segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Tempos líquidos!

Ontem comecei a ler "Amor Líquido", de Zygmunt Bauman, e me assustei.

Eu, que tanto penso e reflito e contesto, sou apenas mais um indivíduo que retrata as angústias dos tempos atuais.

Eu, que sou incapaz de gastar valores extratosféricos (próximos a um salário mínimo) com uma bolsa ou sapato, que não gosto de roupas caras, eu que não troco de carro todo ano e nem gosto de modelos caros, eu que faço minhas unhas eu mesma em casa, e que tenho como objeto de maior volume de compras os livros! essa eu, que em comparação com o mundo ao redor se acha pouco consumista, sou apenas mais uma criatura da pós-modernidade. Que cosa triste.

Sou só mais um ser sofredor e angustiado e líquido! Ó céussss! Há solução??????

Vou prosseguir a leitura pra ver se encontro...

Talvez eu deva primeiro explicar em que consiste essa coisa de líquido, né?

No que diz respeito aos relacionamentos, Bauman fala de como a modernidade líquida e fluida traz consigo uma fragilidade dos laços humanos. A fragilidade gera insegurança, e a insegurança estimula desejos conflitantes de se estreitar os laços (prendendo-se mais ao ser amado, buscando sufocar o medo de perdê-lo) e ao mesmo tempo mantê-los frouxos (pois só assim nos manteremos individualizados, uma obrigação do ser humano da nossa época, e livres, inclusive para estabelecer novos relacionamentos mais "lucrativos").

O que queremos? "Algo como a solução do problema da quadratura do círculo: comer o bolo e ao mesmo tempo conservá-lo; desfrutar das doces delícias de um relacionamento evitando, simultaneamente, seus momentos mais amargos e penosos; forçar uma relação a permitir sem desautorizar, possibilitar sem invalidar, satisfazer sem oprimir..."

Mas Bauman fala de uma outra verdade incontestável (e que me parece pouco percebida...): pular de relacionamento curto em relacionamento curto (ele diz que a palavra "relacionamento" nem cabe mais, o que existem agora são conexões/desconexões em uma rede enorme de indivíduos) não ensina as pessoas a amar nem possibilita que experimentem várias pessoas antes de encontrar A PESSOA com quem devem sossegar. Pular de conexão em conexão ensina tão somente a pular de conexão em conexão. É um ciclo vicioso, e esses indivíduos estão a cada pulo menos preparados pra realmente se relacionar e AMAR.

E o que é o amor? "Eros é 'uma relação com a alteridade, com o mistério, ou seja, com o futuro, com o que está ausente do mundo que contém tudo o que é...'. 'O pathos do amor consiste na intransponível dualidade dos seres'. Tentativas de superar essa dualidade, de abrandar o obstinado e de domar o turbulento, de tornar prognosticável o incognoscível e de acorrentar o nômade - tudo isso soa como um dobre de finados para o amor. Eros não quer sobreviver à dualidade. QUANDO SE TRATA DE AMOR, POSSE, PODER, FUSÃO E DESENCANTO SÃO OS QUATRO CAVALEIROS DO APOCALIPSE."

O amor não suporta com leveza a vulnerabilidade (saber que o outro pode ir embora, deixar de amar...), mas quando triunfa em seu intento de subjugar (enterrando as fontes de sua precariedade e incerteza, dominando ao outro, fundindo-o a si) é quando encontra a sua verdadeira derrota.

Amar causa insegurança, mas eliminar a insegurança é eliminar o amor.

Será que há solução?

...

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