masoquismo mesmo... rs

By the way, viva Judith Butler!
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/70972-genero-e-silencio.shtml

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Denúncia - Violação de direitos humanos - RJ


Recolhimento compulsório - Em nota, entidades cobram respostas a denúncias e repudiam declaração do prefeito

Uma nota divulgada hoje cobra respostas do poder público para denúncias feitas à política de recolhimento compulsório de pessoas em situação de rua ou em abuso de álcool e outras drogas. O documento – assinado pelos conselhos regionais de Psicologia (CRP-RJ) e Serviço Social (CRESS-RJ), pela Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da ALERJ (CDDHC/ALERJ), pelo Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro (GTNM/RJ) e pelo Núcleo de Direitos Humanos do Departamento de Direito da PUC-Rio – cobra um posicionamento da prefeitura do Rio de Janeiro sobre o Relatório de Visitas aos “Abrigos Especializados” para Crianças e Adolescentes, lançado no dia 17 de agosto, e repudia a declaração desrespeitosa do prefeito Eduardo Paes em sabatina da jornal Folha de S. Paulo e do UOL, na sexta passada (31).

Leia a nota abaixo.

Críticas de entidades à política de recolhimento compulsório no Rio de Janeiro não podem ficar sem respostas

O Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro (CRP-RJ), órgão responsável por orientar e fiscalizar as práticas profissionais no campo da Psicologia;

O Conselho Regional de Serviço Social do Rio de Janeiro (CRESS-RJ), órgão responsável por orientar e fiscalizar as práticas profissionais no campo do Serviço Social;

A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (CDDHC/Alerj), órgão pluripartidário que, dentre as suas atribuições regimentais, tem como principal objetivo apurar as violações aos Direitos Humanos no Estado do Rio de Janeiro;

O Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro (GTNM/RJ), organização da sociedade civil que atua há 27 anos na luta por direitos, contra a prática de tortura por agentes do Estado, em fiscalização de espaços de privação de liberdade; e

O Núcleo de Direitos Humanos do Departamento de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (NDH/PUC-Rio), centro universitário de pesquisa e mobilização que há dez anos atua com a missão de fornecer ferramentas teóricas capazes de gerar conscientização em direitos humanos a partir da comunidade acadêmica,

ESCLARECEM por meio desta nota alguns pontos importantes sobre o trabalho de acompanhamento e fiscalização das políticas municipais nos campos da assistência social e da saúde, e REPUDIAM a falta de respostas efetivas do poder público e o desrespeito manifestado pelo prefeito Eduardo Paes em suas declarações sobre o Relatório de Visitas aos “Abrigos Especializados” para Crianças e Adolescentes, durante a Sabatina Folha/UOL, na última sexta-feira, dia 31 de agosto.

O RELATÓRIO
Em maio de 2012, as entidades aqui representadas estiveram em visitas de fiscalização a quatro abrigos na zona oeste do Rio de Janeiro que recebem crianças e adolescentes recolhidos compulsoriamente pela Prefeitura. O trabalho de fiscalização foi feito em conjunto com o Comitê e o Mecanismo Estaduais de Prevenção e Combate à Tortura, órgãos vinculados à Assembleia Legislativa e responsáveis pela fiscalização de espaços de privação de liberdade no estado. O quadro grave que encontramos nestes abrigos – que são gerenciados pela ONG Casa Espírita Tesloo – está detalhadamente refletido no Relatório de Visitas aos “Abrigos Especializados” para Crianças e Adolescentes, lançado no dia 17 de agosto de 2012. Em resumo, constatamos:

O caráter de privação de liberdade dos abrigos, que ficam em locais de difícil acesso e funcionam com uma prática de isolamento, trazendo prejuízo aos vínculos familiares e comunitários;
A medicalização descontrolada das crianças e adolescentes, com remédios receitados sem a devida avaliação médica e sem medidas de controle;
A “confusão deliberada” entre ‘abrigamento’ e ‘internação’, isto é, entre assistência social e tratamento clínico para usuários de álcool e outras drogas;
A orientação religiosa do tratamento, que fere a prerrogativa de laicidade das políticas públicas;
A falta de dados e informações consolidadas sobre os resultados e os efeitos do tratamento, uma vez que não há relatórios sobre a evolução clínica dos garotos e garotas.

As conclusões apontam para um regresso à lógica manicomial, para a violação de artigos da Constituição Federal, do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e da Lei da Reforma Psiquiátrica (Lei 10.216/2001) e para o descumprimento de diretrizes e políticas da própria prefeitura (Deliberação 763 da Secretaria Municipal de Assistência Social) e dos Ministérios da Saúde e do Desenvolvimento Social.

HISTÓRICO
É importante lembrar que as entidades que assinam esta nota têm posicionamento crítico às políticas da prefeitura para pessoas em situação de rua ou em uso abusivo de álcool e outras drogas desde antes de 27 de maio de 2011, data em que foi instituída a Resolução SMAS nº 20, que determinou oficialmente o recolhimento compulsório na cidade. Que, desde então, participamos de diversos debates, reuniões e audiências em que manifestamos nossa posição contrária a esta política e denunciamos sua ineficácia e as ilegalidades e arbitrariedades que acontecem neste processo. Que, no mesmo sentido, produzimos notas, manifestos, documentos e relatórios sobre o assunto, que podem facilmente ser encontrados nos meios digitais ou nos arquivos de gabinetes do Poder Público.

Importante lembrar também que em 2011 o CRP-RJ e o CRESS-RJ, em parceria com os conselhos regionais de Enfermagem (COREN-RJ) e Nutrição (CRN-RJ), já haviam realizado fiscalizações em equipamentos direcionados à aplicação desta política e que, à época, também foram identificados, dentre outros problemas, ausência de ações intersetoriais, medicalização excessiva e prejuízo da convivência familiar e comunitária.

SILÊNCIO E DESQUALIFICAÇÃO
As entidades aqui representadas reforçam sua posição crítica às políticas adotadas pelo município do Rio de Janeiro no campo da assistência a pessoas em situação de rua e no campo do tratamento de pessoas em abuso de álcool e outras drogas. Se o próprio Poder Público admite que não tem convicção sobre a política do recolhimento compulsório, nós reforçamos aqui que o caminho para a assistência e o tratamento adequados de crianças, adolescentes e adultos em situação de rua ou em abuso de álcool e outras drogas deve ser o fortalecimento da rede composta por diversos estabelecimentos e equipamentos intersetoriais e articulados entre si, que já existe e que reflete as diretrizes e políticas dos Ministérios da Saúde e do Desenvolvimento Social, desenvolvidas ao longo de muitos anos nos espaços participativos e plurais das Conferências Nacionais. Os governantes do Rio de Janeiro se posicionam na contramão deste caminho: temos, hoje, por exemplo, apenas quatro Centros de Atenção Psicossocial na área de Álcool e Outras Drogas (CAPS AD) municipais – sendo que dois ainda não têm sede própria – e cinco Centros de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSI) municipais, apesar de recursos disponibilizados pelo governo federal para a ampliação da rede substitutiva em saúde mental e para a rede de apoio à população em situação de rua.

As entidades que assinam esta nota comunicam ainda que, até o momento, não foram chamadas para prestar explicações e não receberam nenhum retorno dos órgãos da prefeitura para os quais o Relatório de Visitas aos “Abrigos Especializados” para Crianças e Adolescentes foi encaminhado. Exigimos respostas às demandas colocadas, que refletem a posição de profissionais, pesquisadores, militantes, usuários, entidades e coletivos que historicamente atuam no campo da Saúde, da Saúde Mental, da Assistência Social e dos Direitos Humanos, e que tanto lutaram para a formulação de políticas públicas antimanicomiais e multidisciplinares, e que rechaçam, de forma unânime, a política de recolhimento compulsório. Exigimos, ainda, respeito ao nosso trabalho e à nossa trajetória.

O silêncio e a desqualificação do trabalho crítico de entidades e grupos de pesquisa não condizem com a postura que se espera de representantes do Poder Público. Simplesmente justificar as dificuldades de se construir políticas efetivas na área da Assistência Social com o discurso de que este é um campo que envolve “dramas humanos” para nós significa isentar o Estado das suas responsabilidades e dos compromissos que tem o dever de honrar.

Rio de Janeiro, 5 de setembro de 2012.

Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro – CRP-RJ
Conselho Regional de Serviço Social do Rio de Janeiro – CRESS-RJ
Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro – CDDHC/Alerj
Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro – GTNM/RJ
Núcleo de Direitos Humanos do Departamento de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – NDH/PUC-Rio

5 de setembro de 2012

http://www.crprj.org.br/noticias/2012/090502-Recolhimento%20compuls%C3%B3rio%20-%20Em%20nota,%C2%A0entidades%20cobram%20respostas%20a%20denuncias%20e%20repudiam%20declaracao%20do%20prefeito.html

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Homofobia institucionalizada e embrulho no estômago

Há tempos nao escrevo, total falta de tempo, mas hoje, com tempo ou sem tempo, não deu... tem dias (e coisas) que não dá pra deixar passar, e o que vi hoje se encaixa nesta categoria.

Volto ao tema homofobia. Acabei entrando em um blog extremamente indignante, de pessoas demonizando toda e qualquer iniciativa homossexual de lutar por direito e reconhecimento. Demonizando qualquer ação por eles chamada de "homoativista".

Acho que o que me deixa mais perplexa é a possibilidade de uma nova inquisição: se usa o nome de Deus, da família, da igreja Cristã, pra divulgar discursos de ódio e intolerância. Que Deus é esse deles, que não é amor? Nada de amor ao próximo? Acham mesmo, em suas cabecinhas doentes, que esse Deus se ofende mais com uma demonstração não convencional de amor do que com uma atitude covarde de ódio??? Ou acham que Deus 'perdeu' seu precioso tempo divino criando pessoas indignas de seu amor divino? Deus ama até eles, os covardes preconceituosos e crueis, que dirá de pessoas que sofrem por amar quem alguns individuos acham que não deviam...

Isso me lembra a letra de Maria Gadu:

"Entre o bem e o mal a linha é tênue meu bem
Entre o amor e o ódio a linha é tênue também
Quando o desprezo a gente muito preza
Na vera o que despreza é o que se dá valor
Falta descobrir a qual desses dois lados convém
Sua tremenda energia para tanto desdém"

Só dando muito valor pra ficar horas fazendo picuinha contra pessoas que estão tentando apenas viver suas vidas sem serem importunadas.

Bancada evangélica, resistência cristã, qual o problema de vocês? Amem ao Próximo, auxiliem quem necessita, espalhem amor pelo mundo, é disso que Jesus fala, é isso que torna o mundo um lugar melhor. Parem de achar que Deus tá achando uma pouca vergonha os relacionamentos não hetero. Se Ele nos quisesse a todos hetero, teria o poder de nos fazer todos hetero! Ou vocês estão desconfiando do poder desse Deus que usam pra justificar seus pensamentos mais imundos de destruição, dor e sofrimento a um irmão???

Amor, gente, amor. Só o amor salva! Sem amor, nada somos.

Parem de achar que o Bolsonaro é modelo de boa alguma coisa. Parem de se preocupar com os ânus alheios, com o amor alheio, amem vocês! Amem seus filhos e filhas, seus animais de estimação, seus colegas de trabalho, sua família, seu emprego, seu Deus. Amor nunca faz mal. Parem de se envenenar e maltratar aos outros com seus ódios e suas podridões. Odiar demais dá cancêr e úlcera!

Infelizmente não posso (nem quero) disponibilizar o blog asqueroso aqui, pois me rcuso a fazer qualquer propaganda aos absurdos que li. Mas relaxa, você não está perdendo nada.

:)

Todos têm direito a existir e tentar ser feliz, e ninguém tem direito a causar infelicidade aos outros. Pense nisso! Cada um no seu quadrado, com respeito, e viveremos todos num mundo menos podre!


sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Latim e termos jurídicos

Um dia dei de cara com um site de conteúdo fantástico.
Eu, como escorpianina-engenheira-estudante-de-psicologia e que nunca fui muito fã de advocacia, adoro as questões linguísticas e sempre achei fofo o latim dos pareceres jurídicos.

Diverti-me muito com esse glossário que colarei aqui pra tê-lo sempre por perto!!
(tirei daqui, ó: http://www.advogado.adv.br/termosjuridicos.htm)


Termo estrangeiro Significado em português
(sentido jurídico)
Aberratio delicti- Erro na execução do crime.
Aberratio ictus- Erro de alvo, de golpe, de tino.
Aberratio rei- Erro de coisa.
Ab initio- Desde o começo, a princípio.
Ab intestato- Sem testamento
Ab irato- No ímpeto da ira.
Abolitio criminis- Abolição do crime.
Accessorium sequitur principale - O acessório segue o principal.
Accipiens- Credor de boa fé de prestação que não lhe é devida.
Acidente in itinere- Aquele ocorrido no trajeto que o empregado utiliza para ir ao trabalho e voltar-
A contrario sensu- Pela razão contrária, em sentido contrário.
Actio in personam- Ação pessoal ou sobre pessoa.
Actio in rem- Ação real ou sobre a coisa.
Actio quanti minoris- Ação de diminuição de preço.
Actor probat actionem- O autor prova a ação.
Ad argumentandum tantum- Apenas para argumentar.
Ad causam- Para a causa.
Ad cautelam- Por cautela
Ad corpus- Por inteiro.
Ad hoc- Substituição temporária para o caso específico.
Ad judicia- Para o foro em geral, para fins judiciais.
Ad litem- Para o litígio; para o processo; procuração ou mandato para determinado processo.
Ad mensuram- Por medida ou preço.
Ad negotia- Para os negócios. Diz-se de procuração outorgada para a efetivação de negócio ou extrajudicial.
Ad perpetuam rei memoriam- Diligências requeridas e promovidas com caráter perpétuo, quando haja receio de que a prova possa desaparecer; para a perpétua memória da coisa.
Ad quem- Juiz ou Tribunal de instância superior para onde se encaminha o processo.
Ad quo- Juiz ou Tribunal de onde se encaminha o processo.
Ad referendum- Na dependência de aprovação de autoridade competente.
Ad rem- Afirmativa diretamente à coisa.
Ad valorem- Segundo o valor.
Animus abutendi- Intenção de abusar.
Animus adjuvandi- Intenção de ajudar.
Animus dolandi- Intenção dolosa, de prejudicar.
Animus furtandi- Intenção de furtar.
Animus jocandi- Intenção de brincar, gracejar.
Animus laedendi- Intenção de ferir.
Animus lucrandi- Intenção de lucrar.
Animus manendi- Intenção de fixar residência definitiva, de permanecer.
Animus necandi- Intenção de matar.
Animus nocendi- Intenção de prejudicar; ser nocivo a (substituir uma obrigação por outra).
Animus possidendi- Intenção de possuir.
Animus simulandi- Intenção de simular.
Animus solvendi- Intenção de pagar.
Animus violandi- Intenção de violar.
Apud acta- Nos autos, junto aos autos.
A quo- Juiz ou Tribunal de instância inferior de onde provém o processo; dia ou termo inicial de um prazo.
Bens pro diviso- Bens divisíveis.
Bens pro indiviso- Bens divisíveis.
Bis in idem- Incidência de duas vezes sobre a mesma coisa; bitributação.
Caput- Cabeça.
Caso sub judice- Caso sob julgamento.
Caução de damno infecto- Caução de dano temido.
Causa cognita- Causa conhecida.
Causa debendi- Causa da dívida.
Causa detentionis- Causa da detenção.
Causa petendi- Causa de pedir.
Citra petita- Aquém do pedido.
Cláusula ad judicia- Mandato outorgado para foro em geral.
Competência ratione loci- Aquela que se determina em razão da residência ou domicílio ou do lugar da coisa.
Competência ratione materiae- Aquela que se determina em razão da ordem, da categoria ou da natureza da jurisdição.
Competência ratione valori- Aquela que se determina em função do valor da causa.
Contra legem- Contra a lei.
Corpus delicti- Corpo de delito.
Corpus iuris civilis- Trabalhos legislativos elaborados durante o reinado do imperador romano Justiniano.
Culpa in comitendo- Culpa em cometer.
Culpa in custodiendo- Culpa em guardar.
Culpa in eligendo- Culpa em escolher.
Culpa in ommitendo- Culpa em omitir.
Culpa in vigilando- Culpa em vigiar.
Dano ex delicto- Dano causado por ilícito penal com repercussão na área cível.
Data venia- Com o devido consentimento.
Debitum conjugale- Débito conjugal.
De cujus- Falecido, morto.
De lege ferenda- Da lei a ser criada.
De lege lata- Da lei criada.
Dolo res ipsa- Dolo presumido.
Dolus bonus- Dolo bom.
Dolus malus- Dolo mau.
Erga omnes- Contra todos.
Error facit- Erro de fato.
Error in objecto- Erro sobre o objeto.
Error in persona- Erro sobre a pessoa.
Error iuris- Erro de direito.
Ex abrupto- De súbito.
Ex adverso- Do lado contrário.
Ex iure- Conforme o direito.
Ex lege- De acordo com a lei, por lei.
Ex locato- Locução que se usa para exprimir relação locativa, existente entre locador e locatário, por força de contrato.
Exequatur- Execute-se; cumpra-se; autorização dada pelo STF para que atos processuais requisitados por autoridades estrangeiras sejam cumpridas no país.
Ex more- De acordo com o costume, conforme o costume.
Ex nunc- Que não retroage.
Ex officio- De ofício.
Extra petita- Fora do pedido, além do pedido.
Ex tunc- Que retroage.
Ex vi- Por força; por determinação de; em decorrência do que preceitua a lei.
Ex vi legis- Por efeito da lei.
Exceptio rei iudicato- Exceção de coisa julgada.
Fac simile- Reprodução fiel de um original.
Facultas agendi- Faculdade de agir.
Forum rei sitae- Foro da situação da coisa.
Fumus boni iuris- Fumaça do bom direito.
Gratia argumentandi- Para argumentar.
Habeas corpus- Remédio jurídico para assegurar liberdade de locomoção ou movimentar o corpo sem constrangimento jurídico.
Habeas data- Concede-se para obter informações atinentes à pessoa junto aos bancos de dados e para retificação destes.
Hic et nunc- Aqui e agora, imediatamente.
Honoris causa- Para honra; denominação honorífica universitária conferida a título de homenagem.
Ilegitimidade ad causam- Ilegitimidade para causa.
Ilegitimidade ad processum- Ilegitimidade para o processo.
Impotentia coendi- Impotência de conceber.
Impotentia generandi- Impotência de fecundar.
In dubio pro reo- Em dúvida a favor do réu.
In fine- No fim.
In initio litis- No início da lide.
In limine- No começo.
In limine litis- No começo da lide.
Interpretatio cessat in claris- A interpretação cessa quando a lei é clara.
Inter vivos- Entre vivos.
Intuitu personae- Em consideração à pessoa.
In verbis- Nestes termos.
Ipsis litteris- Textualmente, com as mesmas letras.
Ipsis verbis- Sem tirar nem pôr, com as mesmas palavras; com as próprias palavras.
Ipso facto- Só pelo mesmo fato; pelo mesmo fato; por isso mesmo; conseqüentemente.
Ius in re- Direito real.
Iuris tantum- De direito, o que decorre do próprio direito.
Iuris et de iure- De direito e por direito.
Iura in re alinea- Direitos sobre coisa alheia.
Iter criminis- Itinerário do crime.
Ipso iure- Pelo mesmo direito.
Ius- Direito.
Ius civile- Direito civil.
Ius fruendi- Direito de gozar.
Ius genitum- Direito das gentes.
Ius naturale- Direito natural.
Ius non scriptum- Direito não escrito.
Ius persequendi- Direito de perseguir.
Ius possessionis- Direito de posse.
Ius possidendi- Direito de possuir.
Ius postulandi- Direito de postular.
Ius privatum- Direito privado.
Ius publicum- Direito público.
Ius puniendi- Direito de punir.
Ius sanguinis- Direito do sangue.
Ius scriptum- Direito escrito.
Ius soli- Direito de solo.
Lato sensu- Sentido irrestrito.
Legitimatio ad causam- Legitimação ou legitimidade para a causa.
Legitimatio ad processum- Legitimação ou legitimidade para o processo.
Lex- Lei.
Libertas quae sera tamen- Liberdade, ainda que tardia.
Mens legis- Espírito da lei.
Meritum causae- Mérito da causa.
Modus acquirendi- Modo de adquirir.
Modus faciendi- Modo de fazer.
Modus operandi- Modo de trabalhar.
Modus probandi- Modo de provar.
Modus vivendi- Modo de viver.
Mora accipiendi- Mora do credor.
Mora debitoris- Mora do devedor.
Mora solvendi- Mora do devedor.
More uxorio- Concubinato.
Mutatis mutandis- Muda-se o que deve ser mudado.
Neminem laedere- A ninguém ofender.
Nemo iudex sine lege- Não há juiz sem lei.
Nihil obstat- Nada obsta.
Nomen iuris- Denominação legal.
Non bis in idem- Não incidência duas vezes sobre a mesma coisa.
Norma agendi- Norma de agir.
Notitia criminis- Notícia do crime.
Nula poena sine lege- Não há pena sem lei.
Nullum crime sine lege- Não há crime sem lei.
Numerus clausus- Número restrito.
Obligatio dandi- Obrigação de dar.
Obligatio faciendi- Obrigação de fazer.
Obligatio in solidum- Obrigação solidária.
Obligatio propter rem- Obrigação acessória real.
Onus probandi- Ônus da prova.
Opus citatum (Op. cit.)- Obra citada.
Pacta sunt servanda- Cumpram-se os contratos.
Pari passu- No mesmo passo.
Patria potestas- Pátrio poder.
Per capita- Por cabeça.
Persecutio criminis- Persecução do crime.
Persona- Pessoa.
Pleno iure- Pleno direito.
Posse ad interdicta- Aquela que se exerce por interditos possessórios.
Posse ad usucapionem- Aquela que se exerce por usucapião.
Post scriptum (P.S.)- Depois do escrito.
Praeter legem- Fora da lei.
Presunção iuris et de iure- Presunção absoluta, não admite prova em contrário.
Presunção iuris tantum- Presunção relativa, que admite prova em contrário.
Procuração apud acta- Procuração judicial, transladada nos próprios autos.
Pro forma- Por formalidade.
Pro labore- Pelo trabalho.
Pro rata- Em proporção.
Pro soluto- Para pagamento.
Pro solvendo- Para pagar.
Pro tempore- Temporariamente.
Ratione contractus- Em razão do contrato.
Ratione materiae- Em razão da matéria.
Ratione personae- Em razão da pessoa.
Ratione valori- Em razão do valor.
Rebus sic stantibus- Mesmo estado de coisas.
Reformatio in melius- Reforma para melhor.
Reformatio in peius- Reforma para pior.
Rei sitae- Onde a coisa se encontra.
Rejeição in limine- Rejeição liminar.
Res- Coisa.
Res aliena- Coisa alheia.
Res communis- Coisa comum.
Res derelictae- Coisa abandonada.
Res extra commercium- Coisa fora do comércio.
Res furtiva- Coisa furtada.
Res iudicata- Coisa julgada.
Res publicae- Coisa pública.
Secundum legem- Segundo a lei.
Sine die- Sem data.
Sine iure- Sem direito.
Sine qua non- Sem a qual não.
Si vis pacem para bellum- Se queres a paz, prepara-te para a guerra.
Status quo- Estado em que se encontra.
Stricto sensu- Entendimento estrito.
Sub iudice- Pendente ao juiz.
Sui generis- Especial.
Sursis - Suspensão condicional da pena.
Suum cuique tribuere - Dar a cada um o que é seu.
Testis unus, testis nullus- Testemunha única, testemunha nula; uma só testemunha, nenhuma testemunha.
Vacatio legis- Vacância da lei.
Venda ad corpus- Venda pela totalidade da coisa.
Venda ad mensuram Venda pela medida da coisa.
Verbi gratia (V. g.)- Por exemplo, a saber.
Vox populi, vox Dei.- A voz do povo é a voz de Deus.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Ó mundo!

Acontece que ontem levei meu lado lady ao salão!

Cabelos renovados, unhas coloridas de uma cor linda entre o verde e o azul, dedinhos do pé doloridos dos pedacinhos arrancados a golpes de alicates... dali sai para arrumar um lugar qualquer que servisse algo de comer.

Esses lugares sempre tem TV, que sempre está ligada, e normalmente estão na Globo. A TV estava ligada na Globo. Então fui forçada a assistir ao videoshow e a uma coisa horrível. Muito ridícula. Made me think.

A reporter saltitante exibia a passantes o novo grande dilema da população brasileira, a nova questao da moda que está inquietando essas pobres almas que não devem ter mais com o que se preocupar:
"será que a Suelen vai ou não vai conseguir fazer o Roni mudar de time??"

Se você não sabe do que se trata, primeiramente te parabenizo. É, eu sei do que se trata. Vez em quando a novela está passando enquanto como algo antes de ir pra faculdade, e eu acabo sabendo dos personagens que estão a criar modas e debates filosóficos. Mas pra você, que está de parabéns, eu vou explicar do que se trata: Suelen é a moça que faz um papel de periguete estonteante e irresistível na novela, e ela seria deportada do Brasil por algum motivo... para que isso não acontecesse, e também por outros motivos, a Paula Burlamaqui convenceu o Roni, que demonstra ser homossexual, a se casar com a Suelen, e ele topa, porque assim faria o pai feliz e ganharia alguns benefícios que só o pai feliz daria. Enfim, casam-se. E a moçoila, mesmo sabendo de tudo, resolve investir agressivamente pra cima do rapaz, querendo convencê-lo a gostar de mulher. E aí a reporter saltitante vai ouvir a voz do povo (que não é a voz de Deus), e o povo diz: ahh... ela vai conseguir, ela é irresistível, vai corrigí-lo...

GENTE, PARA TUDO, QUE MERDA É ESSA!!!!

Quer dizer que o Brad Pitt conseguiria fazer qualquer homem (até o mais convicto dos heterossexuais) ter desejos por homens?? Ou a poderosa esposa dele, Angelina Jolie, faria até a mais contente mãe de família "virar a casaca"???

PELAMORDEDEUS!! Que desserviço!!!!

Pessoas fofas, o desejo não é racional. Ok? Você sabe que precisa emagrecer e saliva por um bolo de chocolate com sorvete; você sabe que é crime beber e dirigir, mas está tenso e seu corpo deseja uma cervejinha gelada... Você sabe que Fulaninha seria uma esposa fofa, mas seu coração saltita e as borboletas arrevoam em seu estômago quando você vê a Ciclana, que só vai te espezinhar. Esse seu coração que acha que devia gostar de Fulana mas que adora Ciclana não vai querer Beltrano só porque ele é o mister universo!!! Porque o desejo liga xongas para o que a sociedade quer de você, para o que o mundo acha que você devia gostar. Liga lhufas!!

Vocês acham mesmo que se o desejo fosse bem domesticável haveria pedófilos e estupradores?? Claro que eles têm de ser punidos, só digo que fazem o que fazem porque existe um desejo ali, um desejo socialmente inaceitável. Inaceitável porque há uma hierarquia de poder, um desrespeito a dignidade da vítima, que não é considerada em seus próprios desejos e saúde.

O relacionamento entre dois adultos que estão dentro de suas capacidades, de comum acordo, é totalmente lícito, mesmo que você seja preconceituoso e ache que eles estão errados. O problema está na sua cabeça, que deve ter tão poucos problemas que tem tempo pra ficar desperdiçando com futriquices na vida alheia, e que se acha no direito de dizer como os outros deviam ser... você é melhor que alguém? Acha mesmo? Você é um ser humano melhor do que o outro só porque seus desejos são comuns e dentro do comum esperado numa sociedade preconceituosa??? Ah, me poupe.

Ok, desculpa, provavelmente você não é preconceituoso com relação a isso. Se fosse nem teria chegado até aqui no texto, não é mesmo? Acho que voce até compartilha da minha indignação. Você deve mesmo pensar que bocó sou eu de não só saber o que se passa na novela, ainda assistir debates no videoshow e ainda mais arrumar tempo pra vir aqui postar minha indignação! É, sou bocó! =)

Beijo!


terça-feira, 14 de agosto de 2012

Diluída, sumida.

Cadê a minha concentração? Acho que o cansaço a comeu
Pode não ter sido. HD Full.
Excesso de conteúdo, de informação, to cheia, nada mais me cabe.

Sem contar que há algo nos bastidores... me pergunto se todos notam as movimentações nos próprios bastidores, por trás do pano que limita o palco onde atuamos iluminados com nossas mil máscaras e várias almas! Notam?

Quando a lava da minha alma começa a borbulhar, bem antes de ser lançada pra fora do vulcão de mim, eu já pressinto o fenômeno. A atenção desloca-se seguidamente para o nada, procurando uma brecha de silêncio, de quietude, de luz, de nada, um lugar onde possa se esquecer do mundo um pouco, do palco, dos outros atores, da plateia, esquecer do mundo e ficar sossegada, tentando sentir a temperatura da lava, o grau de movimentaçaõ, o porquê do reboliço, o que foi que desandou, ou qual a nova configuração que essas placas tectônicas do meu ser querem formar.

To assim.

Infelizmente não estou podendo sumir do mundo. E quando as coisas estão desabando nos bastidores eu me irrito demasiadamente com as coisas do mundo. Fico enfurecida de ter que ter um despertador pra me arrancar de minha cama deliciosa, de meus sonhos loucos, me apressando pra vir trabalhar, onde uma série aparentemente infinita e complexa de situações problemáticas me aguarda pra me desgastar, antes das quais enfrentarei uma coisa nonsense chamada trânsito (e ainda é pouco), gente apressada demais, gente lerda demais, sinais fechados, ruas com buracos, gente entregando panfleto, vendendo saco de lixo e pano de chão, entregando um jornal de graça que traz mais informações, mais informações, mais informações... PRA QUE TANTA INFORMAÇÃO?????

E depois vou pra faculdade! Que eu adoro, estudar o que adoro, discutir (que eu adoro) textos fantásticos! E agora a paixão do momento é um revival: Foucault! Adoro gente inteligente argumentando profundamente sofre o que está embaixo de nossas fuças e nós humanos não notamos! E mesmo assim, é mais informação, mais informação, informação que requer raciocínio e articulaçaõ (que eu adoro) mas minha cabeça está cheia transbordando de outras informações que eu NÃO QUERO!

E então eu leio o noticiário e é crime, estupro, pedofilia, corrupção, violência, roubo, maldade, maldade, maldade, e eu penso no Foucault, na psicologia, no dinheiro, no trânsito, no despertador (maledeto), na minha cama, e desconcentro, e diluo, e quero sumir, sumir, sumir, me dar espaço pra me permitir só sentir, sem pensar, só sentir, sentir o que não dá pra ver ainda, a lava que o vulcão ainda não cuspiu, o lado de alma que ainda não entrou em cena.

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terça-feira, 7 de agosto de 2012

A vida no fio da navalha!

Tentar o caminho do meio...
já disseram grandes pensadores:o caminho do meio é o melhor!

Outros disseram: seja quente ou seja frio, se for morno eu te vomito!
Fio da navalha!

No mundo do 8 ou 80, de gregos e troianos, é difícil a vida quando não queremos ser do extremo. Não quero ser 8, nem 80, nem grega, nem troiana. Nem quente demais, nem fria demais... Quero ser justa, e ser meiga, e ser racional e ser emotiva. Quero saber o que fazer quando não conseguir tomar uma decisão, e aguentar as consequencias do que fiz sem certeza de que fiz o certo. Porque raramente há certeza, e raramente há "o certo".

Vida no fio da navalha. E não quero tombar nem pra lá nem pra cá. No morno exato, o que aquece no frio, refresca no quente, que equilibra emoções loucas, que dá vida a pensamentos crus e duros.


No fio da navalha tento viver a vida: que tenso! Pior que manter o equilíbrio, pior que o medo de cair, pior que a tensão é a certeza do tombo pro lado errado, a dor de não perceber a dor de quem tombado do outro lado está.

Talvez se eu ampliar bem meus horizontes, abrir muito a minha mente, for capaz de aceitar até o mais bizarro e incompreensível ser, se conseguir olhar com um pouco de compaixão até para o mais miserável e cruel sujeito, se olhar através, se ver em quem posso odiar uma razão, por menor que seja, para amá-lo, talvez o fio da navalha se torne uma enorme plataforma, um tapete voador, de onde eu flutue sem medo de cair e sem ter de ser 8, ou 80.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Bobo!

Coração besta, coração balão, que bate a brisa oscila e sofre.

Sofre de besta, sem motivo e sem razão.

Será?

É só no fim do filme que se sabe seu final, se triste, se feliz.
É só lá que o motivo pra sofrer se apresenta como justificativa aceitável do sofrimento ou como brisa boba, besta.

É só no fim que se sabe se foi aventura, se foi catástrofe; se grande vitória, se enorme fracasso.

É só no fim que se sabe se "foram felizes para sempre", ou se foi tudo ilusão, ou se foi real por um tempo limitado. Só em retrospectiva, só depois que passou.

E o coração fica dando uma de economista, analisando cenários, prós e contras, fazendo gráficos, aplicando fórmulas, achando-se senhor da verdade e fazendo previsões que algumas vezes são precisas! Algumas vezes, quase nunca.

A vida prescinde de motivos e de lógica. Eu não. Coração balão balança bobo. Besta. Bosta.

terça-feira, 24 de julho de 2012

A fome e a gula.

Se havia fome de vida, acho que já está quase morta. A fome, não a vida.
Morta a fome de vida, de tanta vida que ando vivendo. Viva de vida de fome de vida morta.

Comendo vida, engolindo vida, respirando vida.

Cérebro a mil, a dez mil, a milhão. A ponto de eu não conseguir somar 8 + 8 + 12.

É, errei três vezes a conta, cérebro a milhão, passando muito rápido muito rápido por quase tudo, tudo o que ele não acha essencial. Tão pouco essencial como o resultado daquela conta de 2ª série.

É gula já. Gulosa da vida eu. Vida com abraços e beijos e horas de conversa com as amigas queridas, alma alimentada, ron-ron de gato, o leve torpor do vinho, o sol batendo lindo nas flores rosas dos ipês que cintilam em contraste com o céu azul embraquecido pela poeira da secura do ar da capital da República Federativa do Brasil em mês de inverno.

Gula de novidade, de quero mais, saber mais, conhecer mais, rir mais, dançar mais, falar mais, ouvir mais. Gula e fome de conhecer o meu mau lado sombrio, trazê-lo à luz, ser mais eu, eu inteira, sem vergonha de chocar o mundo, sem necessidade de chocar o mundo, permitindo-me simplesmente ser eu sem me importar com o olhar que acho que o mundo tem sobre mim. Sai de mim, auto-olhar-crítico, deixe-me, tenho fome, tenho gula, xô.

Sabe o mundo? Esse aí, ao seu redor, ao meu redor, ao redor de nós humanos? Fome e gula dele, do mundo, conhecê-lo. Os lugares, as comidas, as linguas, os gestos, as pessoas, as vestimentas, os animais, as músicas, as manias, as risadas, os cortes de cabelo, as cores das peles, os nomes, as frutas, os chocolates. Sem essa de que um dia a globalização vai tornar esse balaio homogêneo. Não vai, pode ficar parecido, mas é tudo diferente em sua raiz. E é diferente porque tudo que o homem ainda é incapaz de fazer é único. Cada pedra, cada peixe, cada ovo, cada cão, cada gato e cada passarinho, cada flor e cada fruta, tudo único. Que dirá você e eu, né? Únicos. Sou a única eu (e são várias eus nessa única!!) e único você, seja lá você quem você for (e quantos vocês houver em você).

E gula de tempo! Tempo tempo tempo, tempo pra devorar tudo que minha fome chama, que minha gula deseja. Tempo pra comer aos poucos e aos muitos tudo que me cerca, gente, música, letra, vida.

Tenho fome, gula e vontade de comer!

quinta-feira, 19 de julho de 2012

violência bumerangue

Criança que cresce sem apanhar é adulto mais feliz e sadio. Para a raiva, dê murros na parede. Depois que passar converse com seu filho como se você fosse uma pessoa civilizada! Assim ele aprenderá que não é com porrada que se resolvem os probleminhas do dia-a-dia...

Vítimas de agressão na infância podem se tornar adultos violentos

Estudo ouviu quatro mil pessoas em 11 capitais do país. Setenta por cento dos entrevistados disseram ter apanhado quando crianças.
Veruska Donato
São Paulo

http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2012/07/vitimas-de-agressao-na-infancia-podem-se-tornar-adultos-violentos.html

Pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo mostra que quem apanha na infância, muitas vezes, vira um adulto violento, que espanca crianças. Segundo o estudo, que ouviu quatro mil pessoas em 11 capitais, o agressor de hoje já foi vítima da violência na própria casa no passado.

“Quem sofre a punição física quando criança tende a aprender isso também como comportamento aceitável e como uma maneira de lidar com o conflito. Se ele não tiver outras maneiras, outros modelos ao longo da vida, isso tende a se repetir”, explica Renato Alves, pesquisador do Núcleo de Violência da USP.

Setenta por cento das pessoas ouvidas na pesquisa disseram ter apanhado quando crianças, sendo que 20% todos os dias. Foi esse grupo, dos que sofriam agressão com frequência, que admitiu que bateria muito nos filhos quando eles se comportassem mal.

A maioria dos entrevistados apanhava com vara, chinelo, palmada e pedaços de pau. “Geralmente você começa dando uma palmada até que essa aparente e inocente punição física se transforme em espancamento com pedaço de pau”, diz o pesquisador.

Para o juiz da infância e juventude, Luiz Carlos Ditomazzo, os casos que chegam ao Tribunal de Justiça de São Paulo mostram que o agressor pode ser tanto rico quanto pobre. “Nós costumamos dizer que a parede do barraco é mais fina, mas eu não tenho medo nenhum de afirmar que acontece na mesma proporção nas classes mais abastadas”, afirma o juiz.

Luiz Carlos defende uma lei mais dura do que a prisão para o agressor e a obrigação de tratamento médico: “Além da pena, da sanção penal, é preciso que haja a obrigação de um tratamento psicológico ou psiquiátrico”.

Na comparação com uma pesquisa feita dez anos atrás, o percentual de entrevistados que apanharam quando criança caiu de 80% para 70%.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Soul Parsifal

Música inspiradora de Renato Russo pra um fim de tarde de terça-feira fofa:

"Ninguém vai me dizer o que sentir
Meu coração está desperto
É sereno nosso amor e santo este lugar
Dos tempos de tristeza tive o tanto que era bom
Eu tive o teu veneno
E o sopro leve do luar

Porque foi calma a tempestade
E tua lembrança, a estrela a me guiar
Da alfazema fiz um bordado
Vem, meu amor, é hora de acordar

Tenho anis
Tenho hortelã
Tenho um cesto de flores
Eu tenho um jardim e uma canção
Vivo feliz, tenho amor
Eu tenho um desejo e um coração
Tenho coragem e sei quem eu sou
Eu tenho um segredo e uma oração

Vê que a minha força é quase santa
Como foi santo o meu penar
Pecado é provocar desejo
E depois renunciar

Estive cansado
Meu orgulho me deixou cansado
Meu egoísmo me deixou cansado
Minha vaidade me deixou cansado
Não falo pelos outros
Só falo por mim
Ninguém vai me dizer o que sentir

Tenho jasmim tenho hortelã
Eu tenho um anjo, eu tenho uma irmã
Com a saudade teci uma prece
E preparei erva-cidreira no café da manhã
Ninguém vai me dizer o que sentir
E eu vou cantar uma canção p'rá mim."

terça-feira, 10 de julho de 2012

"O amor na luta contra o preconceito"

O amor na luta contra o preconceito
28/06/2012 |

- Texto escrito por Karen Polaz e J. Oliveira, retirado daqui: http://blogueirasfeministas.com/2012/06/o-amor-na-luta-contra-o-preconceito/

"Escrevemos este post tendo em vista um duplo pano de fundo. Por um lado, hoje se comemora o Dia do Orgulho LGBT. Por outro, lamentamos mais um caso de homofobia e violência, ocorrido no último domingo, quando dois irmãos foram agredidos enquanto caminhavam abraçados. Um deles não resistiu aos graves ferimentos e acabou falecendo.

A partir disso, o objetivo do post de hoje é tecer algumas reflexões sobre o amor LGBT e sobre a importância do amor na luta contra o preconceito. Ao mesmo tempo, também queremos falar com você que, consciente ou inconscientemente, promove a lesbo-, homo- e a transfobia dentre seu convívio social. Em particular, desejamos chegar até aqueles que o fazem de propósito, que desqualificam e humilham um mundaréu de gente que não se enquadra na caixinha hétero/cissexual.

Não dispomos de um total controle por quem deixamos ou não de nos apaixonar. A paixão e o amor são complicados, porque se aproximam devagarinho e, de repente, vêm de uma vez só, fazendo a gente perceber como uma ou mais pessoas exercem um fascínio sobre nós, uma espécie de poder. Com tanto estímulo jorrando por todas as partes do corpo, é quase impossível ficar indiferente. Não tem jeito, o amor chega sem pedir e, muitas vezes, vem para ficar. E se esparrama.

Esse é um mecanismo que ocorre independente de nossa orientação sexual, se somos héteros, bi ou homossexuais, às vezes, até quando já estamos comprometidxs. E acontece, também, independente da vontade alheia. Portanto, se você acha que espancar seu/sua filhx adolescente consiste em um caminho eficiente para que elx deixe de se sentir atraídx por pessoas do mesmo sexo ou que deixe de se identificar com outro sexo que não seja aquele pré-determinado, esqueça, você está agindo muito errado. Ele/ela vai acabar se tornando uma pessoa amarguradx, enrustidx, cheix de pequenos infernos psicológicos, com possíveis problemas sociais e continuará sendo… quem elx é.

Avisamos aos navegantes que é assim. Ponto.

Se a orientação das pessoas não vai mudar segundo a sua vontade, religião, credo ou valores, por que insistir nisso? Por que não aceitar, simplesmente, amar e deixar amar? Como impor qualquer tipo de religião ou regras jurídicas ao amor? Por que a sua forma de amar vale mais que a dos outros? Por que julgar o afeto dos outros a partir do que você considera “normal” e do que você pratica?

Talvez a pergunta a se fazer seja: quem você pensa que é para achar que pode impedir que os outros amem?


Parada do Orgulho LGBT São Paulo 2012. Foto de Nacho Doce/Reuters.
Você não deve saber, mas tente imaginar o quão doloroso é estar em público, ao lado de alguém que se ama, mas, ao mesmo tempo, encontrar um abismo de distância por causa da discriminação. Não poder abraçar, beijar, sorrir pertinho um do outro, dar as mãos, buscar carinho… Tem que fingir que nada está acontecendo para não levantar “suspeitas”, com medo dos olhares repreendedores, do receio iminente da violência. E quanto mais educamos crianças para não conviverem com essas demonstrações de afeto em público, o estranhamento ao vermos namoradxs que não se enquadram no padrão hétero/cissexual continua sendo reproduzido, a sensação de que está “errado”, de que não é “normal” continua ali, viva. Mistificamos o que nos é genuinamente familiar, o amor.

Olhem esses exemplos do que as pessoas que não são hétero/cissexuais devem fazer, todos os dias, para fingir ter uma orientação sexual que não a delas, para não correr o risco de serem discriminadas ou sofrerem violência:

- não demonstrar afeto em público de qualquer tipo;

- evitar olhar qualquer tipo de pessoa com interesse;

- nunca dizer o gênero dx(s) ex e/ou atual(is);

- não fazer comentários que demonstrem sua orientação sexual, seja comentando sobre uma pessoa considerada bonita, usando gírias específicas, falando de lugares exclusivos etc;

- evitar possíveis gestos e “trejeitos” que apontem sua orientação sexual.

Difícil, né? Porém, difícil mesmo é para aqueles que necessitam conviver com essas regrinhas sendo marteladas no corpo inteiro, durante todos os dias da vida.

Por isso, estamos pedindo que o amor seja levado a sério na luta contra o preconceito. Para tanto, temos que tentar ocupar cada vez mais espaços que acolham os trans*, lésbicas, gays e bissexuais, criando um ambiente confortável para que todas e todos sejam aquilo que querem ser. Além disso, o apoio da família e dxs amigxs é imprescindível, a fim de promover um clima de autoconfiança e segurança para que o amor, em suas mais variadas formas, possa acontecer como deve ser: livre.

Vamos fortalecer a causa do casamento civil igualitário — os mesmos direitos com os mesmos nomes —, porque amar não é exclusividade de apenas um tipo de orientação sexual."

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Real virtual

Eu tenho uma relação estranha com o facebook.
Isso nada tem de anormal, você dirá, o que não existe é ter uma relação normal com o facebook. E eu concordo.

Direi-te então que olho para essa criatura com bastante curiosidade e perplexidade.

Lá estão reunidos grande parte de meus conhecidos e amigos, todos juntos sem se tocar, sem se falar, todos juntos numa única tela. Lá eu vejo uns poucos diálogos, mas centenas de monólogos diários. Lá as pessoas se fazem quem querem ser, "postam" frases que acham legal admirar, notícias que as tocaram e querem compartilhar, fotos de momentos felizes com pessoas queridas. E nesse se construir voluntariamente, escolhendo que pedaços revelar e que pedaços esconder, as pessoas transparecem mais do que gostariam... E demonstram sua carência, parecendo esperar um "boa noite" do mundo quando informam que vão dormir, um "que legal!" ou pelos menos alguns "curti" quando colocam um conteúdo que consideraram fantástico. Lá todos querem dizer ao mundo como deveriam ser para o mundo ser um lugar melhor! E estão todos certos! E todos errados...

Fico me perguntando se essa ansia de se mostrar ao mundo não inibe a necessidade de olhar para si mesmo... É como se falar de si, ou simplesmente postar qualquer coisa, fosse mais importante do que conhecer a si... quantas pessoas pensam três vezes sobre o que postaram, e porque postaram, e o que querem com aquilo, e se vivem de acordo com aquilo que querem que os outros vivam de acordo.

Vejo pessoas que não saem de dentro de si, mas estão lá se expondo, porque isso o facebook permite: você está fora de si e não está fora de si, está lá postado e bem dentro de si mesmo, sem lancar um olhar real ao outro, sem lançar um olhar real a si mesmo, mais preocupado em ser visto do que em enxergar o outro ou a si. Pessoas que não saem de verdade de dentro de si, que talvez acabem por, como disse o poetinha, morrer sem amar a ninguém, dizendo aos outros que quem de dentro de si não sai vai morrer sem amar ninguém. Porque é mais fácil "falar" do que ouvir, sempre foi...

Quando entro no facebook fico procurando em mim qual é a curiosidade que me faz querer saber o que importa aos outros, qual a carência que me leva a querer que saibam que estou ali, qual o afeto que me leva a curtir uns, ignorar outros...

Estar no mundo não é sair de si, conhecer-se a si mesmo e estar em contato com as próprias emoções não é estar isolado do mundo. Saiamos pois de nós, mas carregando conosco nós mesmos, sabendo que mais importante do que o olhar do outro sobre nós é o nosso olhar sobre nós e o mundo.

Ou, claro, posso estar totalmente errada! =)






quinta-feira, 5 de julho de 2012

Calligaris e a "Cura gay".

Colo aqui porque concordo em gênero, número e grau.
Que tal se ao invés de nos preocuparmos em "corrigir" o que não está errado nós simplesmente aceitássemos que as pessoas são o que são, e não o que achamos que deviam ser... São diferentes (que bom!) e únicas, e cada um tem seus desejos, seu modo de ver a vida e estar no mundo...

O que precisa ser corrigido é o inxirimento de meter o bedelho na felicidade e gostos alheios, em querer impor a outros algo que se tem como certo, e, principalmente, temos que corrigir a agressão infundada e causa de sofrimento ao qual submetemos pessoas que só querem o direito, garantido por constituição, de não sofrerem discriminação.

A matriz heteronormativa com a qual ainda tantos de nós tenta ver o mundo (homem hétero e mulher hétero) já nasceu ultrapassada... Dizer que as pessoas só devem ter relações sexuais com quem possam gerar descendentes é uma baita duma hipocrisia. Há séculos que o sexo não é limitado a esse fim (ainda bem, ou já não caberia gente nesse mundo).

Enfim, segue o texto do Calligaris!


Contardo Calligaris


A cura gay


Mesmo se quisessem, psicólogos e psiquiatras não saberiam modificar a orientação sexual de alguém


Em 1980, a homossexualidade sumiu do "Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais". Em 1990, ela foi retirada da lista de doenças da Organização Mundial da Saúde.


Médicos, psiquiatras e psicólogos não podem oferecer uma cura para uma condição que, em suas disciplinas, não é uma doença, nem um distúrbio, nem um transtorno. Isso foi lembrado por Humberto Verona, presidente do Conselho Federal de Psicologia, numa entrevista à Folha de 29 de junho.


No entanto, o deputado João Campos (PSDB-GO), da bancada evangélica, pede que, por decreto legislativo, os psicólogos sejam autorizados a "curar" os homossexuais que desejem se livrar de sua homossexualidade.


Um pressuposto desse pedido é a ideia de que os psicólogos saberiam como mudar a orientação sexual de alguém (transformá-lo de hétero em homossexual e vice-versa), mas seriam impedidos de exercer essa arte -por razões ideológicas, morais, politicamente corretas etc.


Ora, no estado atual de suas disciplinas, mesmo se eles quisessem, psicólogos e psiquiatras não saberiam modificar a orientação sexual de alguém -tampouco, aliás, eles saberiam modificar a "fantasia sexual" de alguém (ou seja, o cenário, consciente ou inconsciente, com o qual ele alimenta seu desejo).


Claro, ao longo de uma terapia, alguém pode conseguir conviver melhor com seu próprio desejo, mas sem mudar fundamentalmente sua orientação e sua fantasia.


Por via química ou cirúrgica (administração de hormônios ou castração real -todos os horrores já foram tentados), consegue-se diminuir o interesse de alguém na vida sexual em geral, mas não afastá-lo de sua orientação ou de sua fantasia, que permanecem as mesmas, embora impedidas de serem atuadas. A terapia pela palavra (psicodinâmica ou comportamental que seja) tampouco permite mudar radicalmente a orientação ou a fantasia de alguém.


O que acontece, perguntará João Campos, nos casos de homossexualidade com a qual o próprio indivíduo não concorda? Posso ser homossexual e não querer isso para mim: será que ninguém me ajudará?


Sim, é possível curar o sofrimento de quem discorda de sua própria sexualidade (é a dita egodistonia), mas o alívio é no sentido de permitir que o indivíduo aceite sua sexualidade e pare de se condenar e de tentar se reprimir além da conta.


Por exemplo, se eu não concordo com minha homossexualidade (porque ela faz a infelicidade de meus pais, porque sou discriminado por causa dela, porque sou evangélico ou católico), não posso mudar minha orientação para aliviar meu sofrimento, mas posso, isso sim, mudar o ambiente no qual eu vivo e as ideias, conscientes ou inconscientes, que me levam a não admitir minha orientação sexual.


Campos preferiria outro caminho: o terapeuta deveria fortalecer as ideias que, de dentro do paciente, opõem-se à homossexualidade dele. Mas o desejo sexual humano é teimoso: uma psicoterapia que vise reforçar os argumentos (internos ou externos) pelos quais o indivíduo se opõe à sua própria fantasia ou orientação não consegue mudança alguma, mas apenas acirra a contradição da qual o indivíduo sofre. Conclusão, o paciente acaba vivendo na culpa de estar se traindo sempre -traindo quer seja seu desejo, quer seja os princípios em nome dos quais ele queria e não consegue reprimir seu desejo.


Isso vale também e especialmente em casos extremos, em que é absolutamente necessário que o indivíduo controle seu desejo. Se eu fosse terapeuta no Irã, para ajudar meus pacientes homossexuais a evitar a forca, eu não os encorajaria a reprimir seu desejo (que sempre explodiria na hora e do jeito mais perigosos), mas tentaria levá-los, ao contrário, a aceitar seu desejo, primeiro passo para eles conseguirem vivê-lo às escondidas.


O mesmo vale para os indivíduos que são animados por fantasias que a nossa lei reprova e pune. Prometer-lhes uma mudança de fantasia só significa expô-los (e expor a comunidade) a suas recidivas incontroláveis. Levá-los a reconhecer a fantasia da qual eles não têm como se desfazer é o jeito para que eles consigam, eventualmente, controlar seus atos.


Agora, não entendo por que João Campos precisa recorrer à psicologia ou à psiquiatria para prometer sua "cura" da homossexualidade. Ele poderia criar e nomear seus especialistas; que tal "psicopompos"? Ou, então, não é melhor mesmo "exorcistas"?

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Em algum lugar entre o 8 e o 80!

Esse fim de semana assisti um episódio de He-man.

Retorno à infância... veio de volta aquela ilusão reconfortante de que "bom" e "mau" não estão nunca juntos, e que basta um olhar pra saber em que categoria cada pessoa/coisa se encaixa.

A gente cresce com isso, aprendendo isso, dividindo tudo em dois: certo/errado, bom/mau, bem/mal, fácil/dificil, alegre/triste, gosto/não-gosto, homem/mulher, isso/aquilo, doce/salgado, forte/fraco, claro/escuro.

Entendo a importância de termos categorias pra ver o mundo, mas às vezes penso que isso tudo é uma deseducação: no mundo as coisas são complexas, não se divide quase nada em apenas dois polos opostos. Não dá pra viver desprezando o contexto, desconsiderando que eu sou boa E má, que para a maior parte das questões não existe um certo apenas, que vários "errados" também estão certos, que vários certos também estão errados. Que entre os polos "homem masculino" e "mulher feminina" existem infinitas possiblidades de se ver e estar no mundo, que os "vilões" do mundo também são capazes de amar, e que as pessoas boas também causam sofrimento a outros.

Cresci aprendendo que era 8 ou 80, e que trabalho me dá agora entender que no mundo as coisas estão mais pra curva normal, 8 e 80 sendo os extremos e pouco frequentes, e que quase tudo no mundo está lá no meio, que a grande maioria das coisas e pessoas estão no 44, um pouco mais, um pouco menos... Quase nada é 8 ou 80.

É complexo apreender a complexidade.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Orgulho Gay

'O preconceito é democrático e atinge todas classes', afirma Carlos Tufvesson

No Dia do Orgulho Gay, estilista fala de seu casamento de 17 anos com André Piva e da luta pelos direitos dos homossexuais.

http://ego.globo.com/famosos/noticia/2012/06/o-preconceito-e-democratico-e-atinge-todas-classes-afirma-carlos-tufvesson.html

Eliane Santos
Do Ego, no Rio

'Não quero desistir de ser brasileiro por ser gay'

Carlos Tufvesson, um dos mais festejados estilistas brasileiros e que veste gente como Angélica, Ana Maria Braga e Vera Fischer, nasceu em 1968. Um ano antes de acontecer a chamada Batalha de Stonewall, quando no dia 28 de junho, grupos gays que frequentavam o bar Stonewall, em Nova York, se rebelaram contra a polícia que sempre aparecia no lugar para bater e cometer abusos. A data virou marco e ficou conhecida como Dia do Orgulho Gay no mundo todo. Para Tufvesson, 43 anos, homossexual assumido, casado há 17 anos com o arquiteto André Piva e responsável pela Coordenadoria de Diversidade Sexual do Rio de Janeiro, órgão da prefeitura do Rio, dia do orgulho gay é todo dia.

Pelo menos é com essa lógica que ele trabalha ao receber denúncias de gente que foi destratada ou agredida por tentar exercer sua orientação sexual, ou por ainda não ver direitos como o do casamento gay reconhecidos pela Justiça brasileira.


“Hoje (quarta-feira,27) soube do caso de irmãos gêmeos que foram agredidos na Bahia porque estavam andando abraçados. Isso é crime de ódio. Até quando o Estado brasileiro vai permitir que isso aconteça? Que pessoas morram por sua orientação sexual? No caso em questão, nem gays as pessoas eram”, diz ele que, apesar de fazer parte da alta sociedade do Rio de Janeiro e de ser filho da estilista Glorinha Pires Rabelo, não foi poupado de situações de discriminação e preconceito.

“O preconceito é bem democrático e atinge a todo mundo, a todas as classes sociais, religiões e raças. Só foi mais fácil porque posso contratar um advogado ou ter acesso ao conhecimento e me defender. Mas, só. Não tenho os mesmos direitos que outros cidadãos brasileiros têm. Ainda não posso me casar de verdade. Eu até poderia casar na Inglaterra, por exemplo, já que o André é cidadão europeu. Mas não quero isso, não quero desistir de ser brasileiro por ser gay”, conta ele. Nesta entrevista ao EGO, Tufvesson fala ainda sobre a desistência da candidatura a vereador e de seu quadro, o “Fashion Express”, no programa “Mais Você”.

Por que desistiu de se candidatar ao cargo de vereador no Rio de Janeiro?
Percebi que não estava preparado para chefiar uma campanha política. Não era só ter uma ideia na cabeça e uma boa intenção. Teria umas 30 pessoas trabalhando diretamente comigo, mais umas 200 na rua. É uma empresa! Fechei a minha empresa porque percebi que era uma grande roubada. E, no final das contas, eu estaria de novo administrando uma. Não quero isso. Acho que cada um pode ser militante, um soldado, no front em que atua.

Como é o trabalho na Cordenadoria de Diversidade Sexual?
Tentamos combater a homofobia e conseguimos criar o programa “Rio sem preconceito”, que trabalha a cura da homofobia a partir de todo o tipo de preconceito e transforma a causa gay na causa de todo cidadão que já sofreu preconceito. Além disso, recebemos denúncias e tentamos encaminhar a questão. Aliás, essa é a nossa preocupação no momento, o baixo índice de denúncias que recebemos. A gente acha que o cidadão homossexual está tão acostumado a ouvir que ele não tem direito, que é um subcidadão, que ele acredita nisso. Temos leis que garantem a cidadania do cidadão LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros), como manifestação de afeto e isonomia de tratamento. Neste 28 de junho, vamos lançar uma campanha pra mostrar a importância da denúncia. Não adianta vir no meu Twitter ou no meu Facebook e falar que foi vítima de homofobia. Temos uma coordenadoria na cidade, com cidadãos homossexuais trabalhando nela, que vão atender com respeito, dignidade, conhecimento técnico e privacidade. Sem a denúncia, não podemos agir.

Como é transformar uma opção em uma bandeira política?
É muito simples: não é uma opção. É uma orientação. Ninguém na vida optaria por ser veado e tomar uma porrada na esquina, ter sua orelha mordida, ser esculachado na escola.


Formulei mal! Quis me referir a algo que deveria ser apenas uma decisão pessoal e tem que se transformar em uma briga por direitos civis para que seja garantido.
Não! Acho que você formulou bem. Acho que você deveria manter assim porque tem muita gente que acha que ainda é uma escolha. Desconsidera que a Organização Mundial de Saúde já declarou que não é doença. Acho engraçado quando algum parlamentar ou algum religioso vem opinar sobre isso e propor, por exemplo, que homossexualidade é doença e precisa de cura. Não quero a opinião deles falando sobre a minha condição. Quero uma opinião técnica. Existe um projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional, que propõe isso. A cura para gays. Mas quero ver que médico vai curar isso já que é passível de perda do CRM do profissional. Quem vai curar se não pode? Como pode uma pessoa sem conhecimento técnico decidir a esse respeito?

Você acha que sua trajetória pessoal na luta dos direitos civis dos gays de algum modo foi beneficiada pela sua classe social? Você e o André, por exemplo, são citados no anuário da Sociedade Brasileira.
O preconceito é bem democrático ele atinge a todo mundo, a todas as classes sociais, religiões e raças. Só foi mais fácil pra mim por ser de uma classe social mais favorecida porque posso contratar um advogado ou ter acesso ao conhecimento e me defender. Mas, só. Mas estudo também não está ligado a classe social. Tem muita gente da minha classe social, que é completamente ignorante. Acho que é mais fácil pela minha profissão, talvez. Sou um profissional respeitado, sou dono da minha empresa, assim como o André. A gente não tem que ficar preocupado se vai deixar de ser promovido ou não porque se assumiu gay. Mas é só isso. Não é fácil para ninguém. Preconceito a gente sofre desde criança. Quanto ao anuário da Sociedade Brasileira, o que aconteceu foi que a gente era citado em verbetes separados, mas no mesmo endereço, na mesma edição. Aquilo me incomodou. Liguei para a Helena Gondim, na época, e falei que não queria continuar no livro. Ou ela me colocava como um casal ou me tirava. Porque eu e o André somos um casal, temos um casamento e todo mundo sabe disso. Foi bacana porque ela topou e ainda ligou para outros casais perguntando se queriam a mesma coisa. Mas só eu e o Gilberto Braga topamos figurar como casal no anuário. Mas entendo que ninguém é obrigado a assumir nada. Eu só tenho que lutar para que as pessoas tenham o direito de escolher e exercer sua cidadania.


Como foi para você se assumir gay e contar para a sua família?
Meu caso é uma exceção. Minha mãe se separou do meu pai, que era militar, quando eu tinha seis meses de idade. Eu carrego o preconceito de ser filho de pais separados desde que eu tinha seis meses, minha mãe teve um segundo casamento, mas não tinha divórcio ainda, meu irmão era tido como filho bastardo. Então, todo o tipo de preconceito que você possa imaginar eu já passei. Tinha que ver na época em que frequentava o clube militar com o cabelo comprido. Confundiam-me com subversivo. Acho que na época, se pedisse para meu pai escolher o que eu seria, gay ou subversivo, não sei o que ele iria preferir (risos). Nos éramos uma família atípica. Mas minha mãe sempre me disse para eu lutar pelas coisas em que eu acredito.
É claro que tive dificuldade em dizer: “Sou gay”. Se bem que na verdade, eu não cheguei e falei. Voltei da minha pós-graduação na Itália e estava apaixonado por um cara. Até então, achava que um homem não podia se apaixonar por outro homem. Trepar podia, apaixonar, não. Mas voltei e estava mal, ficava só em casa, não saía. Até que minha mãe virou e falou: “Você está com saudade dele, né?”. Tomei um susto, mas foi assim. Mas acho que a pessoa tem que ter todo o tempo do mundo para absorver isso, se conhecer e entender a sua sexualidade, o homossexual se sente isolado no mundo, que a sexualidade dele é promiscua, suja. Enquanto ele achar isso, não deve falar com a família. Ele não está preparado. Só quando entender que o que ele sente pode ser o mesmo amor que a mãe sente pelo pai, que a irmã pelo namorado. Que é tudo normal.

E como foi contar para o eu pai?
Eu tinha muito pouco contato com ele. Quando ele morreu, eu estava só há um ano com o André. Não tivemos tempo de ter essa conversa. Mais novo, eu sempre tive muitas namoradas. Teve um dia que ele me perguntou: e aí, nunca mais me apresentou uma namorada. Eu virei para ele e falei: 'Você vai querer falar sobre isso?'. Ele mudou de assunto (risos). Mas é um direito. Não tenho que forçar ninguém a me entender, me aceitar. Só a me respeitar.

E como foi fazer da cerimônia do seu casamento, no ano passado, um ato político então?
Mas não foi, nem é. Meu casamento foi um ato de amor, não uma manifestação política.


Ficou frustrado pelo fato de a Justiça não ter concedido a conversão da sua união estável em casamento civil?
Acho que esse episódio serviu para mostrar até aonde vai o preconceito. O Supremo Tribunal Federal reconheceu por unanimidade esse direito. Aí você pensa assim: luto há 16 anos por direitos civis dos homossexuais. Pronto! Foi! Vou conseguir!
Mas aí vem o juíz que negou a minha conversão, e envia um ofício para o Supremo justificando a decisão dele dizendo que ele não sabia que a entidade havia decidido sobre a união estável há seis meses. O mesmo aconteceu com um desembargador, que se disse impedido de julgar a causa porque teve uma educação jesuítica. É isso! Por mais que a gente lute, tenha leis, mas o preconceito abre suas brechas. Isso coloca a independência do judiciário em xeque.

Você acha que com o reconhecimento desse direito para todos os cidadãos brasileiros já dá para começar a descansar?
Não. É apenas o primeiro passo! Quando você reconhece o casamento, você diz apenas que eu tenho o mesmo direito que outros cidadãos brasileiros. Eu poderia casar na Inglaterra, por exemplo. O André é cidadão europeu. Mas não quero isso, não quero desistir de ser brasileiro por ser gay. Nós homossexuais não temos 120 direitos que nos são negados. Ou me dá meus direitos, ou desconto no imposto de renda porque só obrigação não dá. Meu estado civil continua solteiro ainda. Todo mundo sabe que sou casado com ele há 17 anos. Isso é uma falsidade ideológica, é patético, é uma situação vexatória. O judiciário vai ter que se pronunciar para evitar que mais crimes de ódio continuem acontecendo no nosso país.

Como rolou o convite para participar do programa da Ana Maria Braga?
Foi o Boninho que teve a ideia do quadro, dando dicas de moda e me chamou. É um tesão porque voltei a trabalhar com tecido, coisa que não fazia desde que fechei minha empresa. A moda não é só minha profissão, é minha vida.

Carlos Tufvesson e André Piva: 'O amor não deve ofender ninguém. E se ofender, o problema é de quem se ofendeu' (Foto: Marcos Serra Lima/EGO)

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Uma linda mulher - Calligaris

CONTARDO CALLIGARIS
Uma linda mulher
Se você ama uma mulher por ela ser prostituta, tente entender a fantasia que está atrás de seu amor

Numa cobertura da Vila Leopoldina, em São Paulo, na noite de 19 de maio, Elize Araújo Matsunaga, 30, assassinou o marido, Marcos Matsunaga, 42, com um tiro na cabeça. Na manhã seguinte, com uma faca de cozinha, Elize esquartejou o cadáver, de modo a poder transportar os pedaços em três malas. Logo, ela foi se desfazer das malas e da faca.
Esse fato de crônica tem tudo para se tornar literatura de cordel. Há o sangue frio de Elize depois do crime. Há a diferença social entre Marcos, empresário e herdeiro da Yoki, que acaba de ser vendida por R$ 1,7 bilhão, e Elize, enfermeira e bacharel em direito, mas de origem bem humilde.
Além disso, o ciúme foi um dos motivos: na noite do crime, Marcos acabava de ser confrontado por Elize, que conseguira a prova da infidelidade do marido. Mais: o horror aconteceu depois de seis ou sete anos do que foi, ao que tudo indica, uma genuína paixão; a filha, de um ano, estava no apartamento, dormindo, durante o crime; foi Marcos que transmitiu a Elize o interesse pelo tiro e pelas armas (havia 30, todas registradas, no apartamento).
Mas, acima de tudo, o que transforma a história do casal em matéria de cordel é o fato de que Marcos encontrou Elize, em 2004, num site de garotas de programa.
A informação parece ser repetida pela imprensa como uma mensagem aos homens: olhe o risco que você corre, se você amar uma prostituta e casar com ela.
Ora, quero corrigir esse lembrete. Se você se apaixonar por uma prostituta (ex ou não, tanto faz) e quiser se casar com ela, recomendo apenas uma cautela, que não tem nada a ver com sua futura mulher e tudo a ver com você.
Claro, a culpa do crime de 19 de maio é só de Elize, mas o lembrete preventivo é para os homens, embora chegue tarde para Marcos.
Se você ama uma mulher que por acaso é prostituta, aí, tudo bem; mas, se você ama essa mulher POR ELA SER prostituta, atenção: nesse caso, seria sábio você se familiarizar com a fantasia que sustenta seu amor. Qual é, em geral, a fantasia em questão?
Todo mundo se lembra de "Uma Linda Mulher", filme adorável de Garry Marshall, em que o rico Edward (Richard Gere) se apaixona por Vivian (Julia Roberts), uma prostituta que ele "levantou" na rua. Será que a história de Marcos e Elize é "Uma Linda Mulher" sem o final feliz? De fato, sempre pensei que, depois dos sorrisos do fim do filme, Edward e Vivian acabariam mal -talvez não tão mal quanto Marcos e Elize, mas mal. Por quê?
Logo quando Edward decide trazer Vivian para o seu mundo, ele "acha graça" confessar a um amigo que aquela linda mulher que está com ele é uma prostituta de rua.
Prognóstico inelutável. Um dia, Edward não resistirá à fantasia que lhe fez escolher Vivian: ele a humilhará (e se humilhará), lembrando, eventualmente diante de amigos e parentes, que Vivian vem da sarjeta e que ele poderia jogá-la de volta para lá.
Na noite do dia 19, segundo a confissão de Elize, Marcos a ameaçou: "Vou te mandar de volta para o lixo de onde você veio". Ele também declarou que, se a mulher quisesse se separar, a filha ficaria com ele, pois será que um juiz daria a guarda da menina a uma prostituta? (Eu aposto que sim, mas sou otimista...).
Em regra, o desejo de um homem que se apaixona por prostitutas (e planeja "redimi-las") é sustentado por uma fantasia (inconsciente) de vingança -contra a mulher e contra ele mesmo, por ter se deixado seduzir. Explico.
A sexualidade de muitos homens é patologicamente neurótica: eles olham para o sexo pelo buraco da fechadura do quarto dos pais. Nessa ótica infantil, não se salva ninguém: é "puta" qualquer mulher que vai com os outros, ou seja, todas as mulheres são "putas", inclusive a mãe (surpreendentemente), porque ela vai com pai, padrasto e companhia -enquanto, para a gente, ela só tem carinho contido.
Para o homem de calça curta, ajoelhado diante da fechadura, a "puta" é um paradoxo: vergonhosamente acessível a todos, salvo a ele.
É nessa infantilidade que nascem a misoginia básica, o gosto da violência contra as prostitutas, a ideia de que todas as mulheres, se não são prostitutas, sonham com isso e uma preferência amorosa quase exclusiva por meretrizes.
Quando um desses homens ama uma prostituta e se casa com ela, seu ressentimento pode se calar em nome do amor, mas só por um tempo: ainda ele vai puni-la por ter sido e ser para sempre a "puta" que vai com os outros."

sábado, 9 de junho de 2012

Árvores como pipocas!

Moro em Brasília, capital federal do Brasil. Nasci aqui, adoro essa cidade a que chamo carinhosamente de "minha roça".

Brasília é uma cidade estranha. É diferente. Noto isso ao viajar para qualquer lugar, pois tendo-a como referência é tudo muito esquisito. Aqui no Plano Piloto, miolo da capital, os endereços são como um jogo da minha infância: batalha naval. Basta dar algumas coordenadas cartesianas (número, letra, número, sul ou norte) e se chega sem problemas nem erros a qualquer lugar.

E é linda minha roça, parece uma maquete em escala 1:1. Toda arborizada, o céu azul como uma cúpula de vidro, sem nem um mísero morro nos horizontes, linda.

E estamos chegando a uma época particularmente fofa por aqui. Apesar da secura do ar, irritante principalmente pra quem vem de fora, a cidade fica linda.

O florescer começa pelos ipês rosa. Chega essa época e eles explodem como pipocas, de uma hora pra outra, tingindo a cidade de rosa. Cruzar a cidade e norte a sul pelo eixão essa época é como ser transportado para uma estrada de Greyskull (lembram do desenho de He-man, onde o Geninho se escondia?). Lindo demais!




Os ipês tem uma particularidade muito interessante: cada cor floresce numa época. Não me lembro direito a ordem, mas é tudo muito efêmero... Brasília fica rosa, fica roxa, fica branca (minhas prediletas), fica amarela (é a que tem mais), fica linda, linda, linda!


sexta-feira, 8 de junho de 2012

74% de doentes mentais


Acontece no mundo...
Cada região de cada país, cada cultura, cada grupo mais ou menos homogêneo de pessoas pensa e evolui de uma determinada forma própria.

Mesmo assim, em tempos de globalização, de mundo menor, interligado, com notícias viajando à velocidade da luz para todos os lugares, certas coisas me chocam.
Foi assim com essa notícia russa:


Justiça proíbe paradas gays em Moscou pelos próximos 100 anos
Medida anti-propaganda já havia entrado em vigor em outras cinco regiões
O GLOBO

Com agências internacionais
Publicado:
7/06/12 - 16h37

"Policiais prendem manifestantes que protestavam nesta terça-feira contra a aprovação do projeto de lei do lado de fora do Parlamento, em Moscou
Misha Japaridze / AP

MOSCOU — Em uma nova onda de proibições a manifestações na Rússia, a justiça de Moscou negou nesta quinta-feira a realização da marchas de orgulho gay pelos próximos 100 anos, decisão que a comunidade homossexual do país já afirmou que irá recorrer no Tribunal de Direitos Humanos em Estrasburgo. O tribunal municipal de Moscou negou uma apelação de Nikolái Alexéyev, ativista e principal líder LGBT do país, que solicitava a realização da parada gay na cidade nos próximos 100 anos. Uma medida anti-propaganda gay já havia entrado em vigor em cinco regiões da Rússia.

“Sempre nos dizem que não, mas em Estrasburgo estas manifestações são ilegais. O tempo passa e seguiremos pedindo autorização para novas ações, ainda que nos neguem. Desta vez decidimos recorrer em Estrasburgo contra a proibição de futuras marchas”, disse Alexéyev, de acordo com agências locais.

Na última quarta-feira, a Câmara alta do Parlamento russo aprovou um projeto de lei que aumenta em 150 vezes a multa para quem participa de protestos não autorizados. Na terça-feira, em uma votação sem precedentes, os votos do Rússia Unida — partido do presidente Vladimir Putin que tem a maioria na Câmara — tornaram a aprovação na Câmara baixa possível, mesmo com todos esforços dos opositores. Agora, o projeto precisa apenas da assinatura de Putin para entrar em vigor.

Segundo Alexéyev, a prefeitura de Moscou negou no começo do ano uma solicitação para organizar 102 paradas entre 2012 e 2112. “Utilizamos uma brecha na legislação que não estabelece um prazo máximo na hora de realizar acordos sobre manifestações”. No começo de maio, o ativista russo foi condenado por fazer “propaganda gay”.

Também no último dia 27 de maio, a tentativa de organizar uma parada gay em Moscou foi frustrada por forte ação policial. Religiosos também se concentraram no centro da capital russa para impedir que os ativistas LGBT protestassem contra o projeto de lei anti propaganda gay que está sendo discutido em Moscou.

Varias cidades russas aprovaram este ano leis contra a propaganda homossexual. De acordo com uma pesquisa do Centro Levada, 74% dos russos acreditam que os gays e lésbicas sofrem problemas mentais. Menos da metade dos russos acredita que os homossexuais devem ter os mesmos direitos que os heterossexuais.


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Quem tem doença mental nesse contexto? SETENTA E QUATRO POR CENTO das pessoas de uma população se acham superiores só por serem comuns. E como no milênio passado (ô atraso) ainda acham que homossexualidade é doença.

Menos de 50% acham que homossexuais devem ter os mesmos direitos que os hetero. Como no holocausto, devem ter vontade de marcar seus homossexuais, identificá-los, isolá-los, eliminá-los. Tanta gente que ainda se acha mais gente que os outros, melhor que os outros, superior...

100 anos de silêncio imposto. Estaremos no século XXII e eles estarão no século XVI.

Esse tipo de coisa dá uma desesperança do mundo... =(

Aniversário da pandemia!

  Brasil. Pandemia. Vai fazer um ano... um ano de isolamento. Um ano de crianças sem escola, um ano de homeoffice . Um ano agradecendo que n...