terça-feira, 24 de julho de 2012

A fome e a gula.

Se havia fome de vida, acho que já está quase morta. A fome, não a vida.
Morta a fome de vida, de tanta vida que ando vivendo. Viva de vida de fome de vida morta.

Comendo vida, engolindo vida, respirando vida.

Cérebro a mil, a dez mil, a milhão. A ponto de eu não conseguir somar 8 + 8 + 12.

É, errei três vezes a conta, cérebro a milhão, passando muito rápido muito rápido por quase tudo, tudo o que ele não acha essencial. Tão pouco essencial como o resultado daquela conta de 2ª série.

É gula já. Gulosa da vida eu. Vida com abraços e beijos e horas de conversa com as amigas queridas, alma alimentada, ron-ron de gato, o leve torpor do vinho, o sol batendo lindo nas flores rosas dos ipês que cintilam em contraste com o céu azul embraquecido pela poeira da secura do ar da capital da República Federativa do Brasil em mês de inverno.

Gula de novidade, de quero mais, saber mais, conhecer mais, rir mais, dançar mais, falar mais, ouvir mais. Gula e fome de conhecer o meu mau lado sombrio, trazê-lo à luz, ser mais eu, eu inteira, sem vergonha de chocar o mundo, sem necessidade de chocar o mundo, permitindo-me simplesmente ser eu sem me importar com o olhar que acho que o mundo tem sobre mim. Sai de mim, auto-olhar-crítico, deixe-me, tenho fome, tenho gula, xô.

Sabe o mundo? Esse aí, ao seu redor, ao meu redor, ao redor de nós humanos? Fome e gula dele, do mundo, conhecê-lo. Os lugares, as comidas, as linguas, os gestos, as pessoas, as vestimentas, os animais, as músicas, as manias, as risadas, os cortes de cabelo, as cores das peles, os nomes, as frutas, os chocolates. Sem essa de que um dia a globalização vai tornar esse balaio homogêneo. Não vai, pode ficar parecido, mas é tudo diferente em sua raiz. E é diferente porque tudo que o homem ainda é incapaz de fazer é único. Cada pedra, cada peixe, cada ovo, cada cão, cada gato e cada passarinho, cada flor e cada fruta, tudo único. Que dirá você e eu, né? Únicos. Sou a única eu (e são várias eus nessa única!!) e único você, seja lá você quem você for (e quantos vocês houver em você).

E gula de tempo! Tempo tempo tempo, tempo pra devorar tudo que minha fome chama, que minha gula deseja. Tempo pra comer aos poucos e aos muitos tudo que me cerca, gente, música, letra, vida.

Tenho fome, gula e vontade de comer!

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