"Saber amar é saber deixar alguém te amar..."
O que a gente sabe do amor?
Como saber se amamos?
Como saber se somos amados?
Como são essas duas sensações?
Fazer um curso de psicologia é se deparar com pensadores fantásticos que se dedicaram a buscar explicações pra "o que é o ser humano, do ponto de vista não orgânico". E ao ler suas teorias, é impossível não se sentir automaticamente sendo analisado...as pessoas passam a revisitar seu passado, o que formou sua psique, acompanhados de Freud, Jung, Klein, Winnicot, Skinner, Reich, Lacan...
Eu ando revisitando tudo. Resultado? Se haviam certezas, foram todas destruídas.
Cada vez mais dúvidas...
É inquietante pensar que aquilo que a gente orgulhosamente e cheio de si chama de "eu" não é muito mais do que um quebra-cabeças de afetos passados, unido por misturas de interpretações e explicações que criamos por necessidade de poder dizer "eu".
Perceber que vários de nossos atos e sentimentos hoje são ainda repetições de defesas da criança indefesa que fomos...
Freud "explica", tudo tudo. Lacan, freudiano, explica diferente, mas nem tanto...
Nós nos constituímos na falta...
É mais ou menos assim:
Estávamos bem felizes dentro dos úteros de nossas respectivas mães, mas crescemos e tivemos que sair de lá...
Ao sair, nossas respectivas mães, umas mais e outras menos, nos deram peito, carinho, colo, calor, leite, atenção, conforto... Durante alguns meses a gente nem notava diferença entre nós e nossas respectivas mamães, nos nossos pequeninos cérebros elas eram nosso cordão umbilical, grudado em nós, nos nutrindo...
Mas um dia, não muito de repente, a gente se frustra! Mamãe é mamãe e eu sou eu (e você é você, e não é a mamãe). As Mamães, que eram tão apaixonadas e viviam em função de seus respectivos bebês (nós), um dia se desapaixonam... A vida delas não somos só nós! Mamães tem outras coisas pra fazer, cuidar dos papais, dos irmãos (eu não tive isso, porque nasci antes...), das casas, do "mundo", dos trabalhos e tals... Mamães tem outras necessidades que nós, seus bebês, não podemos preencher. Mamães têm uma FALTA, um buraco no peito, na alma, uma incompletude, que nós, bebês lindos-fofos-cheirosos não podemos resolver.
Aí subitamente percebemos que também temos um buraco na alma! Se não completamos as nossas respectivas mamães e elas não mais nos completam, acabamos de dar de cara com nossas próprias faltas, buracos e incompletudes!
Óbvio que isso é muito desesperador. Por que a gente tem que crescer?? Por que um buraco na alma? Ah neeem...
Aqui a história precisa passar a ser contada por pelo menos dois lados. Um é o dos pais (agora papai já existe também), que vêm com suas incompletudes e faltas a tiracolo, e têm o dever de nos educar, proteger, cuidar, fazer com que sejamos bons seres humanos (no ponto de vista deles), e nos amar também.
Outro é dos bebês (nós), que não param de crescer, e que precisam e querem ser amados. Pra eles, só o "amor" pode tampar o buraco, e eles (não se esqueça, somos nós) são capazes de tudo, tudinho, pra receber amor e atenção, pra ver se conseguem se sentir completos de novo, um tiquinho só que seja. Só que a gente não sabe muito bem a cara do que nos completa, nem a cara que o amor tem.
Então passamos a tentar definir o que é amor... e aí começam os problemas. Naquela relação com nossos papais e mamães, passamos a dar uma cara ao que é "AMOR", e cada um define de um jeito: sou amado quando fazem o que quero; sou amado quando me elogiam; sou amado quando notam que eu existo, nem que seja na hora em que me batem; sou amado quando sou obediente; sou amado quando me aceitam e não me pedem pra ser diferente; sou amado quando riem do que faço ou falo; sou amado quando me calo; sou amado quando confiam em mim; sou amado quando ficam no meu pé o tempo todo; sou amado quando querem me melhorar, e querem que eu seja diferente...
Percebe o nó?
Por isso às vezes (muito mais do que gostaríamos), quando estamos dando ao outro algo que chamamos de "amor", ele não se sente amado... e o que nós recebemos dele também não nos parece muito com "amor"...
A verdade, se há alguma, é que ninguém é capaz de completar o outro, de eliminar a falta que o outro carrega... e, infelizmente, nem de ter a própria falta desfeita...
Vivamos com isso: nunca seremos completos.
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eu não acho e ponto final. acho que a corrida em direção vazio é a mais dolorida que existe, mas não sei se nunca seremos completos(mesmo que alguém mais importante que eu disse antes...)
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