quinta-feira, 8 de março de 2012

Pra quem se fez mulher.

"Não se nasce mulher, torna-se mulher" – Simone de Beauvoir

Então hoje é o Dia Internacional das Mulheres. Mulheres essas que, como dizia John Lennon, são "the Nigger of the World".

Nosso dia, um dia para nos parabenizarem por sermos mulheres, com todos os ônus e bônus que tal modo de existência tem. Dia de comemorações, reivindicações, exposições, debates. Mulheres em foco. E o que é uma mulher, afinal?

Concordo com Simone de Beauvoir, mulher não é quem nasce com órgão genital do sexo feminino.
Mulher é muito mais.
Mulher é aquele pacote de expectativas e qualidades (e defeitos) que cada sociedade coloca associada à palavra mulher. É o olhar carinhoso que nos incentivaram a ter, a fala meiga que nos elogiavam, o cuidado, a delicadeza que não foi reforçada nos homens, mas em nós sim.
Mulher é alguém de quem se espera que faça tudo ao mesmo tempo, agora e depois, com um sorriso colorido de batom nos lábios. Que não extravasa sua raiva de forma agressiva (ou melhor ainda, que nem devia sentir raiva...). Mulher é pra estar cheirosa, bonita, cabelo esteticamente preparado (muda cor, tamanho, formato, textura, volume, cheiro...), roupas que enfeitem, que mostrem ou insinuem ou escondam o corpo que deve ser macio, cheiroso, bonito, com poucos pelos, unhas pintadas, de preferência um sapato de salto alto, que "melhora a postura".
Mulher é objeto de desejo, querendo ou não (será que são mais felizes as que se sentem bem no papel de OBJETO de desejo? Porque mesmo quem não se sente bem não tem muito por onde escapar, tá no pacote de ser mulher na nossa sociedade hoje).
Mulher é pra ser força suave, brabeza meiga, organização e limpeza, colo e abraço e balé.

E dá um trabalho danado se fazer mulher assim. E dá um trabalho danado querer ser uma mulher diferente disso. E é lindo quando um ser humano que nasce com órgão genital masculino percebe que tem alma de mulher e encara a batalha de se fazer mulher também, nesse mundo que fica perplexo em alguém desistir "voluntariamente" de ser homem pra se tornar 'the nigger of the world' assim. São mulheres tão mulheres como nós. Como são mulheres as mulheres que gostam de mulheres, e qualquer pessoa que encare o desafio diário de sofrer na pele a parte de falta da igualdade pela qual lutamos, luta comemorada no dia 8 de março, hoje.

Essa é uma das minhas lutas, eu mulher.

Quiçá um dia alcancemos a real igualdade. Salários iguais para cargos iguais, fim do medo de andar sozinha a noite e ser devorada por um lobo mau como um indefeso cordeirinho, fim das agressões físicas e verbais de homens que se sentem donos desses objetos de desejo, fim do "você não pode porque é mulher" e dos "isso você deve fazer, porque você é mulher". Fim das mutilações genitais, da poligamia unilateral, do jogar pedra na Geni, do puxão de cabelo nas micarês da vida, dos braços quebrados nas boates da vida, fim das mãos indesejadas na bunda, fim das cantadas grosseiras e humilhantes.

Quem sabe, né, se um dia o mundo se ajeita assim talvez até Deus se empolgue e resolva nos livrar das cólicas, TPMs e enxaquecas...

Feliz dia das mulheres para todas as mulheres do mundo, as que são, as que deviam ser, as que se tornaram, as que querem ser e as que ainda serão!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Aniversário da pandemia!

  Brasil. Pandemia. Vai fazer um ano... um ano de isolamento. Um ano de crianças sem escola, um ano de homeoffice . Um ano agradecendo que n...