terça-feira, 13 de março de 2012

É tão bizarro que parece mentira.

2012.
Calendário gregoriano, promulgado por um Papa e utilizado por praticamente todo mundo (o que facilita bastante a comunicação).
Além disso a contagem do tempo que utilizamos o divide em duas eras: antes de Cristo e depois de Cristo. Cristo, Jesus, que como nos contam tentou insistentemente trazer ao mundo uma mensagem de tolerância, amor ao próximo, bondade.

A Igreja, poderosa, se dizendo cristã, fez um monte de coisa errada e má. Ninguém nega. Se colocou como intermediária entre nós, os humanos, e Deus, se dizendo mais próxima Dele do que de nós, e saiu pregando um monte de preconceitos e intolerâncias.

Os anos passaram, a igreja católica perdeu parte de seu poder e seu status, o ocidente conheceu outras religiões, a ciência evoluiu, o capitalismo evoluiu, o mundo mudou e tal, e hoje uma religião está conquistando a cada dia mais espaço: a igreja evangélica.

Procurei no google, a busca por "igreja evangélica" traz 4.150.000 resultados. Não sei se alguém saberia dizer quantas igrejas desse tipo existem hoje só no Brasil, mas são milhares, com certeza. Não são todas iguais, e eu não sou uma conhecedora de religião, então o que me faz hoje parar pra escrever é um fato particular.

O espaço que os evangélicos estão conquistando extrapola o espaço da igreja (igreja como local onde os fiéis se encontram para orar ou outras atividades relacionadas à religião). Os evangélicos têm canais de TV, e um deles é de grande ibope. Os evangélicos têm muito dinheiro, oriundo da fé de milhões de fiéis seguidores. Muito dinheiro = muito poder, e os evangélicos têm uma bancada no Congresso. É aqui que a jiripoca pia...

A bancada evangélica do Congresso, munida de seu poder e de seus preconceitos e intolerâncias,
"apresentou duas proposições legislativas cujo objetivo é legitimar o procedimento intitulado de “cura gay”. Trata-se, em resumo, de permitir que psicólogos possam oferecer aos seus pacientes a possibilidade de transformação de personalidade que os faça heterossexuais. A prática, obviamente, é vedada pelo Conselho Federal de Psicologia (http://institutoalvorada.org/a-cura-gay-no-congresso)".

Cura gay. Como se algum relacionamento consentido e saudável entre dois indivíduos adultos pudesse ser considerado doença. Pois é, não pode. Há anos o homossexualismo deixou de ser considerado uma parafilia (perversão sexual, tal como pedofilia, sadomasoquismo, fetichismo). Não é doença, e não precisa ser curado. Não é doença, não é anormalidade (mesmo que seja incomum, uma não-normalidade estatística), não significa inferioridade em relação aos heterossexuais. Mas preconteito significa inferioridade moral.

Colo abaixo trechos de um post do site focandoanoticia.com.br sobre o assunto:

"...
Cumprindo as suas atribuições, o Conselho Federal de Psicologia, por meio da resolução 01/99, regulamenta a atuação dos psicólogos com relação à questão da orientação sexual.

Considerando que as homossexualidades não constituem doença, distúrbio ou perversão (compreensão similar à da Organização Mundial da Saúde, da Associação Americana de Psiquiatria e do Conselho Federal de Medicina), a resolução proíbe que o psicólogo proponha seu tratamento e cura.

[...]

Vale ressaltar que, a partir da resolução brasileira, a Associação Americana de Psicologia formou um grupo específico para elaborar documentos de referência para norte-americanos e canadenses, reafirmando posteriormente a inexistência de evidências a respeito da possibilidade de se alterar orientações sexuais por meio de psicoterapia.

A discussão sobre a patologização da homossexualidade é comumente atravessada por questões religiosas, já que certas práticas sexuais são vistas também como imorais e contrárias a determinadas crenças.

Entretanto, há que se reafirmar a laicidade da psicologia, bem como de nosso Estado. Isso significa que crenças religiosas – que dizem respeito à esfera privada das pessoas – não podem interferir no exercício profissional dos psicólogos, nem na política brasileira.

Nesse sentido, ao associar o atendimento à pretensa cura de algo que não é doença, entende-se que o psicólogo contribui para o fomento de preconceitos e para a exclusão de uma parcela significativa de nossa população.

Considerando que a experiência homossexual pode causar algum sofrimento psíquico, o psicólogo deve reconhecer que ele é decorrente, sobretudo, do preconceito e da discriminação com aqueles cujas práticas sexuais diferem da norma estabelecida socioculturalmente.

O atendimento psicológico, portanto, deve, em vez de propor a “cura”, explorar possibilidades que permitam ao usuário acessar a realidade da sua orientação sexual, a fim de refletir sobre os efeitos de sua condição e de suas escolhas, para que possa viver sua sexualidade de maneira satisfatória e digna.

* Carla Biancha Angelucci é presidente do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo

* Humberto Verona é presidente do Conselho Federal de Psicologia
(http://www.focandoanoticia.com.br/2012/03/05/conselho-de-psicologia-rebate-bancada-evangelica-sobre-homossexuais-e-diz-que-nao-cabe-cura-para-quem-nao-esta-doente/)"


Como estudante de psicologia eu fico indignada com esse retrocesso moral sendo proposto em nosso centro político. Muito mais bem faríamos à nossa sociedade se pudéssemos tratar as pessoas preconceituosas, mas infelizmente acho que ainda estamos longe disso. As pessoas buscam tratamento quando estão em sofrimento psíquico, quando suas emoções estão em conflito com sua visão de mundo, e os preconceituosos hoje ainda são numerosos demais pra que esse modo absurdo de pensar traga sofrimento a eles mesmos. Vão ainda por um bom tempo causar sofrimento a outros, a pessoas que têm de, dia após dia, lutar pelo direito de simplesmente poderem ser quem são.

Se uma crença ou modo de pensar é bom pra você e não faz mal a ninguém, continue com ele. Mas por favor, não pense que Deus te escolheu pra julgar os outros. Somos todos igualmente especiais e insignificantes, tendo de viver e conviver no mesmo barco...

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