segunda-feira, 9 de julho de 2012

Real virtual

Eu tenho uma relação estranha com o facebook.
Isso nada tem de anormal, você dirá, o que não existe é ter uma relação normal com o facebook. E eu concordo.

Direi-te então que olho para essa criatura com bastante curiosidade e perplexidade.

Lá estão reunidos grande parte de meus conhecidos e amigos, todos juntos sem se tocar, sem se falar, todos juntos numa única tela. Lá eu vejo uns poucos diálogos, mas centenas de monólogos diários. Lá as pessoas se fazem quem querem ser, "postam" frases que acham legal admirar, notícias que as tocaram e querem compartilhar, fotos de momentos felizes com pessoas queridas. E nesse se construir voluntariamente, escolhendo que pedaços revelar e que pedaços esconder, as pessoas transparecem mais do que gostariam... E demonstram sua carência, parecendo esperar um "boa noite" do mundo quando informam que vão dormir, um "que legal!" ou pelos menos alguns "curti" quando colocam um conteúdo que consideraram fantástico. Lá todos querem dizer ao mundo como deveriam ser para o mundo ser um lugar melhor! E estão todos certos! E todos errados...

Fico me perguntando se essa ansia de se mostrar ao mundo não inibe a necessidade de olhar para si mesmo... É como se falar de si, ou simplesmente postar qualquer coisa, fosse mais importante do que conhecer a si... quantas pessoas pensam três vezes sobre o que postaram, e porque postaram, e o que querem com aquilo, e se vivem de acordo com aquilo que querem que os outros vivam de acordo.

Vejo pessoas que não saem de dentro de si, mas estão lá se expondo, porque isso o facebook permite: você está fora de si e não está fora de si, está lá postado e bem dentro de si mesmo, sem lancar um olhar real ao outro, sem lançar um olhar real a si mesmo, mais preocupado em ser visto do que em enxergar o outro ou a si. Pessoas que não saem de verdade de dentro de si, que talvez acabem por, como disse o poetinha, morrer sem amar a ninguém, dizendo aos outros que quem de dentro de si não sai vai morrer sem amar ninguém. Porque é mais fácil "falar" do que ouvir, sempre foi...

Quando entro no facebook fico procurando em mim qual é a curiosidade que me faz querer saber o que importa aos outros, qual a carência que me leva a querer que saibam que estou ali, qual o afeto que me leva a curtir uns, ignorar outros...

Estar no mundo não é sair de si, conhecer-se a si mesmo e estar em contato com as próprias emoções não é estar isolado do mundo. Saiamos pois de nós, mas carregando conosco nós mesmos, sabendo que mais importante do que o olhar do outro sobre nós é o nosso olhar sobre nós e o mundo.

Ou, claro, posso estar totalmente errada! =)






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