sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A véspera da véspera!

De um natal sem cara de natal, pelo menos pra mim e pra várias das pessoas que me cercam. E, na verdade, tanto faz.

Estando no trabalho, em um dia muito mais calmo do que os de costume, permito-me tirar um tempo para avaliar o ano. 2011. Ano ímpar, os que mais gosto!

Li um pouco do que escrevi aqui, desde o começo, e senti a sensação boa de reencontrar um velho e grande amigo. Às vezes me leio e pergunto: "quantos anos essa pessoa tem? De onde vêm essas ideias? Por que ela pensa assim?". Só sei a resposta da primeira, mas ela não diz nada sobre todo o resto.

Meu caminho, assim como o seu e o de todo mundo, teve atalhos, avessos de atalhos e desvios. Eu costumo pegar os maiores caminhos pra chegar em qualquer lugar, ando mais do que o necessário, "perco" mais tempo do que precisaria, mas cansei de me stressar com isso. Na vida noto que olhando daqui, todo o caminho fez sentido. Fez sentido estudar em um colégio onde me sentia estranha e excluída, pois de lá surgiram duas de minhas irmãs de alma, que até hoje caminham comigo. Fez sentido fazer engenharia, pois falou alto aos nós que me constituem, e me ajudou a ver muita coisa, sobre mim e sobre o mundo... e me trouxe até aqui! Fez sentido os amores que vieram e se foram, cada um na hora certa, fazendo com que hoje eu seja esta pessoa aqui, com um amor que permanece, e que é um total "estar no lugar certo no mundo". Fez sentido tudo que comecei e larguei, e faz sentido o que comecei e quero acabar, a psicologia que entrou tardiamente na minha vida, mas que casou com minha alma e me fez mais eu.

Ano ímpar, vida ímpar, com os pares que na vida vêm.

Desejo a todos e todas a felicidade que eu sinto.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Buraco no peito

Fundamentalismo (by Calligaris)

CONTARDO CALLIGARIS

Sentidos do fundamentalismo

"O fundamentalista não consegue praticar normas que ele prega e sente inveja de quem não as respeita"

Eis uma (pequena) contribuição ao debate sobre fundamentalismo que se deu, recentemente, na Folha (artigos de Ives Gandra da Silva Martins, 24/11, e Daniel Sottomaior, 8/12; cartas dos leitores Antônio Ilário Felici e Francisco Guimarães, 9/12; coluna de Hélio Schwartsman, 10/12).

Fundamentalista é, antes de mais nada, quem leva a sério sua convicção e segue à risca os preceitos que derivam dela.

Se você for católico, não se divorciará nem comerá carne na Sexta da Paixão; se for judeu, no sábado, evitará ligar a luz elétrica; se for muçulmano, não tomará álcool e, caso seja mulher, circulará de véu fora de casa; se for ateu, não invocará a misericórdia divina, nem mesmo em momentos de extremo perigo.

Meu pai era convencido de que existem mistérios para os quais qualquer resposta seria desonesta.

Nesse seu agnosticismo, ele era fundamentalista no sentido que acabo de definir. Um dia, quando meu irmão e eu éramos já adultos, ele quis que prometêssemos que, se ele, na agonia, pedisse a assistência de um padre, nós lhe negaríamos esse recurso, considerando que sua sanidade mental teria se perdido no aperto acovardado da última hora.
Prometemos. Por sorte, ele morreu sem pedir conforto religioso algum. Se ele tivesse pedido, não sei se eu teria mantido minha promessa; à diferença dele, eu não sou fundamentalista: decido e escolho segundo as circunstâncias e não por princípio.

Mesmo assim, tenho respeito, se não simpatia, por esse tipo de fundamentalismo. E acho que todos deveriam poder levar (e viver) suas convicções a sério, se assim quiserem -claro, nos limites básicos impostos pelos códigos Penal e Civil, que regem a convivência social.
Mas tenho pressa de chegar ao outro sentido, pelo qual fundamentalista é quem exige que os preceitos que derivam de suas convicções ou de sua fé sejam observados por todos -ou mesmo que eles se transformem em lei da sociedade inteira.

Esse tipo de fundamentalista, seja qual for sua convicção, religiosa ou ateia, é animado pela necessidade de converter os outros, a qualquer custo. Em geral, ele acha que a violência de seu espírito "missionário" é um corolário de sua fé e uma prova de sua generosidade: "Forçando o outro a se converter, eu só quero seu bem, mesmo que seja contra a vontade dele".
Com esse tipo de fundamentalista, eu implico, por duas razões.
Primeiro, detesto que alguém esconda sua violência atrás de pretensas boas intenções e não gosto da ideia de que um outro imagine saber o que é "bom" para mim.

Segundo, não acredito que alguém possa querer converter os outros à força por generosidade.

Há duas razões pelas quais, em regra, alguém quer impor as normas de suas convicções aos outros, e ambas são péssimas:
1) Ele precisa que ao menos os outros respeitem essas normas, que ele preza, mas não consegue impor a si mesmo -ou seja, incapaz de obedecer a seus próprios princípios, ele quer validá-los pela obediência forçada dos outros;
2) Ele quer se livrar da inveja que ele sente da vida dos que não respeitam essas mesmas normas (para assinalar a componente de inveja, presente nos moralistas, Alfred Kinsey, o grande sociólogo e sexólogo, dizia que "ninfômana" e "tarado" são os que conseguem ter uma vida sexual mais intensa do que a da gente).


Em suma, os motores de muitos fundamentalismos missionários são a incapacidade de viver à altura dos preceitos pregados e a inveja de quem não respeita esses preceitos.

Por isso, no debate (ou na gritaria) entre homossexuais e evangélicos, por exemplo, nem preciso decidir se gosto mais de Oscar Wilde ou do apóstolo Paulo.

Pois, bem antes e independentemente disso, a oposição relevante é a seguinte: os homossexuais não pretendem que os evangélicos passem todos a transar com parceiros do mesmo sexo ou a frequentar baladas gays, enquanto os evangélicos pretendem que os homossexuais se convertam e renunciem a seu desejo (transformado em "pecado") -ou, no mínimo, que eles sejam impedidos de viver segundo suas próprias disposições e convicções.

Ou seja, para se situar nessa oposição, não é preciso escolher entre as ideias e as práticas das partes, mas entre os que querem regrar a vida de todos segundo seus preceitos e os que preferem que, nos limites da lei, todos possam pensar e agir como quiserem.
Assim sendo, como se diz na roleta, "façam suas apostas".

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Até indignação tem limites!

Eu não vi e espero não ver o vídeo da enfermeira maltratando o pequeno cachorrinho. Ela está mais do que errada, nada justifica, foi um ato covarde e cruel e ela deve ir para a cadeia por isso. Estou, como boa parte dos seres humanos, indignada e chocada.

Mas tudo tem limite. Ninguém no mundo é santo pra propôr linchamento dessa mulher. Com certeza tem muita gente que maltrata animais e pessoas por aí se sentindo no direito de exigir punição com tortura pra infeliz...

Eu não sou católica, mas esse tipo de coisa me lembra a pobre da Geni... Será que ninguém entendeu quando Jesus disse "que atire então a primeira pedra aquele que nunca pecou"?

Isso se junta ao meu post anterior. Vamos cada um cuidar do próprio umbigo e parar de se sentir senhor da vida alheia, né? Mundo podre...

Uma bandeira pra chamar de minha!

Quem me conhece sabe o quanto a "questão de gênero" me ferve o sangue.

A mim, uma pessoa bem sucedida, integrante do sexo e do gênero feminino, bem sucedida no mundo como indivíduo, independente do sexo e do gênero, muita gente nem compreende minhas indignações.

Discuto com homens e mulheres o que é ser mulher no mundo. Eles e elas, discordando de mim, usam argumentos diferentes.

Os homens acham que as mulheres reclamam de barriga cheia, que elas podem tudo que os homens podem, que tem muito mais gente sofrendo muito mais (ex.: negros, pobres, deficientes, feios). Até entendo, eles são homens, é bem dificil mesmo pensar a partir do umbigo alheio... colocar as pessoas em caixinhas tem vantagens e desvantagens, mas posso garantir que as mulheres negras sofrem mais do que os homens negros, e as mulheres pobres sofrem mais do que os homens pobres, e as mulheres deficientes sofrem mais do que os homens deficientes, e as mulheres feias sofrem mais do que os homens feios. Okey, isso não vem ao caso. Sei que eu teria dificuldade de defender que o funk é melhor do que a MPB, está fora do meu espectro possível de compreensão, então entendo que temos um limite até onde conseguimos compreender o diferente (mas aceitar é diferente de compreender!)

As mulheres que me contextam dizem que tá tudo certo, tudo bom, que o que as mulheres conquistaram nessas várias décadas de lutas só fez tirá-las da paz que era ter "de graça" um lar e um marido pra chamar de seu, que estamos pior agora, ou que já estamos bem demais, melhor do que poderíamos querer. Também me dizem que homens e mulheres são diferentes e pronto (porque Deus quis, ou porque a natureza fez assim), e que buscar algumas igualdades é absurdo (e deixam nas entrelinhas que acham "natural" a mulher ceder mais, ser mais submissa, mais doce, mais pacata, mais amorosa, mais meiguinha, mais frágil, mais dependente). Esses argumentos fervem ainda mais meu sangue (elas são também mulheres, oras bolas!) mas busco compreender que o discurso do "senso comum" se entranha mesmo nas cabeças das pessoas aparentemente mais bem esclarecidas, e quem nem todos sentem na pele as dores que eu consigo sentir.

Dito tudo isso, e não me excusando de entrar nos debates sobre gênero que frente a mim aparecerem, posso afirmar: NÃO SOU FEMINISTA.

Não é essa a bandeira que quero chamar de minha, não é só contra o machismo que levanto minhas armas, porque isso é um pedaço pequeno do problema que me incomoda.

Voltando a(o)s negr@s, pobres, deficientes, fei@s, acrescentando a el@s @s homossexuais, bissexuais, transexuais, obes@s, carecas, albin@s, idos@s... o que realmente me aflige é que tod@s ess@s sofrem preconceitos e discriminações de indivíduos que, por não terem aquela característica específica que @s coloca nesses grups de "minorias" (minoria não como um conceito matemático, mas social), se sentem superiores e, pior, no direito de externar essa superioridade.

Minha bandeira é pela aceitação da diferença, da diversidade. Que ninguém se sinta obrigado a deixar de ser o que é, que ninguém se sinta ameaçado pelo estranho, pelo novo, pelo não igual. A luta que, para mim, faz sentido é a luta pelo fim do encrencamento com o umbigo alheio.

Se sou espírita e você é crente e ela é budista e ele é muçulmano, que Deus desça aqui na Terra "em pessoa" pra dizer quem tá errado.
Se você é vascaíno e fulano é flamenguista, dê graças a Deus que não são todos torcedores de um único time, pois não haveria contra quem torcer, não haveria jogo, o futebol seria pra sempre um treino.
Se eu sou negra e você é branco, que diferença isso faz no meu caráter, ou no seu? Talvez menos do que eu usar botas e você sandálias, eu gostar de vermelho e você de verde, eu ouvir samba e você rock. Ou o mesmo tanto: nada.

Porque tudo isso que é usado pra diferenciar é tão superficial, e todos temos só uma vida, morreremos igual... Se ninguém é melhor que ninguém, só os babacas que se acham melhores merecem baldes de água fria. Vamos parar de implicar com quem tem exatamente o mesmo direito de ser e existir como qualquer um de nós, independente de sexo, raça, biotipo, "perfeição física ou mental", time, gosto musical, orientação sexual, profissão (aqui me permito excluir torturadores, assassinos de aluguel e coisas do tipo), cor predileta, sotaque, opinião...

Que não nos sintamos ameaçados pelo (e nem ameacemos o) diferente: é essa a minha bandeira.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Homenagem

Hoje redecorei o blog.
Hoje acordei às 5:40h da madrugada para pegar um avião e retornar a essa minha querida e adorada roça.
Hoje fui renovar meu passaporte e esperei longos tempos na fila, e tomei chuva e tentei, com algum sucesso, proteger-me das nuvens de água que ônibus e carros lançavam aos pedrestes que o destino pôs caminhando sobre a rodoviária na hora do almoço.
Hoje almocei um sanduiche natural bem ruim.

Mas hoje Saramago me fez, como está fazendo há dias, companhia, e para comemorar a inspiração e a nova cara desse blog, permitir-me-ei copiar aqui um trecho de "O homem duplicado", sobre a questão dos subgestos:

"É costume dizer-se, por exemplo, que Fulano, Beltrano ou Sicrano, numa determinada situação, fizeram um gesto disto, ou daquilo, ou daqueloutro, dizemo-lo assim, simplesmente, como se o isto, ou o aquilo, ou o aqueloutro, dúvida, manisfestação de apoio ou aviso de cautela, fossem expressões forjadas de uma só peça, a dúvida, sempre metódica, o apoio, sempre incondicional, o aviso, sempre desinteressado, quando a verdade inteira, se realmente a quisermos conhecer, se não nos contentarmos com as letras gordas da comunicação, reclama que estejamos atentos à cintilação múltipla dos subgestos que vão atrás do gesto como a poeira cósmica vai atrás da cauda do cometa, porque esses subgestos, para recorrermos a uma comparação ao alcance de todas as idades e compreensões, são como as letrinhas pequenas do contrato, que dão trabalho a decifrar, mas estão lá."
E, para finalizar com alegria essa segunda-feira fantástica, um conselho do senso comum saramaguiano:

"Devias saber que estar de acordo nem sempre significa compartilhar uma razão, o mais de costume é reunirem-se pessoas à sombra de uma opinião como se ela fosse um guarda-chuva."

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Cansacinho-fim-de-ano

Sei que o ano está no fim pelo meu cansaço.

Tudo fica chato, a preguiça reina imperiosa, querendo me isolar do mundo.
E é época de festas e confraternização! E eu vou em todas! E me divirto! Mas lá dentro toca o sino que resmunga que preferia estar em casa, longe de tudo, imóvel, calado, deitado.

Não sei de onde me veio a sensação de que a virada do ano dá um reboot na máquina, reinicia, renova, refresca, revive, reanima. Mas me veio, acompanha-me, é quase eu.

O cansaço vai crescendo, acumulando, com os dias de dezembro, e na virada do dia 31 ele some.

Que venha 2012!

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

o gato e a roda

O gato brigou com a roda,
debaixo de uma garrafa!
O gato saiu girando
e a roda toda arranhada!

O gato ficou contente,
a roda foi duvidar!
O gato deu um mugido
e roda não entendeu nada.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Uma lição portuguesa!

Podemos até achar graça e rir, mas há uma sabedoria enorme escondida nas entrelinhas do modo português de falar das coisas.

Vários casos me foram relatados em que, ao se perguntar a um cidadão lusitano se alguma coisa é boa, a resposta é: pra quem gosta, é.

Simples, né?
Ele não é o dono da verdade e nem sabedor do bom gosto universal.
Ele não pensa que seu gosto é preferência intergalática, que se for bom pra ele é bom e ponto, ou que se for ruim ninguém poderá gostar. Ele não dá sua opinião como se fosse a única possível, nem coloca sua vontade como regra.

Ele responde da forma mais óbvia e isenta de julgamentos possível: é bom pra quem gosta, pra quem não gosta é ruim.

Concordo. E tenho dito.

Aniversário da pandemia!

  Brasil. Pandemia. Vai fazer um ano... um ano de isolamento. Um ano de crianças sem escola, um ano de homeoffice . Um ano agradecendo que n...