terça-feira, 5 de junho de 2012

A miséria do amor...

Trechos feitos com base no texto "A miséria do amor dos pobres", de Emanuelle Silva, Roberto Torres e Tábata Berg, capítulo integrante do livro "A ralé brasileira - quem é e como vive", de Jessé Souza:


A realização do amor exige uma “entrega de si”, um enfraquecimento do “eu”, uma suspensão das “máscaras” de força, permitindo que o outro veja nossas fragilidades secretas. Quando não existe essa possibilidade, quando os dois envolvidos não conseguem se permitir essa entrega, muitas vezes por não terem tido em sua infância contato com esse sentimento, “a proximidade do corpo não rompe a rigidez que separa duas 'almas', duas existências que, endurecidas, rompem a possibilidade de comunhão das fragilidades e dos medos que incomodam a todos nós, seres humanos.”

Ainda hoje a forma como homens e mulheres “apreendem” a sexualidade é totalmente diferente. As meninas são ensinadas que seu corpo é sua maior “virtude”, o modo de conseguir o afeto de um homem e assim, de viver o amor romântico tão idealizado e presente nas músicas, novelas e filmes. Assim, aprendem que devem fazer “jogo duro”, negar o sexo para testar o carinho e comprometimento do rapaz. Apesar disso, intuitivamente sabem que a troca de sexo por afeto é sempre desvantajosa, e tentam maximizar, de forma quase sempre inconsciente, o valor de seus corpos e do prazer que são capazes de fornecer para conseguir “prender” os homens.

O amor é tanto mais idealizado quanto mais difícil de se tornar concreto. Como diz Bordieu, “É como se nada fosse realmente impossível enquanto nada é possível”. Mulheres que muitas vezes não tiveram em sua infância um ambiente afetuoso e seguro podem desenvolver uma disposição compulsiva para enxergar carinho e afeto em pessoas e situações que estão fechados para a afetividade.

A atração sexual despertada pelas mulheres nesses contextos onde suas necessidades e fragilidades são desconsideradas simplesmente reproduz, em seus corpos, a objetificação produzida pelo olhar masculino. Assim, “a ‘gostosura’ é o corpo tornado desejado e desvalorizado porque é desejado como mero corpo”.

Como já havia analisado Max Weber, a dimensão afetiva na esfera erótica surge quando, na relação entre homem e mulher, esta adquire uma capacidade de julgar que torna os homens alvo de suas avaliações, e a natureza rude do desejo pela carne pode ser sublimada, criando a possibilidade de uma relação de reciprocidade entre “almas”.

Um comentário:

  1. Olá, sou o Roberto, um dos autores do texto.
    O que voce achou do título? Mt agressivo?
    Hoje usaria outro título, pois o tema nao restringe à "ralé".

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