sexta-feira, 25 de maio de 2012

Um não-samba para uma sexta

Hoje é sexta-feira, e eu queria saber fazer samba.

Bate à porta da minha cabeça toda uma vontade, uma inspiração, um batuque pronto, mas eu não consigo atender, não consigo entender, eu que não sei fazer samba. Um samba pra sexta, um samba dos bons, que vai morrer mudo por bater na porta errada...

Pobre samba que ninguém conhecerá, que nunca será cantado, que nunca sera sambado, que nunca embalará um coração. Pobre samba meu, que por ser meu nunca será, eu que nunca aprendi a fazer samba.

Ele insiste, bate, e eu ofereço: "queres um desenho? Isso posso tentar fazer, estou enferrujada, mas posso tentar te desenhar! Quer??"

Tiquidum, tiquidum, squindô - o que isso quer dizer? Eu não entendo! Eu que já ouvi tantos sambas ainda não aprendi a lingua com que os sambas falam, não sei ouvir direito, eu que nem sei sambar!!!

Meu amor ao samba é um amor que se regala dos sambas escritos, aqueles que bateram às portas das cabeças corretas, que viraram música nas mãos e vozes de tanta gente boa... Meu amor ao samba se satisfez ontem de ouvir um samba de Chico Buarque (que é o toque do meu celular) sendo cantado pelo grande Zeca Pagodinho.

Meu amor ao samba vive do samba dos outros, um amor parasita, um tipo de amor que é pobre e às vezes nem é honesto (vivao Chico!)...

Dedico então a esse batuque pronto que errou de porta o samba que me alegrou ontem, um samba que é a cara do meu amor pelo samba:

Amor Barato
Chico Buarque

"Eu queria ser
Um tipo de compositor
Capaz de cantar nosso amor
Modesto

Um tipo de amor
Que é de mendigar cafuné
Que é pobre e às vezes nem é
Honesto

Pechincha de amor
Mas que eu faço tanta questão
Que se tiver precisão
Eu furto

Vem cá, meu amor
Aguenta o teu cantador
Me esquenta porque o cobertor é curto

Mas levo esse amor
Com o zelo de quem leva o andor
Eu velo pelo meu amor
Que sonha

Que enfim, nosso amor
Também pode ter seu valor
Também é um tipo de flor
Que nem outro tipo de flor

Dum tipo que tem
Que não deve nada a ninguém
Que dá mais que maria-sem-vergonha

Eu queria ser
Um tipo de compositor
Capaz de cantar nosso amor
Barato

Um tipo de amor
Que é de esfarrapar e cerzir
Que é de comer e cuspir
No prato

Mas levo esse amor
Com zelo de quem leva o andor
Eu velo pelo meu amor
Que sonha

Que, enfim, nosso amor
Também pode ter seu valor
Também é um tipo de flor
Que nem outro tipo de flor

Dum tipo que tem
Que não deve nada a ninguém
Que dá mais que maria-sem-vergonha"

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