sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Vergonha!

E o que é a vergonha, né?

Acho que vergonha é a gente achar que os outros vão achar que somos menos, porque nos associariam a alguma coisa que julgamos que eles julgam ser ruim.

Eu, por exemplo, fiquei com um pouco de vergonha de vir aqui hoje escrever sobre a novela das 8. Porque assistir redigrobo é algo que considero ser mal visto pelas pessoas que eu considero inteligentes e que quero que me considerem inteligente. Vergonha de ser alguém que se senta na frente da TV e assiste a novela ao invés de estar lendo um livro, pintando um quadro ou tocando piano. Mas, enfim, decepcionar quem nos admira são as cores da estação, vamos ao que íamos:

Tereza Cristina, a psicopata dondoca rainha do Nilo, dona da maior coleção de camisolas rendadas de seda(devem ter outro nome)do universo, e a mais pomposa das vilãs globais! acaba de sofrer um golpe gigantesco. Descobriu que seu pedigree é mais falso que nota de 3 reais e que na verdade ela é filha da empregada da família chique que a adotou e criou. Para ela não há nada mais vergonhoso do que ser filha de uma empregada doméstica. Mas o que mais me chocou é que não foi só ela que ficou chocada: TODOS os personagens se sentiram transtornados com essa descoberta, como se se pusessem na pele da coitada da madame que descobriu não ter sangue azul, e sentissem junto com ela a vergonha que é ser filha da ralé.

E eu me indignei. Que porra de imagem isso passa para a nossa população, que assiste em peso essa e outras novelas? Não estamos em um país onde não há pessoas pobres, humildes e empregadas domésticas, onde todos vivem bem e as pessoas "sem pedigree" são seres em extinção (mesmo que nem isso fosse motivo suficiente para justificar a falta de respeito). Grande parte das pessoas que assistem à depressão da Nefertite genérica são filh@s, maridos, irmãos, irmãs, pais e mães de empregadas domésticas, e inclusive empregadas domésticas. Por mais caricata que seja a história toda, eu sinto que isso é um golpe na auto-estima já tão prejudicada dessas pessoas que acordam cedo pra tornar nossa vida mais fácil. Não só elas, mas todas as pessoas que com seus trabalhos árduos passam perrengues para nosotros termos uma vida mais agradável e "culturalmente interessante".

To brava. To com vergonha da vergonha da Tereza Cristina. E essa vergonha foi maior do que minha vergonha de assumir que vez em quando eu assisto novela, por isso vim aqui derramar pitombas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Aniversário da pandemia!

  Brasil. Pandemia. Vai fazer um ano... um ano de isolamento. Um ano de crianças sem escola, um ano de homeoffice . Um ano agradecendo que n...