quinta-feira, 4 de junho de 2020

Todo ódio é ódio igual?

Todo ódio é ódio igual?
Não.
Meu ódio não é igual ao deles.
Por uns instantes me senti mal, e má, e como eles, pequena, raivosa.
Mas não, não é o mesmo ódio.

O ódio deles veio antes. O ódio deles quer importunar a paz, o amor, a leveza. O ódio deles quer destruir, brigar, e se alegra com a guerra. O ódio deles ama a violência, ama, a ponto de conseguir ser violento com quem está quieto. Eles são os que começam a briga, eles são o que xingam antes, e revidam ao xingamento que veio em resposta com um tapa, um soco e um chute.

Meu ódio não é assim. Meu ódio é reação. Tem desejo de vingança, e me doeu ver como estou longe de dar a outra face. Não, não evoluí a esse ponto. Se eu não era quem estava quieta, eu era quem assistia. Assisti a várias covardias. Ofensas a quem estava quieto. O ódio deles, surgindo do centro de seus obscuros e purulentos vazios, sendo atirado a tantos... índios, negros, mulheres, pessoas de esquerda, florestas, ciência, razão... De graça. Para machucar, criar dor, destruir destruir destruir. Eu vi. Muitos viram. Demoramos a acreditar, talvez até tenhamos achado que logo iria passar, ou que alguém faria algo para impedir. Mas não, não pararam. Não foram interditados. E meu ódio veio com força, e cresce agora a cada dia.

Quando ele, meu ódio, inflama, me sinto má: eu seria capaz de atos bem violentos. Como eles são. Mas não, não sou como eles. Não sou um deles. Meu ódio é ódio, mas não é ódio igual.
Porque o ódio que revida uma injustiça não é o ódio começou uma injustiça, que a cometeu. Porque o ódio contra o ódio não é o ódio contra quem estava quieto. Meu ódio nasce da indignação, e não de um vazio na alma. Meu ódio me faz humana, o deles os faz bandidos, assassinos, agressores, genocidas.

Um pedaço de mim tem dó deles: é muito desamor ser capaz de odiar assim, tão gratuitamente, tanta coisa e tanta gente. Pobres diabos... O coração e meio mole, mas a razão me traz de volta: se o desamor deles virasse só sofrimento, virasse pedido de ajuda, virasse arte ou poesia, aí caberia toda a compaixão do mundo. Mas se o desamor deles vira ódio, e destrói, e agride, e machuca, é meu ódio quem entra em cena, puro e justificado, belo e justo, necessário e focado.

Fascistas, não passarão.

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