terça-feira, 10 de julho de 2012

"O amor na luta contra o preconceito"

O amor na luta contra o preconceito
28/06/2012 |

- Texto escrito por Karen Polaz e J. Oliveira, retirado daqui: http://blogueirasfeministas.com/2012/06/o-amor-na-luta-contra-o-preconceito/

"Escrevemos este post tendo em vista um duplo pano de fundo. Por um lado, hoje se comemora o Dia do Orgulho LGBT. Por outro, lamentamos mais um caso de homofobia e violência, ocorrido no último domingo, quando dois irmãos foram agredidos enquanto caminhavam abraçados. Um deles não resistiu aos graves ferimentos e acabou falecendo.

A partir disso, o objetivo do post de hoje é tecer algumas reflexões sobre o amor LGBT e sobre a importância do amor na luta contra o preconceito. Ao mesmo tempo, também queremos falar com você que, consciente ou inconscientemente, promove a lesbo-, homo- e a transfobia dentre seu convívio social. Em particular, desejamos chegar até aqueles que o fazem de propósito, que desqualificam e humilham um mundaréu de gente que não se enquadra na caixinha hétero/cissexual.

Não dispomos de um total controle por quem deixamos ou não de nos apaixonar. A paixão e o amor são complicados, porque se aproximam devagarinho e, de repente, vêm de uma vez só, fazendo a gente perceber como uma ou mais pessoas exercem um fascínio sobre nós, uma espécie de poder. Com tanto estímulo jorrando por todas as partes do corpo, é quase impossível ficar indiferente. Não tem jeito, o amor chega sem pedir e, muitas vezes, vem para ficar. E se esparrama.

Esse é um mecanismo que ocorre independente de nossa orientação sexual, se somos héteros, bi ou homossexuais, às vezes, até quando já estamos comprometidxs. E acontece, também, independente da vontade alheia. Portanto, se você acha que espancar seu/sua filhx adolescente consiste em um caminho eficiente para que elx deixe de se sentir atraídx por pessoas do mesmo sexo ou que deixe de se identificar com outro sexo que não seja aquele pré-determinado, esqueça, você está agindo muito errado. Ele/ela vai acabar se tornando uma pessoa amarguradx, enrustidx, cheix de pequenos infernos psicológicos, com possíveis problemas sociais e continuará sendo… quem elx é.

Avisamos aos navegantes que é assim. Ponto.

Se a orientação das pessoas não vai mudar segundo a sua vontade, religião, credo ou valores, por que insistir nisso? Por que não aceitar, simplesmente, amar e deixar amar? Como impor qualquer tipo de religião ou regras jurídicas ao amor? Por que a sua forma de amar vale mais que a dos outros? Por que julgar o afeto dos outros a partir do que você considera “normal” e do que você pratica?

Talvez a pergunta a se fazer seja: quem você pensa que é para achar que pode impedir que os outros amem?


Parada do Orgulho LGBT São Paulo 2012. Foto de Nacho Doce/Reuters.
Você não deve saber, mas tente imaginar o quão doloroso é estar em público, ao lado de alguém que se ama, mas, ao mesmo tempo, encontrar um abismo de distância por causa da discriminação. Não poder abraçar, beijar, sorrir pertinho um do outro, dar as mãos, buscar carinho… Tem que fingir que nada está acontecendo para não levantar “suspeitas”, com medo dos olhares repreendedores, do receio iminente da violência. E quanto mais educamos crianças para não conviverem com essas demonstrações de afeto em público, o estranhamento ao vermos namoradxs que não se enquadram no padrão hétero/cissexual continua sendo reproduzido, a sensação de que está “errado”, de que não é “normal” continua ali, viva. Mistificamos o que nos é genuinamente familiar, o amor.

Olhem esses exemplos do que as pessoas que não são hétero/cissexuais devem fazer, todos os dias, para fingir ter uma orientação sexual que não a delas, para não correr o risco de serem discriminadas ou sofrerem violência:

- não demonstrar afeto em público de qualquer tipo;

- evitar olhar qualquer tipo de pessoa com interesse;

- nunca dizer o gênero dx(s) ex e/ou atual(is);

- não fazer comentários que demonstrem sua orientação sexual, seja comentando sobre uma pessoa considerada bonita, usando gírias específicas, falando de lugares exclusivos etc;

- evitar possíveis gestos e “trejeitos” que apontem sua orientação sexual.

Difícil, né? Porém, difícil mesmo é para aqueles que necessitam conviver com essas regrinhas sendo marteladas no corpo inteiro, durante todos os dias da vida.

Por isso, estamos pedindo que o amor seja levado a sério na luta contra o preconceito. Para tanto, temos que tentar ocupar cada vez mais espaços que acolham os trans*, lésbicas, gays e bissexuais, criando um ambiente confortável para que todas e todos sejam aquilo que querem ser. Além disso, o apoio da família e dxs amigxs é imprescindível, a fim de promover um clima de autoconfiança e segurança para que o amor, em suas mais variadas formas, possa acontecer como deve ser: livre.

Vamos fortalecer a causa do casamento civil igualitário — os mesmos direitos com os mesmos nomes —, porque amar não é exclusividade de apenas um tipo de orientação sexual."

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