segunda-feira, 12 de março de 2012

Neuras.

Anos de terapia, vários progressos visíveis, uma "eu" bem mais feliz e confortável na própria pele e na própria vida, mas algumas neuroses continuam tal e qual.

Uma delas é que fico incomodada quando alguém fala mal de algo que gosto.

Pra começar, eu gosto de muita coisa, e costumo desenvolver um laço meio afetivo com qualquer coisa que me cerca (na verdade, com as coisas que me cercam e que eu gosto). Costumo ainda tentar gostar de tudo que me cerca, e consigo me empolgar com coisas mínimas. Assim, se eu estou em algum lugar, ou tenho alguma coisa específica, provavelmente eu gosto del@. Por exemplo, eu tenho um Ka. Gosto de carro pequeno e acho ele lindo e fofo. Aí vem alguém que eu acho legal e fala que o Ka é horrível e que não presta.

É suficiente pra me dar um trem ruim. Difícil descrever o que é. Eu logo começo a achar que a pessoa não é tão legal quanto eu imaginava. Também fico com raiva dela. E também fico insegura de pensar que talvez ela esteja certa e eu tenha mal gosto. E aí falo pra mim mesma que não tem certo e errado, gosto é gosto, e fulan@ tem todo direito de não concordar comigo. Mas o sentimento ruim continua me roendo por mais um bom tempo...

Essa sensação desagradável é ainda mais forte quando o "objeto" em questão (que eu gosto e do qual se fala mal) é uma pessoa ou um grupo de pessoas por quem tenho amizade ou admiração. As pessoas que estão a falar mal imediatamente despencam em meu conceito. Aconteceu hoje... Duas colegas que hoje trabalham onde eu trabalhava disseram que não suportam trabalhar ali. Penso no "ali" - fiquei 5 anos lá, entre tapas e beijos desenvolvi uma relação excelente com 90% das pessoas do setor e do departamento, e fiquei com raiva delas. Pensei que estar no serviço público não é presente de mãe, e sim um privilégio, e quem te "contrata" te coloca onde precisa de gente, e que me incomoda alguns servidores públicos que se acham especiais demais pra trabalharem em algo que não lhes é divertido. Fiquei meio indignada. Acho que aumentou a minha indignação o sarcasmo delas. Senti como se presenciasse uma traição àquele lugar e àquelas pessoas que me acolheram tão bem.

Se elas não têm direito de estarem insatisfeitas e quererem sair de lá? Claro que têm. Racionalmente sou capaz de isolar as coisas e compreender que estão em seu direito (pelo menos em grande parte), mas o que derramo com essas centenas de letrinhas é a minha sensação ruim, oriunda da minha neura, que é minha. E é ambíguo, já sei, todo esse nó que me dá. Parte grande do meu incomodo, reconheço, é por me sentir imediatamente associada (uma vez que gosto) a coisas que as pessoas (algumas) desgostam, e é como se isso diminuísse meu valor.

Se você não tem esse tipo de neura com certeza não vai encontrar nenhuma lógica em tudo isso. Bom pra você.

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