sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Saudade com datas marcadas.

A areia ainda está morna e macia, tão gostoso caminhar...
O sol está perfeito e a brisa refresca na medida exata pro calor que o corpo sente.
Momentos felizes! E não é por hoje ser sexta-feira, não só por isso...

Acontece que o tempo passa depressa quando se caminha nessa areia fofinha, e logo mais ali na frente, no caminho onde ando, há uma rampa. Ladeira íngreme, morro acima, chão de brita, sofrimento para um par de pés descalços.

Eu poderia desviar? Pouco importa, pois não quero: escolhi (e escolho novamente, a cada novo aparecer do sol no horizonte)este caminho, ele é o meu caminho.

Vejo a ladeira se aproximando e já sofro... não há como preparar meus pés, eles vão doer. Vão se machucar, eu sei, e sigo...

Então me esforço agora pra curtir a areia tão aconchegante abraçando esses pés que vão sofrer... Sei que do alto do morro a vista será linda, e o chão voltará a ser macio!

Lá em cima, quando acabar o tempo da ladeira da saudade, meus pezinhos poderão novamente descansar e sorrir... e o caminho, esse meu caminho, continuará sendo assim tão bom, novamente escolhido a cada bom dia do sol na janela...

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

o amar o amor

O amor é lindo. Poucas coisas são mais homogeneamente divulgadas e sabidas na face desta Terra.
O amor faz sofrer. Isso também é de notório conhecimento público, mas como é ruim, sempre que podem as pessoas só enaltecem o lado bonito.

E aí surge um amor ao amor. Na época de romantismo idealizado em que vivemos, tornado de abstrato em concreto com Romeu e Julieta de Shakespeare, nada é mais amado que o amor. Nem o dinheiro é tão amado e idolatrado salve salve e perseguido!! Porque o amor é lindo e traz felicidade!

Assim, as pessoas buscam amor.
Preste atenção: elas não buscam amAAAr. Elas buscam amOOOr.
Não querem o trabalho de construir... época fast food, fast love... será que não dá pra comprar pronto?
As pessoas querem o objeto amor, que se tornou um substantivo comum, contreto e desejável. Quaaaaase adquirível. Quase, pois não se compra amor genuíno (embora o genérico esteja a venda, como tudo que é genérico...)!

Não está entendendo? Falo do culto ao amor! Mais do que sentir prazer em estar em companhia de um ser especial, mais do que estar feliz por ser parte da felicidade de um outro alguém, as pessoas amam aquilo que chamam de amor! Querem dizer ao mundo todo que estão amando, pela sensação de ter enfim um bem tão precioso (elas não querem gritar pro mundo todo que fulaninho é tuuuudo de bom). Porque deixam de ver o outro e vêem o amor, essa coisa sólida, translúcida, como um vidro colorido que deixa o outro tão bonito que é preferível ver o vidro do que o outro, ali, do outro lado, que te olha mas que às vezes também nem está te vendo...


(ps.: isso tudo veio de um anuncio de um artista que faz esculturas sob encomenda dos animais de estimação dos outros, para os outros poderem exibir uma estátua do seu amor! Particularmente, acho que o ser amado prefere a parte dele em carinho...)

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

blablablá clichê

Sabe aquele blablablá que sempre fez sentido, você sempre ouviu, sempre achou bonito, mas que um certo dia específico ele parece entrar por outro lugar que não os ouvidos ou olhos e vai parar direto no coração?? (o simbólico!)
Pois é. Eu adoro clichês. Gosto também das versões mais elaboradas dele, hoje chamadas de 'Livros de Auto-ajuda'. Eu deveria ter vergonha de declarar isso? Ah, sei lá... fuck o mundo e a opinião que ele acha que eu devo ter das coisas, eu gosto de livros de auto-ajuda e de clichês e acho que quem não gosta é porque NUNCA ouviu com o coração e perde oportunidades diárias, quiça horárias, de ter uma vida melhor.

Voltando ao início, e levando em conta acontecimentos e humores das últimas 24 horas, uma dessas frases clichês (não confundir com chiclês) me veio do além e me acertou em cheio, como se fosse um cocô de pombo num dia especial e de azar! "Hoje é o primeiro dia do resto da sua vida!" A-ha! O primeiro! O começo! O iniciozinho de tudo que virá depois!!!!


Por que hoje? Porque estou feliz! Porque é sexta, e é ótimo que o primeiro dia do resto da minha vida seja então meu dia preferido na semana! Porque estou em uma sala onde o telefone não toca! Porque acordei com uma vontade danada de mandar flores ao delegado, de bater na porta do vizinho e desejar bom dia e de beijar o português da padaria (opa!! isso não!!!! kkkkkkk)! E aí dei bom dia (olhando nos olhos e sorrinnnnnnndo, coisa rara pra quem absorveu um pouco do pior lado de ser brasiliense) pra todas as pessoas com quem esbarrei pelo caminho, e com as quais sempre esbarro e nunca cumprimento... Porque hoje é dia de samba! Porque estou fazendo um trabalho de criação e produção intelectual que poderá mudar uma partezinha do mundo! Porque ontem eu dei o primeiro meio passo para o que pode ser um novo futuro!! Porque o dia tá lindo! Porque quem eu amo também me ama e eu amo quem me ama! Porque meu almoço foi made by me e estava um desbunde de gostosura! Porque tem tanta gente legal no mundo!! Porque minha cama é uma delíciaaaa, e eu a amo mesmo quando acordo descadeirada como hoje! Porque aquela história de cuidar do jardim ao invés de caçar as borboletas é verdadeira! E é verdade que quando a gente sorri, o mundo sorri de volta! E é verdade que só podemos mudar a nós mesmos! E que quem espera sempre cansa! E que mais vale um brigadeiro na boca do que dois espatifados no chão! E, principalmente, porque tudo continua igual, mas parece que eu estou vendo diferente...

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

As figuras do mundo

Sempre me encanto pelas pessoas, passantes na rua, que são diferentes. Aquelas que parece que apareceram aqui por meio de algum portal que as trouxe de outro tempo, de outro lugar no mundo, ou de outro mundo. Encanta-me a diferença, a esquisitisse.

Ontem almocei em um restaurante 'ce-si-serve-se' e apareceu um senhor com cabelos alisados, corte meio chanel, um bigode daqueles dignos de se chamarem bigodão, uma calça bege e uma blusa meio bege, com listras. Fantástico. Não consegui desgrudar os olhos do homem até que ele se sentasse atrás da pilastra. Tenho vontade de conversar com essas pessoas, elas devem ser muito interessantes!

Tipo o senhorzinho que vejo da janela, sentado no ponto de ônibus, com chapéu preto de cowboy, óculos escuros e uma sacola de feira metalizada. Ou a moça que, independente da hora, do sol ou do calor, andava pela faculdade com um sobretudo preto de feltro e botas do exército.

É lindo que nesse mundo tão visual, onde as aparências são tão valorizadas e comercializadas, massivamente induzidas, esse mundo de modas e estética, algumas pessoas consigam não se misturar, permanecer impermeáveis. Sempre me pergunto se elas se mantém puras também em relação ao que pensam, e ao modo como pensam... Puras, apesar de imersas nesse mundo...

Gostaria de saber... eu, que já várias vezes achei que estava separada, que eu era só o que eu mesma queria ser, e que a cada dia que passa mais percebo o mundo entranhado em mim, gostaria de saber se elas não se acham estranhas... Se sentem-se bem sendo diferentes do que o "mundo" espera que elas sejam!

Eu não consigo... Estou poluída. Tenho minha bota roxa, mas me falta a coragem de ser vista com ela. Os olhares que me espelham minha estranheza me afetam, e eu passo por cima de mim pra me sentir normal...

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

grrr.

Eu era uma pessoa que me achava tranquila. De verdade.
E calma, além de tranquila. Eu não sentia raiva, eu não brigava com as pessoas. Eu era bem humorada e simpática e leve e calma. Eu era uma farsa.

Ok, a máscara caiu. Não foi fácil, não foi barato, mas sofrimentos e sessões incontáveis de terapias depois eu não sou mais aquela. Ainda tenho momentos "teletubbie", mas aquela velha Adriana, ou aquela Adriana mais nova, não existe mais.

A nova Adriana, mais velha, essa que vos escreve, é um poço de ansiedade.
Eu enrolo, mas com prazo marcado (to com preguiça, daqui a 47 minutos eu faço).

Eu quero saber a que horas as coisas, todas elas, acontecerão, pra eu me programar, porque sou muito desorganizada e tenho mania de organizar meu tempo.

Eu quero que as pessoas não me façam várias vezes a mesma pergunta... uma vez ok, respondo super solícita e simpática! Duas vezes, tá, ok, respondo calmamente. Passou da quarta vez, não responderei sem sentir ódio. Desculpa, não consigo. Posso no máximo tentar disfarçá-lo (e tentarei), mas já não sou tão boa nisso, então talvez a pessoa perceba. E se, depois disso, a pergunta for repetida, eu vou sentir ódio ao ver que meu ódio não faz com que as pessoas aprendam a resposta da pergunta e nunca mais a repitam! Sim, ódio. ÓDIO. Não vou xingar, nem mandar pra lugares feios, mas não espere me ver sorrindo no minuto seguinte.

Além de raivosa, sou impaciente. Não com tudo, mas com algumas coisas. E com essas coisas, esperar me aborrece.

E quero mesmo as coisas feitas com um certo grau de qualidade. Não precisa ser perfeito não, mas o mínimo, mínimo, por favor. Minha paciência com a burrice não é algo que possa ser considerado virtude quando essa burrice faz com que eu gaste muito mais tempo do que o necessário.

Então o tempo tá passando, minha vida ta passando e eu poderia estar fazendo mil outras coisas mais interessantes, importantes e legais, mas me desgasto organizando um lugar que me desperta ódio e irritação.
Porque eu gosto das pessoas (no sentido amplo), consigo ver qualidade em qualquer um, e me apegar às qualidades pra achar alguém legal e tal, mas hoje não. Incrível, hoje todos estão sem qualidades, fazendo perguntas bobas, reclamando sem motivo. Tá, eu sei, se são todos, o problema sou eu. Não nego.

O problema SOU EU.

Se ao menos saber disso ajudasse a resolver...

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

a saudade no espelho

Eu e meu querer entender somos gêmeos siameses. Nasci com isso, nunca me vi sem estar fazendo perguntas sobre tudo que não entendia.

Acabei de me lembrar que as músicas foram alvos constantes de minhas eternas dúvidas. E particularmente, acabo de me lembrar de uma que sempre me causou especial inquietação. Porque isso eu queria MESMO saber, ia ser algo de utilidade infinita!!!!

E a pergunta é: pra quem ou o que o Renato Russo escreveu

"e é só você que tem a cura pro meu vício de insistir nessa saudade que eu sinto de tudo que eu ainda não vi..."

Eu preciso saber!!! Porque sofro do mesmo mal, tenho o mesmo vício, essa melancolia em relação ao futuro, como se ele tivesse ficado pra trás e fosse dele que eu sentisse mais falta!! Eu sinto FAAAAALTA do meu futuro, porque amo ele tanto!!! Que saudade que tenho das coisas que ainda não conheço!! Gente do céu, chega é doloroso!!!

Do que passou não tenho muita saudade não... sinto só saudade das pessoas que mais amo e que agora estão longe, por um motivo ou por outro, mas são poucas pessoas nesse seleto grupo. Do resto, não sinto saudade. Nem de onde morava, nem de onde estudava (zero saudade.), nem do que comia, nem das músicas que ouvia (até pq posso ouví-las... rs..), nem dos desenhos da TV, pq com o tempo tomei abuso da TV e pra mim ficar longe dela é quase sempre a melhor opção. Saudade de quase nada do que vivi.

Mas e do que ainda não vi? Meu peito chega aperta!! Sou tão feliz no futuro!! Gente, é tanto amor, tanta alegria, tantos pensamentos super, tanta coisa que eu sei, tanto lugar que eu já fui, tantos abraços que eu dei, tanta coisa que já pensei, e idéias que tive, e diferença que essas idéias fizeram! E como sou calma lá?? Nossa, eu sou muuuuuito menos ansiosa e agitada e brava no futuro! Alcancei a paz que hoje busco desajeitadamente. Ta lá ela, a paz, que saudade!!

Renato Russo, como você pôde partir sem me dizer quem ou o que tem a cura pra esse vício de sentir essa saudade que a gente sente de tudo que ainda não viu???? =(

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O não saber.

O não saber é praticamente tudo que há.

Qualquer coisa que a gente sabe é só um pedaço de toco boiando num lago enorme, cercado de tudo que não sabemos.

Eu estou pra dentro, estava assim ontem. Achei que passaria depois de dormir, mas dormi e acordei irritada. Sei que estou irritada, isso é meu toco. Não sei porque, nem desde quando, nem até quando, nem o que fazer pra passar.

Não sabemos nada do futuro. Do passado, só temos lembranças de fragmentos coloridas e selecionadas pelo nosso estado emocional na hora de lembrar do passado. Do presente, temos alguns tocos flutuantes. Todo o resto é não saber.

O que me incomoda é que eu gosto de saber.
É que sei que não saber me angustia. Saber que não é possível saber tudo que quero, e que quase tudo é não saber, traz um sentimento de que não há chão pra todo lado que quero andar. Vou tropeçar, vou cair, vou esbarrar, e saber disso não me acalma.

Conhecer coisas novas é a minha adrenalina. Quando a vida fica parecida, dia após dia, eu começo a me desanimar e achar tudo chato. Eu quero conhecer mais ou menos 80% de praticamente tudo!! Mas não me interesso em saber 100% de praticamente nada. Não quero ser expert, perfeita, em nada. Quero que os dias do próximo mês não me pareçam os dias desse mês, que se parecem com os dias do mês passado.

Quero ficar parada só o tempo suficiente pra achar que já conheço isso aqui, e depois andar mais um pouco, montar acampamento mais ali adiante, e assim seguir parando e andando e parando e andando... nunca só andando, nunca nunca nunca só parada. Mas não sei. As pessoas querem saber quem somos, e as opções são os extremos: você pode andar pra sempre, ou ficar parado pra sempre. Não tem meio termo, ou não saberão que etiqueta colar em você, como falar de você, não saberão quem você é. E elas também se incomodam em não saber. Talvez elas só não tenham percebido é que a gente quase nunca sabe de quase nada mesmo...

Problema delas. Não vou ficar parada pra sempre e nem vou andar pra sempre. Se não tiverem um nome pra mim, ou inventam ou então que não me chamem. Serei inominável. Não me importo. Estou pra dentro e aqui já tem barulho demais, conversa demais, discussões demais... estou enlouquecendo na gritaria do meu próprio silêncio, mas ando preferindo a loucura do que a falsa paz de estar no mundo falando sobre o que não me interessa... E o que me interessa? Coisa demais, coisa de menos, coisas sobre o que não se fala, muito mais o "como" do que o "o que", muito mais os motivos do que o rótulo, muito mais o que pode ser mudado do que o que pode ser mantido... Me interessa o movimento, pontuado por imobilidades... Me interessa a fluidez, a ordem do caos, o caos da ordem, buscar regras pra complexidade ao invés de simplificações...

Ah, sei lá... Vai ver é só a tpm...

Aniversário da pandemia!

  Brasil. Pandemia. Vai fazer um ano... um ano de isolamento. Um ano de crianças sem escola, um ano de homeoffice . Um ano agradecendo que n...