terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Uma bandeira pra chamar de minha!

Quem me conhece sabe o quanto a "questão de gênero" me ferve o sangue.

A mim, uma pessoa bem sucedida, integrante do sexo e do gênero feminino, bem sucedida no mundo como indivíduo, independente do sexo e do gênero, muita gente nem compreende minhas indignações.

Discuto com homens e mulheres o que é ser mulher no mundo. Eles e elas, discordando de mim, usam argumentos diferentes.

Os homens acham que as mulheres reclamam de barriga cheia, que elas podem tudo que os homens podem, que tem muito mais gente sofrendo muito mais (ex.: negros, pobres, deficientes, feios). Até entendo, eles são homens, é bem dificil mesmo pensar a partir do umbigo alheio... colocar as pessoas em caixinhas tem vantagens e desvantagens, mas posso garantir que as mulheres negras sofrem mais do que os homens negros, e as mulheres pobres sofrem mais do que os homens pobres, e as mulheres deficientes sofrem mais do que os homens deficientes, e as mulheres feias sofrem mais do que os homens feios. Okey, isso não vem ao caso. Sei que eu teria dificuldade de defender que o funk é melhor do que a MPB, está fora do meu espectro possível de compreensão, então entendo que temos um limite até onde conseguimos compreender o diferente (mas aceitar é diferente de compreender!)

As mulheres que me contextam dizem que tá tudo certo, tudo bom, que o que as mulheres conquistaram nessas várias décadas de lutas só fez tirá-las da paz que era ter "de graça" um lar e um marido pra chamar de seu, que estamos pior agora, ou que já estamos bem demais, melhor do que poderíamos querer. Também me dizem que homens e mulheres são diferentes e pronto (porque Deus quis, ou porque a natureza fez assim), e que buscar algumas igualdades é absurdo (e deixam nas entrelinhas que acham "natural" a mulher ceder mais, ser mais submissa, mais doce, mais pacata, mais amorosa, mais meiguinha, mais frágil, mais dependente). Esses argumentos fervem ainda mais meu sangue (elas são também mulheres, oras bolas!) mas busco compreender que o discurso do "senso comum" se entranha mesmo nas cabeças das pessoas aparentemente mais bem esclarecidas, e quem nem todos sentem na pele as dores que eu consigo sentir.

Dito tudo isso, e não me excusando de entrar nos debates sobre gênero que frente a mim aparecerem, posso afirmar: NÃO SOU FEMINISTA.

Não é essa a bandeira que quero chamar de minha, não é só contra o machismo que levanto minhas armas, porque isso é um pedaço pequeno do problema que me incomoda.

Voltando a(o)s negr@s, pobres, deficientes, fei@s, acrescentando a el@s @s homossexuais, bissexuais, transexuais, obes@s, carecas, albin@s, idos@s... o que realmente me aflige é que tod@s ess@s sofrem preconceitos e discriminações de indivíduos que, por não terem aquela característica específica que @s coloca nesses grups de "minorias" (minoria não como um conceito matemático, mas social), se sentem superiores e, pior, no direito de externar essa superioridade.

Minha bandeira é pela aceitação da diferença, da diversidade. Que ninguém se sinta obrigado a deixar de ser o que é, que ninguém se sinta ameaçado pelo estranho, pelo novo, pelo não igual. A luta que, para mim, faz sentido é a luta pelo fim do encrencamento com o umbigo alheio.

Se sou espírita e você é crente e ela é budista e ele é muçulmano, que Deus desça aqui na Terra "em pessoa" pra dizer quem tá errado.
Se você é vascaíno e fulano é flamenguista, dê graças a Deus que não são todos torcedores de um único time, pois não haveria contra quem torcer, não haveria jogo, o futebol seria pra sempre um treino.
Se eu sou negra e você é branco, que diferença isso faz no meu caráter, ou no seu? Talvez menos do que eu usar botas e você sandálias, eu gostar de vermelho e você de verde, eu ouvir samba e você rock. Ou o mesmo tanto: nada.

Porque tudo isso que é usado pra diferenciar é tão superficial, e todos temos só uma vida, morreremos igual... Se ninguém é melhor que ninguém, só os babacas que se acham melhores merecem baldes de água fria. Vamos parar de implicar com quem tem exatamente o mesmo direito de ser e existir como qualquer um de nós, independente de sexo, raça, biotipo, "perfeição física ou mental", time, gosto musical, orientação sexual, profissão (aqui me permito excluir torturadores, assassinos de aluguel e coisas do tipo), cor predileta, sotaque, opinião...

Que não nos sintamos ameaçados pelo (e nem ameacemos o) diferente: é essa a minha bandeira.

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