quarta-feira, 15 de abril de 2020

trinta e um - três - vinte

Trinta e um de março de dois mil e vinte. Terça-feira. Décimo sexto dia de quarentena, isolamento, clausura. De dias úteis, décimo segundo.

Causa da quarenta, COVID dezenove. No Brasil, hoje, às seis horas da manhã, quatro mil seiscentos e sessenta e um casos confirmados de infecção, cento e sessenta e cinco mortos.

Números. Sempre os amei. Nos momentos incertos e históricos como o que vivemos, eles são a estabilidade, a ordem, um calmante. Mesmo crescentes, eles são exatos. Somos mais de sete bilhões de humanos hoje. Há séculos vivemos por aqui, destruindo, construindo, adoecendo, nos curando, morrendo morrendo morrendo e seguindo por aqui, vivendo e fazendo arte, vivendo e fazendo guerras, sofrendo, dançando, amando, xingando, trabalhando. Milênios. Dois mil e vinte anos depois de Cristo, em nosso calendário católico.

As crianças estão em casa desde antes, desde o dia doze de março, e portando há catorze dias úteis, sem aula. São duas as crianças, e elas brincam e brigam o tempo todo, coisa de criança. Sabem do Coronavírus, abstratamente. Sentem falta dos avós, dos primos, dos amiguinhos, do parquinho, do clube. Mas estão com pai e mãe e vendo mais desenhos animados, estão bem.

Para além dos números, se saio deles, se foco nas palavras “mortos”, “infectados”, “dificuldade respiratória”, saindo dos números me entristeço mais. Já tive asmas e é só pensar em respirar mal que respiro mal, assim como falar em piolhos faz a cabeça coçar. Memórias do corpo.

Para os números, a pergunta é “quantos mais?”. Para o calendário, “até quando? Quando voltaremos ‘ao normal’?”. Mas para além do que é estável, exato, lá onde a angústia aparece, as perguntas se tornam mais complexas: “Quem morrerá? Como sairemos dessa situação, como seremos após tudo isso? Conseguiremos andar tão despreocupados quanto éramos até anteontem em lavar as mãos, sentar no chão, abraçar as pessoas?”.

Para todas as perguntas, a resposta está para além. Depois da travessia. Aguardando os sobreviventes.

Sobrevivamos.

puxado de publicação no https://decirblog.wordpress.com/

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